Poderia ter sido muito pior.
Esse era um mantra que Bill vinha repetindo desde que saiu da casa de Andrea e Donald Uris, com a certeza de que o quarto seria seu. Bill deveria estar saltitando nesse momento, correndo para o loft de Beverly e Eddie e gritando as novidades por cima da chuva de gagueira. Mas seu coração ainda batia no peito com a adrenalina de esperar que, a qualquer momento, a porta da casa se abriria e Stanley Uris, seu atual Alguma-Coisa-Além-De-Amigos entraria, comentando com a mãe sobre o trabalho cansativo ou contando sobre as peças de teatro que estreariam na semana, até enfim notar a presença de Bill e chutá-lo para fora da casa depois de chama-lo de stalker tarado e babaca.
E Bill realmente se sentia a porra de um stalker tarado e babaca por passar uma tarde inteira ao lado de Andrea Uris contando sobre sua vida e suas qualificações para ficar no quarto temporário.
Oras, o que poderia fazer afinal?! Estava quebrado, sem teto e sem chance de voltar para casa. Queria mostrar aos pais que era independente e que poderia viver de arte, e estava indo muito bem nisso, obrigado, até aquele cretino do Oliver Gray chutá-lo.
Mesmo assim, Bill não conseguia ficar calmo sob as circunstâncias. Andrea garantiu que lhe daria uma resposta até o dia seguinte, pois precisava avaliar as referências de Bill e conversar com o marido, ainda que ela praticamente garantisse a reserva para ele.
— Que m-merda eu faço a-agora...? — Bill soltou um suspiro audível, pegando o celular do bolso ao se sentar no balcão de um pequeno pub.
Bill ainda insistia para sua mente bagunçada que poderia ser pior. Stanley não apareceu em nenhum momento, e Donald surgiu no final da entrevista, trocando uma conversa rápida e amigável com Bill. Parecia tão fácil lidar com eles; era como falar com uma versão mais velha de Stan, talvez um pouco mais séria e mal humorada, mas ainda bem educada. Donald Uris não era de todo mal, e Bill de repente se perguntou se eles lidavam bem com o fato do filho ser gay.
Ou será que Stanley nunca dissera nada a eles? Talvez eles não tivessem ideia, e quando vissem Bill junto de Stan, expulsariam os dois da casa e Stanley terminaria tudo por ficar aborrecido demais com os atos impensados de Bill.
Cada ângulo da qual tentava enxergar a situação parecia não ter uma saída boa para sua futura relação, e Bill se esparramou pelo balcão como se aguardasse a morte levar sua alma naquele minuto.
— Meu Deus, Bill. O que aconteceu com você? Me diz que pelo menos já está bêbado pra todo esse drama.
Bill ergueu a cabeça no instante que a voz de Ben Hanscom chegou ao seu ouvido. O garoto sorria, mas Bill conseguia ver o brilho de preocupação nos olhos castanhos, o que achava um toque adorável de Ben. Ele sempre parecia preocupado com os outros.
— Ainda não, m-mas estou cogitando umas garrafas de c-ci-cerveja — Bill respondeu num murmúrio, e sua atenção se voltou para as canecas vazias na mão de Ben. — Acho que n-não sou o único a q-querer afogar a v-vu-vida no álcool uh?
— Hum? — Ben baixou a cabeça para onde Bill apontava. — Ah! Não, isso não é meu. Eu trabalho aqui.
Bill levantou as sobrancelhas.
— Trabalha? Achei que fu-fosse se focar na f-faculdade.
Ben deu a volta no balcão e colocou as canecas vazias numa janelinha discreta, onde algum funcionário as pegou para lavar. Bill viu Ben tirar uma garrafa gelada de cerveja de um refrigerador e lhe entregar.
— Aproveita, está na promoção — Ben sorriu, e Bill agradeceu antes de beber direto do gargalo. — Minha mãe está com alguns problemas em casa, então eu resolvi começar a trabalhar meio período pra ajudar. A bolsa da faculdade não alivia todos os problemas.
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Despejado
Fanfiction"Não existe situação ruim que não possa piorar" era a frase que definia a vida de Bill Denbrough. Com a carta de despejo na mão e seu relacionamento em jogo, ele precisava pensar em um novo plano, e precisava ser rápido. E quando a primeira luz surg...