Nem todo final é feliz

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Enquanto a vida amorosa de Lisa ia às mil maravilhas, sua vida profissional ia de mal a pior.

O caso novo, o do Justiceiro, como foi informalmente chamado, estava uma confusão. Mais 10 caras haviam desaparecido e a única ligação entre todos eram as suspeitas (e denúncias, na maior parte dos casos) de violência sexual. O que, particularmente, não ajudava muito a descobrir o próximo sequestrado, já que haviam muitos homens que se encaixavam no perfil.

Lisa estava exausta para dizer o mínimo e, como consequência, deixava suas amigas loucas.

Convidou Hana para tomar um café e conversar depois que Beatriz surtou com ela e mandou que procurasse um terapeuta.

—Então, como você conseguiu estressar sua colega que é a pessoa mais calma daquela delegacia?— Hana absolutamente tentava segurar o riso da situação, mas estava bem impossível.

—Não me enche. Estamos todos cansados por causa do caso que estamos lidando e, você me conhece, quando eu estou assim, meu humor fica um porre. Aí Bia me mandou, de um jeito muito educado, ir ficar com meu namorado para descansar —respondeu emburrada, tomando um gole de sua bebida.

Não aguentando mais, Hana desatou a rir, chamando atenção de algumas pessoas próximas. Se desculpando rapidamente ao ver o olhar da amiga, as duas começaram a conversar sobre outros assuntos, para desviar o foco e as tensões.

Dias mais tarde, Lisa ouvia música em seu fone para tentar abafar os ruídos externos e internos, quando seu telefone tocou e o nome de Beatriz brilhou na tela.

—Você tem um bom motivo para me ligar às —Afastou o celular do rosto e verificou o horário —19h15 e atrapalhar minhas férias?

—Eu preciso conversar com você. É sério —A voz dela estava tensa e parecia receosa.

—Ei, o que aconteceu? —perguntou preocupada, sentando-se e encostado na cabeceira da cama.

—Encontramos o Justiceiro. Ele foi pego pelas câmeras que monitorávamos. Já dei baixa no caso e ele foi preso. O julgamento será em 3 semanas.

—Nossa, que bom. Então terminamos o caso. Quem era a pessoa? Descobriu as motivações do caso? Por que não me chamou pra fechar o caso?

—Eu achei que era melhor você não se envolver mais —Beatriz deu uma pausa antes de continuar, considerando suas próximas palavras —O Justiceiro era o Adam.

Lisa travou. As palavras não faziam sentido na sua cabeça. Adam era… um criminoso também?

—Isso, isso, eu…

—Eu preciso conversar contigo pessoalmente. Pode me encontrar no parque perto da sua casa?

Lisa tinha quase certeza que havia respondido algo, mas não estava muito focada para garantir.

Ainda meio aérea, trocou de roupa, prendeu o cabelo como deu, calçou algum sapato e saiu do quarto. Um último olhar para garantir que estivesse tudo trancado.

O caminho até o parque foi feito à pé e foi bem longo, já que por gostar de sossego e silêncio, vivia em uma chácara um tanto afastada do bairro mais próximo.

—Seu celular 'tá desligado? —Lisa levou alguns segundos para perceber que já havia chegado ao parque e caminhava com a amiga ao seu lado.

Comentou que nem havia trazido o aparelho, ainda meio perdida no tempo.

—Se veio me consolar, não precisava perder o tempo. Eu tô bem, só meio em choque. Não imaginei que acabaria envolvida com um criminoso de novo.

—Bem, dessa história eu não sabia, quero que me conte depois. Mas, não, eu não vim te consolar. Vim te parabenizar, na verdade. E saber o que você planeja para o futuro.

—Parabenizar? —Lisa estava, genuinamente, confusa. Você normalmente não felicita alguém quando descobre que o namorado -ex, agora- dela foi preso.

—Sabe para alguém que sempre foi rápido e discreto em seus sequestros, ele até que demorou dessa vez. Afinal, as câmeras não foram hackeadas e algumas pessoas testemunharam o crime —Bia comentou como que não quer nada, mas seus olhos desmentiam e comprovavam que ela sabia mais do que lhe atribuíam.

Lisa suspirou cansada, sem saber como lidar com a verdade.

—Quando você descobriu? —Já não havia mais por que esconder, mesmo, então deixou que sua curiosidade falasse mais alto. Não se lembrava de ter cometido nenhuma gafe em sua encenação.

—Desde o começo, sabe. Hana não é exatamente a melhor pessoa 'pra esconder algo de mim.

—Ela me traiu?! Espera, vocês se conhecem? —perguntou indignada

—Eu descobri, na verdade, ela só me confirmou. Nós temos um pacto de nunca mentir uma para outra. Faz mal para nossa relação de irmãs.

—Se você sabia, por que não me denunciou?

—Eu achei o seu trabalho bom, só isso. Minha moral é bem maleável, para ser sincera —respondeu indiferente —Ah, por questão, desculpa ter te manipular para sumir com os três que não tinham ficha criminal. Eles mexeram com uma amiga minha e eu precisava me vingar, mas odeio sujar minhas mãos.

Lisa estava chocada, para dizer o mínimo. Suas amigas eram irmãs, sabiam que ela era responsável pelos desaparecimentos, provavelmente desconfiavam do que ela fazia com eles e, ainda sim, a estavam cobrindo por todo esse tempo. Não fazia o menor sentido.

—Por que vocês fizeram isso? —Ela precisava entender urgentemente.

—Dizem que uma a cada três mulheres tem uma história de assédio para contar. No nosso grupo de três, eu sou essa mulher. Mas isso é passado e a Hana já deu um jeito nele. Por isso eu não te denunciei, seria hipocrisia da minha parte se eu te acusasse por algo que eu já pedi para alguém fazer por mim.

As duas se olharam por alguns instantes, trocando toda a verdade e confiança que precisavam, naquele simples gesto. Com a confirmação que nem sabiam que procuravam, sorriram uma para outra e voltaram a caminhar.

—Só me diz uma coisa —Bia falou de repente —Você gostava mesmo do Adam ou foi parte do plano.

—Ele era legal, e tinha uma arma muito interessante entre as pernas.

As duas riram da situação e Lisa, em mais uma atitude impulsiva, convidou Beatriz para participar de sua luta.

—Eu aceito, agora vamos andando que eu quero saber essa história de você já ter se envolvido com criminosos antes.

Lisa não hesitou mais antes de começar a contar. Puxando a amiga até sua casa, se sentiu segura em, pela primeira vez, mostrar seus segredos para alguém sem medo de ser julgada. Não haveria mais segredos entre elas e, sinceramente, Lisa não estava muito preocupada em paracer vulnerável, pois sabia que não seria perigoso dessa vez.

Se essa história acaba aqui? Sim, mas não é como se não houvesse mais para descobrir. No final, as aparências enganam, entretanto, ninguém tá realmente preocupado com isso.

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