III

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Eu gelei, sorrindo

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Eu gelei, sorrindo. Sabia que era isso. Estava tentado a aceitar, mas não ia, né? Recusei. Ele insistiu, rindo. Rindo de vergonha, da situação, da excitação. Eu continuei recusando, rindo também pelos mesmos motivos. 

— Então, bora tocar?

— Bora.

— Tu toca pra mim e eu toco pra ti?

Eu confirmei.

Então, ficamos como que tentando nos ajeitar no espaço um do outro. A minha mão sacou o meu pau duro da cueca e, depois, vasculhou o escuro, passeando pela barriga dele por uma brevidade até ele próprio atalhar tudo, pegando a mão vagante e a pousando bem sobre o seu pau.

Eu o agarrei como ele também me segurou. Comecei a masturba-lo, ainda que sem jeito, sem prática com aquela mão e naquela posição, mas excitado o bastante para não desistir ali. E a noite, de repente, me pareceu um forno. A mão dele no meu pau e o pau dele na minha me deixou num estado de frenesi e taquicardia que, até então, não tinha experimentado. Aquele era o proibido e eu finalmente atravessava o seu umbral.

Lembro que não podíamos gemer nem falar muito alto e, quase o tempo todo, eu lançava um olhar de cautela por baixo da porta. Mesmo com as restrições, as respirações aceleravam, o peito convulsionava. Aquela nossa ação era juvenil e medrosa, mas tinha um gosto impressionante de liberdade. Para mim, tinha.

Bem aqui, ele pediu:

— Faz um boquetinho? Tu faz?

— Mas tu faz em mim também depois? — dei a condição.

— Faço — ele a acatou.

A sua mão veio parar na minha nuca e guiou a minha cabeça, a minha boca até o seu pau.  Cheirei aqueles muitos centímetros como que por instinto, me deixando conduzir de uma vez por todas para o outro lado do que, no momento, para mim, parecia ser o certo, o aceito, o paraíso perdido enfim encontrado. Inebriante, fervente, o cheiro honesto dele me fez marcar presença em mim mesmo como nunca antes. Minha boca se encheu e, antes de tudo, eu já ameaçava transbordar.

— Desistiu, primo? — A voz dele soou baixinha, rasteira, me atiçando, sendo proposital ou não.

Resolvi responder com a boca — ou melhor, com a língua. Passei a pontinha na ponta dele, e depois desci, molhando-o quase por completo. Ele pulsava, fervia, se deixava mais à vontade. O segurei na base e ainda tinha mais dele sobrando. 

Acomodei a cabeça na boca, sentindo o gosto com expectativa, pressionando de leve, e soltei. Ele foi ávido ao enfiar as mãos no meu cabelo, acariciando e sorrindo, me empurrando de volta pra sua parte mais vívida, genuinamente obra de um artista em sua fase mais prodigiosa. O que me fez pensar de novo nos poderes acima de nós, famigeradas testemunhas que aguardavam a sagrada reunião entre os Santos e os Bentes.

Voltei ao pau do meu primo com o pensamento de que talvez fosse isso mesmo o que elas queriam, afinal. Um Santos chupando um Bentes, ligação mais intrínseca impossível.

Engoli então cada parte do Noel. Enquanto eu ia, ele emaranhava mais e mais os dedos entre meus cabelos; enquanto voltava, ele dava sussurros e arquejos delirantes.

Agora, me permito pensar que estávamos em um tipo de ritual, ele sendo um deus pagão da idade média; eu, o fiel adorador; e minha boca, a oferenda. Quis que ele gozasse logo, mas fazia-o tremer quando de repente acelerava e o deixava molhado da cabeça às bolas. Porque, depois de um tempo, minha adoração ficara mais caprichada.

Meus lábios desciam por ele, demoravam a subir, meu tesão acumulando, o coração mandando sangue pra baixo, o pau latejando na minha língua. Às vezes, enxergava o seu rosto no escuro, imaginava os olhos fechados, a testa contorcida, os lábios entreabertos ameaçando gemidos.

Aqui, eu me afastei.

— Ah. Mas já? — ele reclamou, num sussurro ofegante.

— Já, né? Tua vez.

Ele sentou no colchão e caçou a minha virilha com a mão cega. Não dizíamos uma palavra, embora todos os sentidos conversassem livremente. E quando ele agarrou o meu pênis, arregaçando o prepúcio pra trás com pressa, eu segurei o gemido. Então, os seus lábios vieram e me abraçaram. Quentes, molhados. Eram veludo na pele, e eu nunca tinha provado essa sensação antes. 

O medo, o tesão, a tensão são combinações impressionantes. Viciantes também. Ele de joelhos, eu em pé. Arrepiado. Não sabia se me encolhia, se deixava, se olhava por baixo da porta, se gemia. O meu instinto inexperiente me fez agarrar a cabeça dele, fazer o mesmo carinho inconsciente que ele tinha feito em mim, como se assim e só assim eu pudesse ter um pouquinho de controle sobre o que ele fazia.

Ele também se afastou de mim, afinal, e a sua boca veio atrás da minha. Travaram aquele beijo de insegurança: nem um, nem outro sabendo ao certo como fazer, mas fazendo. Os olhos fechados, as sensações alertas. Cada toque arrepiava, cada sabor na superfície da língua aquecia. E ele tinha sabor bom. Sabor de liberdade, de igualdade.

— Me chupa de novo — a voz dele me achou.

Acedi. Agora era eu ajoelhando, descendo pela parede da barriga dele com a demora de um alpinista. Achei o membro, o suguei de volta para o morno da gruta. E cada vez que ele, o primo Noel, se contorcia ou abraçava o meu crânio com as mãos grandes, me estocando, mais eu sabia que estava fazendo direito, mais eu também endurecia, pingava.

Já não tinha mais a preocupação de alguém acordar, já não olhava mais por baixo da porta. No peito, o coração pulava, mas pulava menos por medo de ser flagrado por alguém que pelo medo de atravessar o misterioso campo do desejo alheio.

Aqui, o primo Noel afastou a minha boca do seu pau, segurando-o com impaciência.

— Que foi? — sussurrei com ingenuidade.

— Nada — gemeu. — Tu deixa eu te comer?

— Não aguento, não, primo.

— Mas deixa?

— Ah, não sei — fingi dúvida, o peito ainda mais taquicárdico. — Tu vai deixar também depois?

Ele deu uma risadinha.

— Deixo.

NoelOnde histórias criam vida. Descubra agora