Capítulo 1

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Jessica Mendes tinha tudo sob controle.

Desde pequena, o mantra era conseguir manter no controle si mesma e tudo ao seu redor. Filha de uma mãe obcecada por organização, que também era filha de outra mulher ainda mais obcecada pela própria família, Jessica obteve a característica de gostar das coisas em seus devidos lugares, mesmo que fosse só de faixada.

A verdade era que ela não era, em nada, organizada ou obcecada por sua família. Ao contrário, gostava muito de passar a maior parte de seu tempo relaxada, fazendo coisas que se sentia bem. Aos 27 anos, não havia feito nada demais da vida, porque não queria nada além do que já tinha.

Era por isso que, ao finalizar o colégio, entrou em uma universidade na cidade mais afastada o possível de sua família: São Paulo. Apesar da cidade estar a apenas 40 minutos de sua cidade natal, Jessica demorou um ano inteiro para convencer sua família controladora a deixá-la sair de suas asas e alçar o próprio voo.

Sonhadora, achou que sua vida mudaria da água para o vinho, para melhor. São Paulo, uma cidade tão grande, com certeza teria espaço para mais uma garota pronta para viver a própria vida. Entretanto, tudo o que Jessica conseguiu, foi dividir um apartamento de 2 dormitórios minúsculo com mais 3 estudantes e, após se formar, trabalhar em uma empresa pequena que, às vezes, lhe pagava o salário – baixo, se comparado ao de seus colegas de sala – atrasado.

Foi há 2 anos que tudo em sua vida mudou. Enquanto fazia as compras de natal, recebeu um telefonema de uma entrevista da qual havia feito há quase um ano. Uma vaga havia aberto em uma empresa multinacional que estava, cada vez mais, abrindo seu caminho no mundo, e o currículo de Jessica fora indicado pela pessoa que havia a entrevistado. Ainda que não tivesse a contratado, a pessoa havia dito que ela possuía um bom currículo e que ela deveria ter mais fluência em uma segunda língua, o motivo real de não ter sido selecionada.

Mas a magia do natal havia transformado sua vida, dando-lhe a oportunidade de finalmente ter o emprego que tanto esperava. Após confirmar disponibilidade para a entrevista, pôde imaginar tudo o que faria com o salário que entrasse. Primeiro, mudaria de apartamento. Talvez pudesse alugar algum lugar só para si. Em seguida, pagaria o curso de inglês – ou, se desse sorte, a própria empresa o faria –, por fim, finalmente poderia adotar um cachorrinho. Sempre se viu assim, morando em um apartamento médio, o suficiente para si, com um cachorro como companheiro e tendo o final de semana livre com ele e uma garrafa de vinho. O que mais poderia pedir?

– Casamento - a avó disse, quando Ana Amélia, sua filha e mãe de Jessica informou sobre a mudança de emprego da última –, isso já passou pela sua cabeça, menina?

E como não?, Jessica pensou. A maioria dos primos da mesma idade dela ou mais velhos já haviam se casado, a irmã mais velha, no ano anterior, e a mais nova, noiva do namorado de infância que, por coincidência ou não, era amigo do irmão mais velho das três, formado em medicina. As duas eram o orgulho de Ana Amélia, Jessica costumava dizer. O irmão mais velho, Thales, já havia cessado qualquer esperança das matriarcas; elas esperavam, sentadas, o homem de 30 anos sossegar.

– Os homens da minha idade estão casando perto dos 40 – ele disse da última vez, quase causando um ataque da avó.

De qualquer maneira, era mais fácil controlar Jessica, com seu temperamento dócil, do que Thales, dono de seu próprio nariz.

A notícia do emprego não havia sido recebida com o entusiasmo que Jessica esperava, por isso, manteve-se calada e se isolou em um canto, se contentando com a alegria que as amigas passavam através de mensagens de celular.

O trabalho se mostrou bom. Ela seguiu o ramo administrativo e agora era assistente principal do presidente da empresa, Eric, que veio dos Estados Unidos a pedido do verdadeiro presidente da empresa, seu pai, que, em um meio de fazer o filho entrar na linha, deu-lhe um prazo de 2 anos para mostrar que tinha competência para herdar a empresa bilionária.

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