Cuidado com o Pai da Mata

9 2 2
                                    

Você já deve ter ouvido falar do meu nome, claro, se você for daqueles leitores assíduos de jornais e revistas, mas, se não, deixa eu me apresentar, sou Adrian Nóvoa, esse nome veio por intermédio da minha mãe que era fã de séries estrangeiras e achou bonito por demais, tanto que me batizou, sou assistente administrativo de uma grande empresa multinacional, a coca cola.

O motivo pelo qual estou iniciando essa história, nada boa, por sinal, é para relatar o que aconteceu naquele típico verão dos anos 2000, na casa de campo da família Silva, propriedade, até então, do meu ex namorado Roger Silva.

Naquele tempo tínhamos combinado em passar parte das férias de janeiro na propriedade dos silva, distrito de Calama, próximo a cidade de Porto Velho, acontece que ninguém esperava pelo que aconteceu.

Havia um lago de água verde onde podíamos banhar, resolver acampar em sua margem naquela noite, meu namorado e eu dividíamos a nossa barraca, Lisy e Alan estavam na outra, enquanto a Rebeca e a Yasmim que também era outro casal, dormiam juntas em uma terceira barraca.

Acontece que por volta da 00:00hs daquele primeiro dia de acampamento, Lisy saiu no meio da noite para fazer xixi em um arbusto próximo, de repente acordamos atônitos, corremos em direção da mata, assustados. Quem mais se preocupou foi Alan.

De repente, quando olhamos para o chão havia apenas a roupa de dormir que Lisy estava usando e nenhum sinal dela, Alan entrou em desespero, saiu correndo de um lado a outro, foi preciso que acalmássemos ele. Cada um pegou uma lanterna e resolvemos procurar nas imediações, sem nos distanciar muito, para não correr o risco de nos perdermos.

A hora ia avançando lentamente, naquela altura do campeonato não era possível fazer mais nada, então avisei ao povo que seria melhor esperar amanhecer, pois no escuro não se podia achar nada, todos abandonaram as suas barracas, não havia quem fizesse mudarmos de ideia, iríamos dormir na casa.

Mal o dia raiou, quando o relógio batia as 06:00hs da manhã, Alan entrou de súbito em todos os quartos convocando a galera para a missão resgate. Nos vestimos e partimos a busca do paradeiro de Lisy, a última hipótese seria chamar alguma autoridade para ir até o local, mas nenhum telefone pegava ali, seria preciso ir ao centro do distrito, até lá procuraríamos por conta própria.

Alan foi procurar junto com a Rebeca e a Yasmin, meu namorado e eu seguimos na direção oposta dos três, combinamos de fazer algumas varreduras e nos encontrar no mesmo local de partida e seguimos mata a dentro.

Andamos por alguns minutos, quando vejo algo encolhido, se debatendo ao longe, como sou míope, pedi que Roger olhasse direito e olhe constatou que poderia ser Lisy, foi então que corremos até aquela clareira aberta no meio da mata. Era mesmo Lisy. Ela tremia e suava frio, estava com febre, no seu corpo marcas de surra, unhas, socos e roxos espalhadas por toda a perna, eu fiquei em choque e me perguntando quem poderia ter feito aquilo.

Roger a pegou no colo e levamos até o ponto de encontro marcado, o Alan quando a viu naquele estado caiu em choro, foi preciso consola-lo mais uma vez. Chegamos na casa, demos banho, tratamos das feridas e ela foi medicada para a baixar a febre. Recuperados do susto, Alan decidiu que iria com o Roger até o posto policial do distrito de Calama e relatar todos os fatos, queriam encontrar o culpado daquilo tudo.

Quando chegaram no distrito contaram o que aconteceu para um segurança do posto de gasolina onde abasteceram o carro, na esperança de que ele já tivesse visto algo parecido e pudesse compartilhar o paradeiro do suposto culpado. Foi quando o segurança lhes disse que isso já aconteceu antes, há muito tempo atrás, no verão de 1990, os dois permaneceram em silêncio ouvindo tudo que aquele completo estranho lhes dizia.

E aos poucos o homem foi contando que quando se entra na mata, em território desconhecido e por vezes habitado por que a gente nem imagina, deve-se sempre pedir licença para fazer qualquer coisa ou pegar algo, é por isso que quando os indígenas adentram a floresta, que para eles é sagrado, deixam alguns presentes como penas, cocar, fumo, arcos e flechas para aqueles que eles respeitam muito.

- Mas quem é esse cara que merece tanto respeito assim, cara? -Interrompeu Alan.

- Ora! Tu não sabes? É o PAI DA MATA! - indagou o homem.

Não crentes na história daquele homem disseram que prosseguiriam até o posto policial.

- Façam como quiser! - lhes instruiu o homem.

E foi assim que chegando ao posto policial e contando a história para os policiais, tal qual o caso de Benjamin em 1990 que os policiais resgataram os arquivos e mostraram para os meninos os registros daquele caso e perguntaram se viam algo de familiar, ao passo que eles disseram que tudo lhes era familiar, aconteceu igualzinho a Lisy.

Foi aí que os policiais disseram que nunca acharam o culpado de tal ato, que apesar de fazer buscas na mata, de sobrevoar o local, não encontraram nenhuma habitação se quer, ou vestígio de alguém que pudesse estar no meio do nada, se não fosse as fazendas e chácaras que ficam distante uma das outras e mesmo assim, nenhum morador de lá passou ares de suspeitos de tal ato.

Os rapazes voltaram cheio de dúvidas do que com respostas que procuravam. Quando Lisy recuperou seus sentidos relatou para a gente que enquanto estava fazendo xixi, algo se aproximava, ela não conseguiu identificar quem era, pois não viu ninguém, só pode ver os tapas e pontapés lhe tomar de assalto, quando deu conta estava no meio da clareira sendo resgatada por nós. Por isso, fica a dica, antes de entrar na mata, certifique-se de pedir licença e deixar algum agrado para o Pai da Mata que sempre protege os seus.

 

CONTOS AMAZÔNICOS Onde histórias criam vida. Descubra agora