@bela_castilho

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⚠️Atenção: contém gatilhos envolvendo crise de ansiedade⚠️

"Watch as she stands with her, holding your hand

Put your arm 'round her shoulder, now I'm getting colder

But how could I hate her, she's such an angel"

Heather - Conan Gray

É engraçado como uma crise de ansiedade pode ser silenciosa e ensurdecedora ao mesmo tempo. Como ela tira o mundo debaixo de você em um segundo e no outro você é engolida pela terra novamente. Como se todo o ar do mundo sumisse e de repente entrasse de uma vez em seus pulmões.

Digo isso porque estou tendo uma agora, no meio de um treino de vôlei e por conta deles.  Me forço a erguer a cabeça e não olhar em direção à arquibancada onde eu sei que os dois pombinhos estão. Sério, há vários outros lugares nessa merda de escola para meu ex-namorado e sua nova "amiga" ficarem de gracinha.

Então por que... Por que aqui e agora? É como se ele estivesse jogando na minha cara que já superou tudo. 

O saque do time adversário chega até meus braços, mas eles estão tremendo demais para que eu recepcione a bola da maneira correta. Em qualquer outro dia, eu iria estar treinando em minha posição de líbero perfeitamente (pegar saques é minha especialidade) mas não hoje. A recepção falha, e a bola, antes no ar, aterrissa perto das pessoas que estou tentando evitar olhar. 

Meu olhar passa da bola para a arquibancada e ele está olhando diretamente para mim, enquanto ainda conversa com a loira ao seu lado. Consigo ver a palavra vingança escrita em seu sorriso plácido e sinto que não consigo mais respirar.

-Amanda, tá tudo bem? -Escuto a voz distante e preocupada da Carol e acho que até vejo ela saindo de sua posição para vir até mim, mas não posso continuar aqui.

-Tempo! -O grito saí antes que eu consiga pensar em não correr dali.

Dou uma explicação mixuruca ao meu professor de que preciso ir urgente ao banheiro e então eu corro. Corro até estar trancada em uma cabine no banheiro do segundo andar do prédio principal.

O suor aumentou, o coração está mais acelerado que antes e sinto como se fosse cair para fora do mundo. Agarro o lado esquerdo do peito e apenas rezo para que acabe logo todo esse sofrimento.

Quer dizer, meu relacionamento com ele não foi ruim, posso até ousar dizer que fui feliz no pouco que durou, o problema foi o que aconteceu antes do término. Não é anormal uma garota ter relações íntimas com seu primeiro namorado, assim como eu iria descobrir depois o quão normal poderia ser ele espalhar para os amigos cada detalhe daquilo que era para ser apenas nosso. 

Mas é claro que isso não foi o maior problema. Após a briga sobre o assunto, ele, sozinho e solitário como estava, foi atrás do consolo de outro corpo, já que eu estava "sendo dramática demais" e estava indisponível. Não preciso dizer que depois de descobrir tudo, fiquei arrasada e, talvez eu tenha enfrentado ele na frente da escola toda e gritado um pouco. No final das contas, todos ficaram do lado de Henrique porque a ex-namorada se mostrou louca por não aceitar o término, apesar de eu ter tentado (e muito) explicar que ele era o vilão da história. 

Além dessa confusão toda, eu tinha que aturar olhar para a cara dele todo dia dentro da sala do terceiro ano da Escola Elysium, porque não basta ser considerada instável por metade das pessoas ali, você ainda precisa estar no seu ano de vestibulanda. E o final dessa confusão toda? Eu tento seguir minha vida e ignorar os olhares feios nas últimas semanas.

B & A (romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora