Lisa estava realmente curtindo sua semana. Pela primeira vez em muito tempo, não estava totalmente focada em suas obrigações e deveres. E tudo isso, graças a Adam.
Eles estavam se conhecendo bem. Saiam quase todos os dias depois do trabalho, exceto quando pegavam plantão ou havia algum imprevisto que os impedia de se verem -coisas bem sérias, obviamente, já que nem o mais forte dos temporais os privou da presença do outro.
Adam era como um sopro refrescante no corpo de alguém que passou semanas enclausurado em um porão abafado. Sua alegria e bom humor eram contagiantes, assim como os momentos em que uma personalidade mais ácida se apresentava.
Estar com ele era como fugir do mundo sem, realmente, tirar os pés do chão -afinal, sua presença constante também a lembrava de seus deveres como policial.
Os dois se davam surpreendentemente bem, apesar do clima profissional não ser dos melhores, já que Wiles ainda tinha o péssimo hábito de chegar atrasado a qualquer compromisso que não fosse um encontro com Lisa.
Ainda assim, seus dois lados -profissional e pessoal- dificilmente se misturavam.
Suas saídas sempre tinham um clima descontraído e romântico, regado à provocações e histórias.
Os dois passaram a se conhecer bem. Lisa descobriu que Adam tinha perdido uma irmã mais velha alguns anos atrás, então era muito apegado à meio irmã mais nova, Cecília, que morava com a mãe dela no exterior. O pai dele também não estava mais com a família, tendo desaparecido pouco depois da morte da filha mais velha -provavelmente, não aguentando a pressão da perda e fugindo da família e das obrigações.
O rapaz também contou que morava sozinho desde os 25 anos que foi quando se formou na academia de polícia e saiu de casa para cumprir seu sonho -proteger as pessoas de injustiças. No entanto, tinha uma alma inquieta, então, dificilmente, conseguia ficar muito tempo em um só lugar, o que resultava em diversas transferências e longos períodos de adaptação.
Lisa se identificou profundamente nessa parte da história. Ela costumava se mudar com uma frequência alta, mas, nos últimos anos, conseguiu se estabelecer naquela cidade e, até o momento, não sentia a ânsia deseperadora de fugir que lhe acometia antigamente. Talvez os laços que tenha firmado com as pessoas dali a tivessem conseguido estabilizar.
Esses mesmos laços eram a razão de Lisa estar ali, olhando para um Adam chocado.
Após um longo período de auto reflexão e conversas desesperadas com suas amigas. Lisa tomou coragem e contou ao colega e, agora, romance que também estava apaixonada por ele. Declaração essa que resultou em um policial aparentemente quebrado e com um sorriso bobo no rosto.
Adam parecia querer falar alguma coisa. Algumas sílabas soltas saíam de seus lábios, mas era impossível formar algo coerente com elas.
Lisa sentiu vontade de rir das tentativas frustradas do companheiro, mas se segurou para não estragar o momento.
Os dois estavam no fim de um encontro, caminhando num parque, porque o dia estava bonito demais para ser desperdiçado em um local fechado. Era um raro dia de folga, onde os dois estavam livres juntos, então, decidiram aproveitar um com o outro.
Isso estava cada vez mais frequente, então Lisa achou que era um bom momento para contar sobre sua paixão, já que estava óbvio que o rapaz estava apaixonado.
Adam se sentia no sexto céu, então, num ato que ele há muito sonhava se ajoelhou dramaticamente e, segurando as mãos de sua companheira, começou seu discurso:
—Lisa Carvalho, amor da minha vida, você, que é essa policial incrível e uma mulher absolutamente encantadora. Você que, nesses meses me permitiu não só conhecer a casca que lhe envolve, mas a belíssima alma que a sustenta. Você que me mostrou cores diferentes das que eu estava acostumado e caminhos que nunca sonhei em trilhar. Você que me fez sentir o pior vilão possível por considerar vinculá-la a mim e privar o mundo de se apaixonar por você como eu me apaixonei e ser correspondido por você como eu sou. Você que desperta meu lado mais meloso. Você, Lisa, aceita se unir a mim como minha namorada e futura esposa?
Lisa ficou levemente tonta pelo tamanho e intensidade do discurso, levando alguns segundos para se reestabelecer e conseguir formar algo coerente em sua fala.
Respirando profundamente, olhou no fundo dos olhos que lhe observavam com tanta admiração e, sorrindo belamente, respondeu a proposta:
—Adam, eu, que conheci um mundo diferente ao teu lado, me sinto mais que lisonjeada ao receber tamanho sentimento. Me sinto igualmente egoísta por privar o mundo de seus discurso longos e doces. Então, sim, Adam, eu aceito sua proposta. Agora somos, oficialmente, namorados.
Nunca Lisa havia visto um sorriso tão belo e caloroso como o que seu namorado deu antes de beijá-la com fervor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Encontro duplo
Short StoryTudo que Lisa queria era fazer seu trabalho direito e ter uma boa noite de sono, mas parece que o destino não está muito ao seu favor.