A Resposta Para o Ouro

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Começamos com dez pessoas. Ele recrutou um grupo improvável, porém todos possuíam alguma habilidade útil: um arqueiro aposentado, dois açougueiros (nossos rivais de comércio), a bruxa da cidade (que não foi queimada porque vende pães deliciosos), um caçador de recompensa, um guarda (que teve que fingir estar doente para fugir do serviço), um mineiro, um fundidor e a criança mais endiabrada da região. Cada um com uma função na nossa jornada. 

A criança foi a primeira a ficar para trás. Ainda há uma chance de ela estar viva, mas não é mais da nossa conta, ela foi devidamente paga com os pirulitos de açúcar. A primeira abominação que aparece para todos é um gigante com a pele extremamente dura, só a um ponto fraco embaixo do terceiro braço, mas muito arriscado para lutar. O gigante tem predileção por presas que correm, então assim que a pirralha começou a correr, ele foi atrás. A diabinha corria bem rápido, por isso ela pode ter saído antes de ser pega. Os monstros não saem das masmorras por algum motivo.   

O arqueiro derrubou todos as aranhas voadoras do caminho, mas não conseguiu escapar das centenas de minúsculas cobras que o pegaram por baixo. Eram muito pequenas para acertar com a flecha. Sim, ele tentou. 

Os açougueiros foram excelentes para desmembrar todos os monstros com braços demais, parece que só com a cabeça e sangrando horrores eles não conseguem lutar muito bem. Mas escorregaram nos precipícios que estávamos escalando e caíram nas águas revoltas e possivelmente tóxicas. Na verdade, um deles caiu, mas o outro já estava dando trabalho com o pé torcido e é meu rival nos negócios, por isso eu o empurrei e acelerei nossa marcha.

O caçador de recompensa, aquele idiota enorme, deveria ter determinação o suficiente para nos levar até o final dos túneis onde haveria a maior recompensa da vida dele. Mas caiu numa armadilha ridícula, um colar de pérolas no topo de uma rocha. Ele nos despistou para ir busca-la, só que as pérolas eram o nariz de um monstro de rocha. Enquanto ele era devorado, nós escapamos silenciosamente.

O fundidor também foi ótimo. Ele que está acostumado a estar perto de altas temperaturas, pôde se aproximar o bastante das bestas de fogos para matá-las. O que era incrivelmente fácil, apesar do calor fenomenal que seus corpos emitiam, eram frágeis estruturas de carvão e cinzas, se desmancharam num só golpe. Mas o coitado se assustou quando apareceu um monstro com pés de cabras e chifres, ele era muito cristão e convencido que aquele era um demônio começou a falar frases decoradas em latim que ele ouviu do padre. Deve ter ido para o céu.

Agora só restam três. Eu, a caçadora nata e com sede de ouro. A bruxa que tem nos mantido vivos com remédios e poções e mantidos os inimigos mortos com remédios e poções. E o mineiro, que com seu vasto tempo gasto embaixo da terra, anda por esses túneis como se estivesse em casa. 

Ah! Também tinha o guarda, mas parece que ele não estava fingindo estar doente, começou a exalar um cheiro estranho e escarrar um catarro verde. A bruxa disse que podia ser contagioso, por isso deixamos ele para trás quando pegou no sono.

É claro que meu irmão já tinha previsto que a maioria iria morrer, por isso não havia problema descermos com um grupo de dez, a divisão da recompensa seria para poucos. Só não esperávamos que seria um caminho tão longo. Mas agora, chegamos a um amplo espaço aberto, do outro lado há uma pequena passagem de onde se pode ver algumas armaduras de ouro e baús de todos os tamanhos. Se aquele é o tesouro, não precisarei matar os outros dois, terá o bastante para todos. 

O que nos separa da sala do ouro é uma criatura do tamanho de uma criança, parece humana, mas alguma coisa nela parece não ser humana. Nem dá pra dizer se é um menino ou uma menina. Não parece que vai atacar, só está parada no meio do caminho, e já tem alguns minutos que a gente está esperando. 

Janete e a MasmorraWhere stories live. Discover now