Destino

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(Agora)

A música "People I don't like" está no volume máximo nos fones de ouvido enquanto adentro a escola de cabeça erguida. Um mês de férias se passou e posso dizer com segurança que esses últimos 30 dias me salvaram no sentido de superação e autoestima.

Me sinto uma nova Amanda, uma versão melhor, depois da terapia e das novas mechas brancas. Acho que a cor branca deu um pouco mais de vida para meu cabelo comprido e olhos que são do mesmo tom chato de castanho. Tipo a Vampira dos X-men. De qualquer forma, estou feliz com o resultado desse último mês e ansiosa para continuar meu ano letivo em paz.

Após 3 lances de escadas, chego no andar da minha sala de aula e encontro a única pessoa que me cumprimenta e me chama de amiga, já que todos os outros seres da minha sala decidiram ficar do lado do "senhor perfeição" a três meses atrás. 

[...]

As aulas, os recados e as boas vindas passam rápidos e quando vejo já estão todos indo embora para suas casas depois da primeira manhã agitada. Seguro firme com uma mão a alça da ecobag com estampa de plantas e com a outra livre, vejo as notificações do meu celular.

As aulas sempre acabam às 13:00, mas meu pai só pode me buscar a partir das 14:00 por conta do trabalho. Considerando que ele mandou uma mensagem dizendo que vai se atrasar um pouco, tenho praticamente uma hora e meia para fazer nada. 

Ando despreocupadamente pelo gramado em direção do prédio pequeno afastado do principal, observando a grande área verde da escola e os poucos alunos espalhados que ainda estão esperando os pais para irem embora. Apesar de não suportar mais meus colegas de classe, admito que gosto bastante da escola e das pessoas que trabalham aqui. Todos são agradáveis, assim como a estrutura desse lugar, com bastante luz solar e plantas.

Passo reto pela sala de estudos já conhecida e subo as escadas para o segundo andar. Aqui em cima só há um banheiro, uma espécie de escritório que ninguém mais usa e, no final do corredor, meu lugar favorito da escola...

A sala de artes.

Apesar de não dever, adentro o lugar iluminado de amarelo. A luz do dia que passa pelas frestas dos tijolinhos na parede oposta me dá uma sensação boa e sorrio satisfeita. Sempre adorei essa sala por conta da iluminação natural que ela tem e porque é possível ver o pátio inteiro daqui de cima.

E o melhor, ninguém lá embaixo consegue ver nada aqui dentro devido ao modo que tijolinhos são posicionados. Contando também com todos os potes de tintas, tecidos, cartazes e as bancadas altas que só fazem desse lugar meu refúgio perfeito. A sala é ideal para se esconder ou apenas ter um pouco de calma, afinal poucas pessoas vêm para essa ala esquecida da escola.  Ela só tem um defeito: você não pode, de maneira alguma, fechar a porta.

Largo a bolsa perto de uma estante de tintas e sigo com os fones já posicionados nas orelhas para trás de uma das bancadas. Aposto que alguém emperrou essa porta ano passado e agora ela tem que ficar sempre aberta para não trancar sozinha se fechada.

Espio por entre os buracos dos tijolos o pátio lá em baixo e respiro fundo. Esse lugar consegue me acalmar só pelo fato de que ninguém me vê aqui, no meu cantinho. Fecho os olhos e sento no chão, encostada na bancada e sentindo as batidas da música se misturando com as batidas de meu coração.

Tão relaxante...

Mas como diz aquele ditado "tudo que é bom dura pouco" sinto o baque contra minha cabeça e meu corpo antes de conseguir entender o que está acontecendo. Um gemido de dor e descontentamento escapa de minha boca devido a dor nas costas ao atingir o chão e ao peso que está sobre mim agora. Não devia ter colocado a música tão alta.

B & A (romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora