Trocado por uma Guitarra, Balas e um Punhado de Doritos

Sobre perder o ônibus e ser substituído

Antes que vocês comecem a me julgar, irei me defender dizendo que isso aqui é apenas um desabafo sobre o acontecimento que houve nesta sexta-feira. Não estou reclamando nem nada, só acho que eu deveria ser mais valorizado, sabe?

Tudo começou a dar errado a partir da segunda-feira, me atrasei para pegar o ônibus e quando cheguei na escola, HueningKai estava conversando com um garoto de cabelo azul, tão azul quanto o all star que calçava. Não porque sou alto e tenho boa visão, mas de longe dava pra ver que aquele projeto de Sonic Mal Renderizado estava se engraçando para meu melhor amigo enquanto oferecia um punhado de Doritos. Óbvio que corri igual o Harry Potter correu para atravessar a parede da plataforma 9/¾, não podia deixar que ele fosse enganado por um sorriso bonito, porque sim, aquele garoto poderia abastecer um painel solar de um prédio de dez andares com aquele sorriso lindo e radiante.

— Oi, tudo bem? Soobin né? — Foi o que o garoto de cabelo azul celeste disse. — Me mudei para o bairro recentemente e estava falando para o Kai que vou começar a pegar o ônibus com vocês. Meu nome é Yeonjun. Choi Yeonjun, é um prazer te conhecer, gatinho!

Semicerrei meus olhos em sua direção, fiz questão de deixar um silêncio desconfortável antes de abrir um sorriso de orelha a orelha e comprimentá-lo. Consegui notar que ele ficou levemente desnorteado com meu sorriso, afinal, eu também posso abastecer um painel solar de um prédio de dez andares com ele. Fiz a Miss Simpatia durante todo o trajeto a classe, descobri que o outro morava a poucas casas de distância da minha, estudava no bloco ao lado e fazia parte do clube de música, estava tudo bem, Huening não se interessou nem um pouco, isso até ele dizer que tinha uma banda.

Hyuka logo se animou e disse que seu sonho era ter uma banda, Yeonjun informou que se ele quisesse aprender a tocar algum instrumento, era apenas esperá-lo no portão no fim das aulas. Antes que eu pudesse intervir, o sinal tocou e ficaram combinados de se ver. E eu tive a chance de ver os dois saindo? Não. Motivo? Aula extra porque ainda estou na detenção. (Rabisquei o nome do Hyuka na lousa com caneta permanente, tsc.)

Bom, eu não sei o que rolou, mas na terça-feira cheguei apenas um minuto atrasado no ponto de ônibus, por sorte, o motorista me viu correndo feito um carro desgovernado e me deixou subir. HueningKai estava sentado no fundão junto com o Sonic, digo, Yeonjun. Pareciam conversar sobre uma coisa que eu não deveria saber, já que assim que cheguei, os dois cortaram o assunto e me desejaram bom dia.

— Soobin, por que você não vem com a gente hoje? A detenção é somente em dois dias na semana, certo? — Yeonjun falou com toda intimidade. "Querido, eu te conheço a vinte quatro horas, vamos parar né." Pensei. — Digo, se você não tiver nada melhor pra fazer.

— Ah, eu vou sim. — respondi olhando diretamente para HueningKai, para que ele notasse o motivo de ter aceitado o convite. — Você vai tocar guitarra?

— Ah não, eu sou muito tímido para tocar na frente dos estranhos.

— E como você tocou pra mim ontem? — Indagou Hyuka.

— Você é diferente. — E piscou para ele.

Naquele momento eu queria pedir desculpa aos outros passageiros e principalmente ao motorista pelo dano que iria causar ao jogar Choi Yeonjun pela janela do busão. Como ele tem coragem de flertar com o Hyuka na minha frente?

Huening apenas riu, dando um empurrãozinho no seu ombro e voltando para a música que tocava em seus fones. Yeonjun voltou a falar comigo normalmente e eu não podia deixar de sorrir, afinal, tinha que continuar sendo amigável.

Quando fomos para sua casa, ele logo esbanjou sua coleção de discos dos The Killers ao meu amigo, esse que gritou de tanta animação, praticamente passou a tarde inteira vidrado no disco. Tive que aguentar Yeonjun falando sobre guitarras enquanto ele se oferecia para tocar uma música para mim. "Garoto? Porque diabos eu iria queria ouvir alguém arranhando umas linhas com as unhas e cantando ruim?" Recusei educadamente e logo fui embora dizendo que minha mãe me pediu para pôr a mesa do jantar.