Após meus dias naquele lugar fui me envolvendo intimamente com cada criança, percebi seus medos e a cada ida a minha sala os conhecia mais.
Quem mais me chamava a atenção era Belga que nunca havia ido ao meu escritório para conversar, ele comandava a todas crianças, era o responsável pelas brincadeiras e dizia o que iria fazer.
Por mais que ele não tivesse ido eu percebi que Belga estava triste, afinal ele teria que sair do abrigo ao completar 18 anos que seria no outro ano, e isso para ele devia ser difícil.
Por mais que eu tentasse conversar ele sempre disfarçava com sorrisos o que me fazia acredita que estava tudo bem
As crianças fizeram uma roda na frente da casa e jogavam bola passando de um para o outro, eu me sentei abaixo de uma árvore para fazer meus relatórios, quando escuto gritos, desesperados.
_ Ajuda, por favor. Alguém me ajuda? Olho assustada em direção a casa. E Jhon vinha correndo com Belga em seus braços. Lhe escorriam sangue pelas mãos o que me estasiou naquele instante, senti meu corpo gelar e não consegui me mover por cinco segundos.
Como Morgana e Adelaide estavam no almoxarifado refazendo o estoque de alimentos, percebi que tinha que fazer algo.
Então sai correndo e pulei dentro do barco, puxei a corda e liguei o motor, Jhon colocou ele no barco, vi sua pele pálida e não via o sorriso lindo que ele tinha. Jhon se assentou para dirigir o barco eu sentei ao lado de Belga para fazer os primeiros socorros.
Deduzi ali que ele havia passado um canivete nos dois punhos, para cortar os pulsos. Durante a viajem até o médico eu me mantive fazendo pressão nos cortes e dizia a ele o tempo todo que tudo iria ficar bem.
Chegando ao hospital ele foi pingado na maca e levado a emergência para conterem o sagramento de seus punhos e darem pontos. Ele deveria fazer uma transfusão de sangue também afinal tinha perdido muito sangue até chega no hospital.
_ olha pela perda de sangue precisamos urgentemente que ele receba uma transfusão, e que o responsável conceda. Mas temos outro problema não sabemos o tipo sanguíneo dele e até sair o resultado podemos perde-lo. Disse o médico para mim e Jhon que esperávamos na recepção.
_ tudo bem eu vou doar a ele. Tire o quanto for preciso, sou O negativo. Eu disse a ele seriamente.
_ tudo bem. Vamos a sala para fazermos a coleta! Assim eu e Jhon acompanhamos o médico. Enquanto e me sentia fraca pela coleta Jhon estava sentado ao meu lado e me apoiava. Contava piadas e de como Belga dava trabalho quando chegou.
Nem percebi e acabei desmaiando, acordei com uma mesa com frutas, pão e um suco. Para que eu me alimentasse pra recuperar as forças durante a doação.
Tudo foi tão rápido por que eu já era doadora, não teve questionamentos nem nada apenas aceitaram minha ajuda. Porém apenas pensava como falhei feio em não ter conseguido feito Belga me contar sobre seus problemas, como pude não intervir, como aquilo tava me consumindo pela angustia.
_ assim que ele se recuperar, vou monitora-lo mesmo que precise o dia todo. Eu disse a Jhon, ele apenas sorriu e pegou na minha mão.
_ não se culpe, as vezes nem todo mundo quer ajuda ou concelho, só quer um pouco de atenção e poder ser quem realmente é. Jhon falou para mim, logo se debruço sobre a cadeira que estava e me abraçou.
_ como vc está, com relação a seu casamento? Eu o questionei.
_ bom acho que não vamos muito bem. Morgana quase não fala comigo nem se quer me ajuda nas tarefas mais, e também não dormimos mais juntos tem mais de um mês.
_ as vezes ela deve estar cansada do trabalho, ou muito atarefada. Mas se vc está triste com a situação deveria chama-la para conversar, é melhor a franqueza e a verdade, do que mentiras. Disse empurrando ele para me soltar.
Fui ao quarto de Belga e ao entrar o vi olhando para a janela.
_ me diga então, qual o propósito de ficar aqui, se fui privado de ter uma família de ser criado com amor, se não pude conhecer meus pais e nem saber o motivo de estar aqui, por que não me deixaram partir, eu não faço diferença nessa terra. Dito isso lágrimas caiam de seus olhos.
_ quem disse que vc não faz diferença Rafael? Todas as crianças do Bam te admiram, te respeitam, e vc não foi criado sem amor por que sei que Jhon te viu crescer, Adelaide e Morgana também gostam de vc. E agora vc tem a mim também para poder se segurar quando tiver essas crises. Se está lá é por que tem um belo motivo para estar lá, quem iria ser o melhor amigo de Charles e Menzo e quem iria divertir as crianças com histórias, piadas e brincadeiras. Assim eu disse a ele sentada ao seu lado na cama, enquanto acariciava seus cabelos.
Ele estava mais calmo, conversamos por 2 horas e vi ali um progresso. Fiquei muito feliz em poder ter feito ele enxerga que o motivo para resolver sua dor não era a morte, quem iria garantir que do outro lado não havia dor maior ainda? A vida é confusa e nos prega peças, nem sempre podemos dar ouvido ao coração, nem sempre ele está certo.
Tempo ao tempo, tudo se ajeita. Mas se não se ajeitar podemos aprender a encaixar as coisas e lidar com elas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
8 BESOUROS E OS TRAPOS DE BELGA
Short StoryUma psicóloga começa trabalhar em um orfanato, para ajudar as crianças a enfrentarem suas frustrações, com o suicídio de um adolescente ela dúvida de sua capacidade, se realmente é capaz de ajudar aquelas crianças. Suspense e romance encrementam ess...