Capítulo 1 - Tudo Mudou

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Não me julguem assim tão depressa, é a primeira coisa que vos tenho a dizer. Hoje, ao olhar para trás, condeno muitos caminhos que tomei, muitas escolhas que fiz, muitos passos que dei. Não posso dizer que se deveram à ignorância ou à mentira, visto que muitos desses caminhos foram escolhidos com a perfeita consciência de quão errado eram. Mas é isto que o mal tem, consegue apelar e atrair-nos para o precipício e quando damos conta já estamos em plena queda.

O meu nome é Dean e em tempos antigos era apenas um jovem ingénuo do campo que se maravilhava quando ia a um cinema ou andava de autocarro. Não pelo que eram em si, mas pela raridade com que um jovem de um rancho no meio do estado do Texas podia ter acesso a tais atividades. Os meus pais sempre disseram a mim e ao meu irmão mais velho para darmos tudo na escola, fazer todos os sacrifícios possíveis, pois os melhores alunos recebiam bolsas para ir estudar para uma Universidade. Eu segui este concelho, mas o meu irmão não. Quando o meu irmão mais velho acabou o secundário, tinha mais raparigas com quem tinha ido para a cama do que valores nas notas e assim não teve outra hipótese para além de ficar a trabalhar no rancho dos nossos pais com a ambição máxima de um dia vir a substituir o nosso pai no comando.

Dois anos depois, quando foi a minha vez de terminar, recebi várias ofertas de Universidades por ter sido o melhor do ano, bons tempos. Decidi ir estudar para Yale, no estado do Connecticut, e  assim, dias depois, estava eu a fazer a mala e a despedir-me dos meus pais e irmão rumo a um futuro melhor.

No entanto, no que tocava à minha vida sexual, o máximo que tinha havido fora um inocente beijo à Becky Barnes, uma rapariga com feições razoáveis, mas que todos gozavam devido à sua elevada timidez. Sendo eu igualmente tímido e igualmente gozado, acabámos por nos tornar amigos. O beijo ocorrera depois do baile de finalistas quando a fui deixar a casa. Gostava de vos dizer que fui eu que tomei a iniciativa, mas foi ela. Ela ainda tentou que houvesse progresso a partir dali no que toca a uma eventual relação, mas tirei-lhe logo aquela ideia da cabeça quando lhe disse que ia sair do estado para uma Universidade. Entrei assim num autocarro com 28 horas pela frente sem nada que me prendesse ali e livre para escolher o meu próprio caminho.

O primeiro ano na Yale começou um desastre. Passava o tempo todo enfiado no quarto a estudar e era constantemente gozado por todos por isso. Felizmente tinha um quarto só para mim, senão o sofrimento tinha sido ainda maior. Desde a equipa de futebol até mesmo à claque, todos gozavam comigo. Arranjaram até a alcunha de Esponja e passei parte do ano a tentar descobrir o motivo sem sucesso. No que toca às raparigas, agora nem as tímidas queriam saber de mim. No entanto, conheci um grupo de três rapazes que como eu também eram gozados por todos e passámos a enfrentar aquele inferno juntos. Um deles chamava-se Arthur e viemos a descobrir que tínhamos bastantes interesses em comum. Quando tínhamos tempo, passávamos a noite a jogar no computador e muitas vezes chegávamos a adormecer no quarto do outro.

Houve uma noite, já para o final do ano, que o Arthur chegou ao meu quarto meio estranho. A conversa dele parecia não desenrolar e as palavras não saiam como ele desejava. Depois de muito falar lá ganhou coragem e deu-me um beijo. Não tive reação. Se em física era um craque, no amor era um zero à esquerda. Ele interpretou esta reação como desaprovação e saiu a correr. Não nos falámos durante uma semana.

Por um lado ainda sentia alguma atração por raparigas, mas quanto mais tempo passava, mais crescia em mim a vontade de o voltar a beijar. Foi então que o chamei ao meu quarto e sem esperar dei-lhe um beijo.

Nessa noite perdi a virgindade, aliás perdemos os dois. Não posso dizer que foi mágico, que foi como se tivesse nas nuvens, pois na verdade até acho que fomos bastante desastrados pois estávamos sempre a averiguar se o outro estava a gostar. Depois de uma longa conversa, acabámos por decidir que seria eu primeiro a fodê-lo e depois trocávamos.  Doeu bastante, não posso negar, mas o excitamento por estar a fazer sexo era superior à dor. Ficámos no final debaixo dos lençóis a sorrir de orgulho por o termos feito. Decidimos não contar aos outros dois do grupo e a partir dali sempre que estávamos juntos no quarto à noite já não era para estudar, mas sim para foder. Rapidamente, tornámo-nos viciados.

Um Americano em PequimOnde histórias criam vida. Descubra agora