O Gigante e a Menina

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Igor era um gigante afável. Passou grande parte da sua existência no vale, mas ainda carregava consigo as correntes de uma vida que não queria lembrar.

Aventurava-se agora no extremo do reino, empurrado por um problema que não encontrava solução. Diziam existir lá um sábio, mas para além dos sons dos lúgubres pássaros que o mantinham alerta, não encontrou ninguém, bem, não encontrou quem imaginava.

Guiado por um cantar gracioso, surgiu-lhe uma menina muito curiosa e de olhos grandes. Aproximou-se cuidadosa da descomunal criatura e cumprimentou-lhe com um sorriso contagiante. Igor, por seu lado, com seus doces traços, rendia qualquer um até perder o receio perante seu considerável tamanho.

- Eu sinto-me só. – Começou a miúda a falar. – Sou pequena, passo facilmente despercebida e minha voz raramente se consegue fazer sobrepor ao mar de outras vozes. 

O gigante apesar de habituado ao carinho das pessoas do vale, foi surpreendido com aquele à-vontade invulgar. Seu desconforto pela floresta desapareceu. Igor, de natureza simples, levou algum tempo até perceber que partilhavam o mesmo problema que o levava ali, solidão.

Explicou aos ouvidos que se tinham disposto a escutá-lo, a razão para estar ali. Queria encontrar uma resposta para a sua solidão, mais que isso, queria encontrar maneira de a curar.

A pequena ouviu-o atentamente, de cara singela, e acabou retorquindo:

- É fácil para um gigante se sentir só. Todas as outras vozes se tornam distantes e baixinhas, quase incompreensíveis. Pensamento nas nuvens e olhar sempre no horizonte. Consegue percorrer grandes distâncias, mas abranda o passo só para se fazer acompanhar. – Anuiu.

Antes de perceber como, a menina sorridente toca-o no ombro e sussurra-lhe:

- Da próxima vez que te sentires só, não penses em ti como este verme – apontou para um tronco caído – O seu mundo é populoso e pode ser acidentalmente pisado. – Sorriu.

Igor esforça-se para enxergar os insetos que lhe eram apontados, mas volta sua atenção ao seu redor para perceber se ela tinha crescido ou ele encolhido, só que uma névoa cercava-os.

- Prefiro então ser igual a todos só para não me sentir só. – Vozeirou o gigante.

- E porque quererias tal disparate? Como é que alguém repararia em ti se fosses igual a toda a gente? – Afagou-lhe a face. – Coragem para ti é medida de maneira diferente, porque o que para todos é um passo de gigante, para ti é só andar. És o primeiro a visitar-me em mais de cinco décadas. - Sorriu.

A expressão na cara de Igor mudou como se não totalmente convencido, e quando veio a si, a menina tinha desaparecido com a névoa e viu-se cercado pelas mesmas aves que o mortificaram no inicio.

 - Sê tu mesmo. Mais do que grande, és grandioso. – Ecoou uma voz grave pela floresta.

O Peregrino de MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora