34. O que é amor?

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➖💠 Capítulo 34 💠➖

A noite estava de um azul marinho intenso, o céu sem nuvens ostentava estrelas brilhantes que se destacavam em meio a imensidão. Luke amava observar o céu desde menino, de certa forma era como se a quietude o remetesse à magia dos Deuses em seu resplendor e a humanidade.

Seria uma noite perfeita para ser apreciada da janela de sua casa no Reino Unido que dava de frente para a botânica mais bonita da cidade ao alcance de seus olhos e uma boa bebida. Ele sentiria falta dos momentos que viveu lá.

De sua mãe usando um vestido midi florido e tiara prendendo os cabelos louros para trás regando as flores. As risadas de Cristian chutando bolas na janela do caseiro até ouví-lo vociferar palavreados chulos contra ele e fazê-lo correr. O olhar suave de Richard da varanda observando tudo com seu charuto nos lábios e óculos baixos de vovô.

Ele costumava sorrir naquele tempo, passavam horas seguidas juntos com ele lendo em voz alta os trechos preferidos dos livros que lia. Durante tempos Luke acreditou que seu pai era um amante de romances clichê, mas a verdade era que ele detestava.

Ainda assim continuava chamando-o no horário do chá, às 16 horas, quando o sol estava prestes a alcançar sua plenitude sobre o céu mas seguro o suficiente para não fazer mal a pele sensível dos filhos, caminhava resmungando sobre as dores de cabeça constantes até a estante e escolhia mais um romance.

Foram tantos que Luke perdeu as contas.

Aqueles dias reuniram um compilado com as mais bonitas recordações que tinha de seu pai. O homem que segurava sua palma arrastando o polegar contra as costas de sua mão em um pequeno gesto de consolo, não era o mesmo que nesse momento o expulsava do país. O tremor que mantinha seus dedos inquietos em um abre e fecha agonizante era apenas um reflexo insignificante do pavor que o assolava por dentro.

Ele riu, e a risada saiu curta como um sopro e seca como seu humor destoante daquela noite bonita.

Pais normais se conformavam em retirar o teto sobre as cabeças de suas crias, mas não o seu. Richard não suportaria ter a ideia de que sangue do seu sangue, que seu próprio filho, dividiria com ele a mesma pátria ou sequer o mesmo território. Por que o mundo continuava fazendo esse tipo de coisa com ele, era o que mais pensava.

Qual mal havia feito para merecer tamanho ódio por ser fiel a sua boa-índole? Richard não conseguia enxergar que foi ele quem o criou assim? Que lhe ensinou valores? A amar? A viver?

Já passavam das 22 horas do dia 25 de dezembro de 2026, e infelizmente, sua hora havia chegado...

Luke Whitford olhou seu reflexo no espelho com uma expressão desapontada. Ele parecia bem, mas seus esforços não tiveram o efeito que ele esperava: ele não parecia seguro de si ou um pouco mais velho.

Talvez tivesse se iludindo demais em acreditar que uma roupa seria capaz de ocultar toda a frustração que se instalava em seu peito ao perceber que aquilo estava mesmo acontecendo. Ele teria que partir, sendo exilado como o injustiçado Kovu ao som de "Um de Nós".

Na noite de Natal, depois que conseguiu falar com Jimmy por telefone, pensou duas vezes se deveria ou não ceder as chantagens de Richard e retornar para casa na Inglaterra. A proposta era tentadora, mas não o levou nem ao menos a cogitar a opção, pois, mesmo que fosse pagar caro, retirar a queixa estava fora questão.

Como alguém deveria se sentir ao perder seu último fio de esperança? Luke tinha o perdido, ele o perdeu ainda em vida. Com seu coração pulsando com vigor, sem nenhum vestígio do fim de seus dias, mas ainda assim, seu pai estava morto e ele sentiu-se tremer com a intensidade da percepção.

Sweet Mess • Doce Confusão • [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora