O toque alto da campainha fez com que Azul saltasse rápido do sofá e corresse em direção à porta da frente, esperando para que eu a abrisse e ela pudesse finalmente pular na já-nem-tão-visita. Enquanto caminhava sorri pensando no quanto as coisas tinham mudado nas últimas semanas, no quanto meus cachorros tinham se acostumado à nova rotina e no quanto pequenos detalhes do meu novo dia a dia faziam uma diferença enorme pra minha felicidade.
Estava leve, livre e solta. Acordava com a sensação de completa satisfação pessoal fizesse sol ou chuva, frio ou calor, dia ou noite, eu me maravilhava com comentários rotineiros e situações normais, me sentia amada e, mais importante, amava.
Amava tanto que parecia infantil, irreal ou exagerado, numa intensidade tão profunda que parecia transbordar do meu íntimo e precisava ser demonstrada de forma física, fazendo-me manter um sorriso enorme no rosto o tempo inteiro. Eu já não podia mentir para meus amigos e minha família, eles sabiam apenas ao me olhar que eu estava totalmente entregue a alguém, e a verdade é que eu já nem desejava mais esconder também. Eu havia admitido para mim mesma a duras penas que não estava apenas curtindo o tempo ao lado dele, eu estava construindo algo concreto e, honestamente, queria que eles soubessem, queria que o mundo soubesse, eu não me importava.
Ou talvez nem tanto assim... por enquanto.
Sem muito mais tempo para qualquer reflexão, puxei a maçaneta e abri a porta, encontrando Kerem com a cabeça abaixada e o olhar fixo em algum ponto perdido do chão.
- O que foi? – Perguntei direta, chamando sua atenção ao mesmo tempo em que Azul iniciava seus pulos frenéticos ao redor de nós. Ah, a rotina.
- Olá para você também. – Ele disse com um sorriso de lado, quase debochado. – Você está linda.
Inclinei-me em sua direção e colei nossos lábios de uma vez, sentindo o seu gosto já tão habitual. Suas mãos não demoraram a fechar em minha cintura, puxando-me para perto e fazendo com que ficássemos o mais próximo possível. Antes que pudesse aprofundar o beijo ali mesmo afastei-me e levei-o para dentro, trancando-nos no nosso mundinho pessoal. Era melhor que nos mantivéssemos livres apenas no privado por enquanto.
- Obrigada. – Agradeci pelo elogio de antes mesmo sabendo que ele não era bem verdade. Eu estava com uma roupa qualquer e sem maquiagem alguma, não tinha me preocupado em fazer grandes extravagâncias para recebê-lo, e, bom, ele já havia me visto em grandes figurinos, com penteados caprichados e imperfeições disfarçadas. Mas esse era Kerem, afinal, cheio dos elogios nos pequenos detalhes, o que fazia meu coração aquecer cada vez mais e mais toda vez que os ouvia.
- Estou apenas dizendo o óbvio. – Respondeu antes de deixar um beijo em minha bochecha e iniciar uma caminhada até a sala, não sem largar sua mochila e seu tênis pelo caminho com naturalidade. Assobiou alto e chamou Azul, Noche e Niebla para perto, iniciando uma brincadeira boba com todos. Quando queria Kerem era um garoto e eu amava isso.
Aproveitei o tempo para continuar arrumando os petiscos na cozinha. O dia estava lindo, quente e perfeito para ficarmos ao ar livre, então preparava um pequeno piquenique para que pudéssemos sentar no terraço e aproveitar os resquícios do verão. Tinha comprado frutas, nozes, queijos e também um Martini rosé, o preferido de Kerem, como eu já bem sabia.
Muito embora tivéssemos tornado as visitas entre nós parte da rotina nos dias de folga das gravações, ainda tentávamos surpreender um ao outro de alguma forma, deixando sempre o gostinho de surpresa e expectativa no que quer que fizéssemos.
Kerem gostava de jantares à luz de velas, fazia elogios singelos a todo momento e era expert em dar presentes inesperados, mas o que mais acalentava meu coração era a sua vontade e esforço em fazer parte daquilo que era importante para mim. Ele tinha se tornado amigo de Nilay, Dilara e Serhat sem que eu ao menos pedisse para tentar, fazia o possível para se dar bem com minha irmã e sua família, e até com meus cachorros tinha criado uma intimidade imediata. Mas, acima de tudo, ele não tentava me mudar ou controlar, ele havia se adaptado a quem eu era, sempre me incentivava a fazer o que fosse de minha vontade, e se portava como meu maior fã.
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A happy hour
RomanceÀs vezes as maiores felicidades da vida estão nas pequenas coisas que são trazidas à nossa porta e que viram rotina...