Kate S.

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Observo Anthony partir da minha casa um tanto chocada ainda com seu recuo repentino na situação do casamento. Fecho a porta e volto para a sala de estar onde meu pai ainda está com Ed.

– Sua cretinazinha! - Ele se aproxima de mim com passos furiosos. - Eu te criei, te dei tudo do bom e do melhor, até te deixo jogar aquela porcaria de esporte e você me agradece assim?

– Não vivemos no século 19, papai. Ed tem todo o direito de não ser tratada como uma transação comercial. - Falo com raiva. Ele estava errado ali, não eu.

– Você não deveria se meter nos negócios da família Katharine, como fez por todo esse tempo! - Meu pai me encara com ódio.

– Querendo ou não ainda possuo parte das ações da S. então preciso me preocupar com sim. Ainda mais quando você foi o primeiro a vender parte da empresa.

– Fique quieta antes que eu...

– O que papai? - Falo seria. - Vai me bater como você fazia quando eu era criança? Não! Já sei! Vai me colocar de castigo sem água e nem comida?

– Eu quero você fora daqui!. - Meu pai esbraveja com raiva. - Você tem até o fim da noite para estar longe dessa casa com a sua amiguinha. Não quero te ver nunca mais!!

As palavras me cortam com a precisão de uma lâmina de diamante. Esperava tudo do meu pai, menos que ele me mandasse embora de casa.

– O que está acontecendo aqui? - Mary surge da cozinha e nos olha. - Richard?

– Papai acabou de expulsar Kate de casa, mamãe. - Edwina diz e eu posso notar o tom de raiva em sua voz.

– Isso é verdade Richard? - Mary pergunta seria.

– Não se preocupe Mary. Só vou adiantar minha partida. - Falo olhando para a minha madrasta que continua olhando o meu pai com um olhar de indignação. - Antes do jantar eu vou embora, pode deixar.

Saio dali me forçando a não derramar uma única lágrima e vou para o meu quarto. Assim que chego, mando uma mensagem para Sophie dizendo para ela voltar para casa pois precisamos partir e ela me responde dizendo que logo estaria de volta. Eu jogo o máximo de coisas que eu posso nas malas e às fecho. Olho para algumas das fotos que eu mantenho na penteadeira e seleciono três e guardo dentro do meu livro preferido

– Kate? - Sophie entra no meu quarto. - O que houve? - ela chega perto de mim, preocupada.

– Eu briguei com meu pai e ele me expulsou daqui. - Falo tentando não deixar as lágrimas caírem. Sophie me abraça forte.

– Vou só terminar de arrumar minhas coisas e vamos embora. - Sophie diz se afastando e olhando pra mim.Ela vai para o seu quarto e eu começo a descer as minhas malas.

– Isso é tudo a minha culpa. - Edwina se aproxima depressa de mim quando entro no meu quarto para buscar a última mala.

– Não, querida. - Abraço minha irmã que cede ao choro. - Fizemos a coisa certa. Papai não tinha direito de interferir no seu futuro, nas suas escolhas.

– Ele te mandou embora Kate! - Ed diz e soluça, me abraçando mais forte.

– Eu já não moro mais aqui praticamente. - faço carinho em seus cabelos, como quando ela tinha medo quando era criança.

– E quando a temporada de treinos em Londres começar? - ela se afasta e me olha.

– Fico no alojamento com Sophie. - eu sorrio tentando passar confiança para ela. Mas nem eu mesma tinha.

– Vou sentir tanto a sua falta, Kate. - Ela choraminga e eu beijo a testa dela.

– Estarei sempre por perto. - Dou um sorriso. - E logo você e Charles morarão juntos.

– É verdade. - Edwina sorri. - Eu o amo tanto e ele faz com que eu me sinta a mulher mais especial do universo.

– Então eu agi certo em ajudar vocês.

– Amo você, Kate. Sabe disso né? - Edwina diz.

– Sei e eu também te amo.

– Estou pronta. - Sophie diz entrando no meu quarto.

Nós três descemos com a minha mala e a de Sophie. Mary está parada encarando as outras duas malas que eu já tinha levado.

– Você não pode ir, minha menina. - Mary me olha com seus olhos cheios de lágrimas. - Quem ele pensa que é para mandar você embora? Ele não pode fazer isso!

– Está tudo bem, Mary. - Eu a abraço forte.

– Não está, Kate! - Mary funga. - Você está indo e dessa vez é para sempre. Estou te perdendo!

– Eu vou continuar te vendo. - Garanto a ela. - E Ed estará por perto.

– Ah, Kate. Eu posso fazê-lo mudar de ideia. - Mary diz segurando minhas mãos.

– É melhor não. - Suspiro. - Ele em algum momento vai trazer de volta essa história. Eu prefiro ficar quieta.

– É melhor irmos se não quisermos chegar muito tarde em Hampshire. - Sophie fala se aproximando.

– Eu vou avisar que estamos indo. - Falo e Sophie me dá um sorriso triste.

– Pode deixar que eu coloco as malas no carro.

Caminho até o escritório do meu pai e bato na porta. Com um resmungo ele autoriza a entrada e eu entro me sentindo a menininha assustada que eu era anos atrás. Ele está olhando o contrato que assinou com Anthony.

– Estou indo embora. - Falo e ele me olha. - Mas quero que saiba que não me arrependo de nada, fiz a coisa certa para Ed e que espero que um dia entenda.

– Você nunca está arrependida de nada, Katharine. - Ele diz, mas nem me olha - Sempre foi assim.

– E quero que saiba também que, por mais que você me odeie, que passe o resto dos seus dias sem querer me ver e eu seja uma vergonha, que eu te amo pai. Te amo mais do que possa imaginar. Você sempre me deu tudo. Se eu tivesse pedido a lua, eu sei que me daria.

– E aparentemente isso não foi suficiente. - Meu pai resmunga.

– Pra mim, só ter você já era o suficiente. Eu lamento não ter sido o suficiente pra você também.

Dou meia volta e saio do escritório dele, fechando a porta com delicadeza. Volto para a sala aonde me despeço uma última vez de Mary e Edwina.

Entro no carro junto de Sophie que não fala nada e dirigimos de volta para Hampshire em silêncio, apenas com a música de fundo. Quando chegamos de volta no alojamento, já passa da uma da manhã e precisamos ser silenciosas.

– Estamos de volta ao nosso cafofo. - Sophie cantarola sorrindo. - Até que eu senti falta.

– Também senti. - Sorrio para a minha amiga e me sento na minha cama. - Mas logo estamos de volta a Londres.

– E o alojamento de lá é terrível. - Sophie faz careta enquanto tira seus tênis.

– E se alugássemos um apartamento ou um quarto de hotel daqueles enormes? - sugiro - o que acha ?

– Grande ideia, Kate!

– Conheço alguém no Rutledge que pode nos ajudar a descolar um. - Digo e Sophie ri.

– Vamos fazer acontecer!

Eu me deito na minha cama, me sentindo um pouco menos dolorida do que antes mas ainda machucada.

– Vai ficar tudo bem. - Sophie me diz de sua cama.

– É o que eu espero. - Suspiro.

Sophie apaga as luzes e se deita em sua cama e, algum tempo depois, a escuto ressonar. Eu não consigo pegar no sono e apenas permaneço olhando o teto, repassando as cenas na minha cabeça num looping infinito. Em algum momento o looping para e eu só consigo ver o olhar de preocupação e resignação de Anthony Bridgerton.

Diamond of the first water ------------------------------------ KathonyOnde histórias criam vida. Descubra agora