A CATEDRAL CAÍDA PARTE II

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- Socorro... Socorro... tem alguém aí?

Havia uma voz feminina chamando em meio aos destroços da catedral que foi levada abaixo pelo poder do grande Cerberus. Os humanos que restaram naquela cidade agora estavam sob ataque dos Cavaleiros Gelados, cuja maior força era poder trazer um frio capaz de penetrar até mesmo a alma dos que ali habitavam. Eles traziam consigo gigantes de gelo montados por simples lacaios que os comandavam com cordas e lâminas fincadas em seus corpos.

- Socorro... alguém? Preciso de ajuda.

Essa garota podia ouvir os gritos de desespero dos aldeões e comerciantes que habitavam aquele vilarejo. A sensação que ela tinha ao escutar os gritos, o balançar de espadas e até mesmo o choro das crianças que ainda estavam vivas era como se estivesse no próprio inferno, ainda mais por não conseguir enxergar nada por conta da catedral estar sobre seu corpo.

- Oi, tem alguém aí?
- Sim, graças a Deus. Você poderia me ajudar a sair daqui?
- Olha, moça, não me leve a mal, mas Deus? Ele não tem nada a ver com isso.
- Ok, mas você vai me ajudar a sair daqui ou não?

Um jovem que estava tentando deter alguns dos soldados foi levado a ter que fugir, pois seu tridente de madeira que era seu único meio de defesa quebrou em pedaços.

- Olha, moça, não irei conseguir fazer muita coisa sem sua ajuda. Preciso que você empurre a pedra que está em cima de você enquanto eu a puxo, ok?
- Tudo bem, mas como raios vou saber quando devo empurrar a pedra se nem ao menos consigo enxergar o lado de fora?
- Olha, quando eu contar até três, você empurra a pedra.
- Ok.
- Vamos lá, um, dois, três, empurra.

Com muita dificuldade, os dois conseguiram retirar a pedra que estava sobre outras duas, criando um bolsão de ar que permitiu que ela não fosse esmagada pelos destroços.

- Me desculpe, mas há quanto tempo você está aí?
- Não sei ao certo. Lá embaixo de tudo aquilo, parecia que o tempo não passava, além de que os gritos de todos os aldeões estavam me deixando com a sensação de que estava no inferno.

Os olhos da garota, ao sair, procuravam por algo no campo de batalha. Mesmo o jovem tentando observar o que a garota procurava, era incapaz de encontrar sequer um motivo para seu olhar frenético em meio a tanta carnificina.

- Me desculpe, mas qual é o seu nome?
- Bem, acho que lhe devo pelo menos isso depois de ter sido salva por você, não é mesmo? - e mesmo em meio a tanto sangue sendo derramado, eu ainda pude ver o sorriso em seu rosto.
- Bem, meu nome é Alleírbag, e o seu?

Mas, naquele instante, fui mais rápido em meus reflexos e vi uma criatura se aproximar por trás dos escombros. Infelizmente, fui incapaz de ajudar a salvar a garota mais uma vez. Meu instinto natural era a defesa, mas minhas pernas hesitaram no momento em que vi a criatura.

Seu corpo era apodrecido, gélido, e era possível ver seus órgãos expostos de forma grotesca. Suas tripas e estômago criaram bocas, e seu coração criou olhos negros que paralisaram a garota e a mim. Mesmo em estado de choque, fui levado a correr o mais rápido que podia. Enquanto me afastava da morte, fui capaz de ouvir a garota clamar por um "Deus" que não atendia a suas súplicas.

Assim que pus meus pés para fora da catedral, ouvi seu último grito de vida. Passei a espiar pela porta, apenas para ter certeza do que havia acontecido. O que vi foi uma cena de horror indescritível. A criatura estava se alimentando dos restos mortais da garota, devorando sua carne e sugando sua alma. O sangue escorria pelo chão, formando uma poça vermelha e viscosa.

Meu coração estava acelerado, meu corpo tremia de medo e repulsa. Eu sabia que não podia fazer nada para ajudar a garota, mas a sensação de impotência era avassaladora. Eu me sentia culpado por não ter conseguido protegê-la.

Enquanto eu observava a cena macabra, uma voz sussurrou em minha mente. Era a voz do Bispo Raiku, o responsável por controlar Merlim e os outros Lordes. Ele me ofereceu um pacto, prometendo poder e proteção em troca da minha lealdade. Eu sabia que não podia confiar nele, mas a ideia de ter algum poder para enfrentar aquelas criaturas era tentadora.

No entanto, antes que eu pudesse tomar uma decisão, a criatura levantou a cabeça e olhou diretamente para mim. Seus olhos negros brilharam com uma intensidade assustadora. Eu senti um arrepio percorrer minha espinha e soube que estava em perigo.

Sem pensar duas vezes, corri o mais rápido que pude, deixando para trás a catedral de ossos e a carnificina que ali ocorria. Eu sabia que não poderia enfrentar aquelas criaturas sozinho, mas também sabia que não poderia me render ao Bispo Raiku.

Enquanto eu corria, pensava em uma estratégia para enfrentar os Lordes e suas criaturas. Eu precisava encontrar aliados, pessoas corajosas o suficiente para lutar ao meu lado. Talvez houvesse outros sobreviventes, pessoas que ainda não haviam sido capturadas ou mortas.

Decidi que iria procurar por esses sobreviventes e formar um grupo de resistência. Juntos, poderíamos lutar contra as forças das trevas e tentar salvar o que restava da humanidade. Eu sabia que a batalha seria difícil e perigosa, mas eu não podia simplesmente ficar parado enquanto o mundo era consumido pelo caos.

Com determinação renovada, segui em frente, com a esperança de encontrar aliados e a coragem necessária para enfrentar os Lordes e suas criaturas. A batalha pela sobrevivência da humanidade estava apenas começando, e eu estava disposto a lutar até o fim.

O SEGREDO DOS OSSOS DE SAL Onde histórias criam vida. Descubra agora