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01.12 Terça-feira.

Eu odeio dezembro. Sim, isso mesmo! Faz um calor insuportável, as ruas estão sempre cheias, as pessoas se sentem no direito de lhe desejar Feliz Natal sem lhe conhecer, e, o pior de tudo, o preço das coisas fica absurdamente alto. Fala sério! O capitalismo não tinha nada menos pior para inventar, não?

Estou indo ao trabalho, a namorada da minha melhor amiga me recomendou para fotografar no shopping durante esse mês de dezembro, gostaram do que apresento e me contrataram. Advinha o que irei fotografar, isso mesmo, a vila do Papai Noel. Trabalho é trabalho, não é, fazer o que. Começo a rir dentro do ônibus ao perceber que estou mesmo indo trabalhar na vila do Papai Noel, eu, Catherine, a mulher que não suporta o Natal e tudo que vem atrelado a ele. Me chamem de amargurada se quiserem, pouco me importo.

— Senhorita Menezes! — exclama com um sorriso a Maria, namorada da minha melhor amiga.
— Ah, apenas Catherine. — sorrio de volta.
— Que bom que chegou no horário, venha, irei lhe apresentar o Papai Noel e seus elfos.

Ela me levou para dentro da vila, me apresentou às pessoas, logo, organizaram tudo e começamos. Eu fotografo as crianças juntas com o Papai Noel, com os elfos, e caso os responsáveis queiram, também fotografo no tuor pela vila. Não precisei me trocar, estou com a roupa que vim e um gorro natalino na cabeça, que sinceramente já está me irritando pois estou ficando com calor, mas nada que não dê para controlar.

Fim de expediente, meu primeiro dia foi ótimo! Confesso que dei um sorriso bobo quando fotografei um casal lésbico com a mãe de uma das moças, todas estavam bem felizes, e, elas não foram as únicas adultas que vieram ver o Noel, isso me surpreendeu, já que imaginei apenas um público infantil. Estou no ponto de ônibus para voltar a minha casa, como está de noite todos os ônibus estão com o pisca-pisca acesso, isso dificulta um pouco na hora de enxergar a numeração. Sim, estou reclamando, pois são oito horas da noite, mas o calor parece de meio dia, e para completar, os ônibus ainda brilham feito o sol.

02.12 Quarta-feira.

Estou em pé na cozinha olhando para a janela enquanto escorrem lágrimas pelos meus olhos, lágrimas que escorrem sem fim encontrando uma imensidão pelo meu rosto que transparece tristeza. Ainda bem que moro sozinha, iria odiar passar uma energia tão detestável para alguém.

Chorando na cozinha me sento a cadeira, ainda estou tentando assimilar o fato de que a minha namorada rompeu o nosso relacionamento. O nosso relacionamento de cinco anos terminado. Ela terminou comigo porquê acha que a nossa relação ficou desgastada, eu apenas aceitei a sua decisão, mesmo não concordando por inteiro, numa análise breve enquanto ela falava sobre esses cinco anos, percebi que alguns momentos estavam mesmo exaustivos.

Hoje está muito cheio, não parei de tirar fotos um segundo desde a hora em que cheguei. A fotografia é a minha maior paixão, mas eu daria tudo para guardar a câmera durante uns minutos e tomar um sorvete, juro que nunca desejei tanto as músicas insuportáveis de Natal ao fundo juntamente com o falatório da praça de alimentação.

— Não acredito nisso! — digo em relutância ao que estou vendo.

A minha ex namorada está beijando outra mulher bem ali na frente. Eu não estou acreditando. Fazem horas que terminamos. Isso não pode estar acontecendo. Minha mão começa a ficar trêmula, logo, respiro fundo e peço para o menininho que está abraçado com a elfo sorrir para a foto. Meu corpo está aqui, mas eu não, o som começa a fugir do meu escutar, estou tomada pela fúria, ainda que por fora continue normalmente, até porque eu irei ganhar semanalmente, não irei tratar sequer por um segundo com descaso o meu trabalho.

Saio do shopping após terminar o expediente e vou andando até a casa da Elisa, a minha melhor amiga. Odeio andar pelas ruas em dezembro, entretanto, odeio mais ainda gastar dinheiro à toa, a casa dela dá uns sete minutos andando do shopping. O dia hoje está do jeito que eu mais odeio, fora do meu controle. Pessoas suadas esbarrando em mim, comerciantes gritando promoções de Natal dentro do meu ouvido, parecem que esperam eu passar para gritarem, o calor infernal das oito da noite, a minha namorada, que não é mais minha namorada com outra e este dingo bell sem fim. Socorro! Eu só preciso chorar no colo da minha melhor amiga e lamentar como tudo dá errado nesse mês horroroso.

Destrua o Sino PequeninoOnde histórias criam vida. Descubra agora