Astrofobia

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Quem poderia imaginar que o garoto alto, de pele bronzeada e corpo definido poderia sofrer tanto com um medo julgado por muitos "infantil"?

- flashback on - 8 anos antes -

O dia havia sido exaustivo. Longas horas de ensaio, algumas broncas e puxões de orelha, mas uma coreografia parcialmente perfeita na visão de Jongin. Todos já haviam saído da sala de ensaio, mas o garoto continuava lá dentro, repetindo os passos milhões de vezes. Os mesmos pulos. Os mesmos giros. As ondulações de seu corpo e as mãos intercalando entre abertas e fechadas. Tudo para chegar no que o Kim considera perfeito. A chuva começava a cair lá fora e com ela se aproximava uma trovoada assustadora. Mas ele continuava naquela sala, alheio a tudo e todos, tanto que nem percebeu KyungSoo o observando da porta.

- Jongin - o mais velho chamou. Sua voz grossa arrepiando o mais novo, que até caiu no chão no meio de um giro.

- D.O. Hyung? - ele indaga enquanto se levanta. A visão turva pela tontura de não ter completado o passo não o permitia enxergar o Do, que corria apressado até o garoto caído.

- Me desculpe, eu te assustei. - ajudou o maior a se levantar e o indagou se estava tudo bem, recebendo um "não se preocupe, eu estou bem" como resposta. - Já está tarde, você precisa descansar.

- Eu ainda não terminei a coreogra... - o moreno respondeu nervoso mas logo foi interrompido por Kyungsoo.

- Jongin, você já está ensaiando a quase duas horas a mais que os outros! Se não descansar, não vai conseguir dançar amanhã! Vamos, eu levo você até seu quarto. - Sem escolha, o Kim engoliu em seco e assentiu. Apagaram as luzes da sala de ensaio e seguiram pelos corredores da empresa até seus dormitórios. A iluminação era pouca pelo horário, mas ainda assim o Do guiava o mais novo pelos corredores sem hesitar nenhuma vez.

- Prontinho. Descanse, saeng. - o mais velho pediu e recebeu uma reverência como resposta.

- Obrigado, hyung. Desculpe incomodar. - com um "boa noite, D.O hyung" o moreno se despediu e estava entrando no cômodo, até ouvir o garoto lhe chamando novamente. - Hm?
O mais baixo ficou na ponta dos pés e deixou um selar na testa de Kim, deixando ambos com as maçãs do rosto coradas. - Boa noite, moreno.

[...]

Já se passava de uma da manhã e a tempestade que caía lá fora ainda tinha a mesma intensidade que quando começou, as 22:00. O barulho dos trovões era um tanto assustador, mas Kyungsoo e os outros membros sabiam que estavam seguros do dormitório. O costume de levar uma garrafa de água para a cama era típico para o garoto, mas por alguma razão, não havia levado naquele dia em específico, fazendo Kyung se levantar e buscar água com alguém. Com cautela, levantou e procurou água em todo seu quarto, falhando nisso e logo indo procurar nos outros cômodos. Porém ao chegar na porta do segundo quarto, dividido entre os mais novos, Jongin, Sehun e Tao, ouviu um soluço choroso. Estranhando o som, chegou mais perto da cama do Kim, vendo que este estava coberto até a cabeça.

- Jongin? - chamou em um sussurro, ouvindo um soluço mais alto - Nini! O que houve? - lentamente, tirou a coberta do rosto do maior. Mesmo no escuro, era possível ver o quanto seu rosto estava vermelho e molhado além da falta de ar perceptível. Um raio cortou os céus e um trovão alto invadiu o ouvido dos garotos acordados. Kyungsoo viu seu dongsaeng se encolher e voltar a chorar, frágil como um bebê. - Você tem medo de tempestades? - Sem receber uma resposta, deduziu que sim, o moreno estava assustado pelos trovões.

Ao contrário dos pensamentos do mais novo, ao invés de ouvir uma risada ou receber alguns tapas, Soo apenas se aconchegou, sentando ao seu lado e deitando a cabeça do moreno em seu próprio colo, fazendo um carinho em seus cabelos.

- Flashback off -

Assim Kyungsoo descobriu que Jongin tem astrofobia. Desde então, todas as noites de tempestade, o mais velho saía de seu quarto para proteger o moreno, lhe dando carinho e o confortando com seus carinhos. Essa cena se repetiu durante anos, mas agora D.O. está servindo ao exército sul coreano.

-x-

O mês de janeiro chegou e com ele, os aniversários de Do e Kai se aproximavam. Jongin enviava mensagens para o mais baixo entre os dois praticamente todos os dias, dizendo o quanto estava com saudade de seu hyung. Kyungsoo, por sua vez, respondia que também sentia falta dos membros - claro, bem menos grudento que o Kim. Mas conforme o "Kaisoo day" se aproximava, as respostas eram bem menos frequentes, o que deixou Kai tristonho. Todos que conviviam com Jongin nesse momento podiam ver a tristeza em seus olhos, além de estar mais distraído. Ensaiava mais e mais tentando se distrair, até estar extremamente cansado, para enfim pegar seu celular e esperar ao menos uma resposta do Do. Mas ele não obtinha uma resposta a dias.

Mais uma vez Kai estava na sala de dança, treinando todas as coreografias que conhecia. Desnecessário, mas era o único jeito de se distrair que encontrou. Ensaiando e aperfeiçoando, não se deu conta de quanto tempo passou e o dia lá fora já se encontrava escuro. Não apenas isso, mas uma tempestade tenebrosa castigava os cidadões de Gangnam e outras localidades próximas. Os raios cortavam os céus e os trovões assustavam até as luzes, que piscavam sem parar. Jongin não poderia ir para casa assim, seu pânico poderia o matar em um acidente. Visto que seu dormitório continuava intacto, decidiu passar a noite ali mesmo.

[...]

Os sons da trovoada ficavam cada vez mais altos, nem mesmo dois cobertores pesados sob a cabeça de Kai abafavam-nos. Os flashes de luz eram tão brilhantes que ele conseguia vê-los mesmo tampando os olhos. Sentia suas bochechas molhadas e uma falta de ar terrível. Agarrava os lençóis e se contorcia, tentando se acalmar. Claro, todas as tentativas falharam.
Enquanto o garoto sofria embaixo das cobertas, uma figura entrava em seu quarto. Jongin não sabia quem era, afinal não tinha visto seu rosto, mas quando o anônimo se aninhou embaixo das cobertas consigo, o abraçou e sussurrou em seu ouvido um "vai ficar tudo bem, eu tô' aqui com você, Nini.", Kai sabia que era Kyungsoo ali. Seu coração bateu mais rápido ao ouvir aquela voz grossa tão, tão pertinho de seu ouvido. Um arrepio percorreu seu corpo e a única reação que teve foi se agarrar ao corpo pequeno. Com o rosto colado ao peito do mais velho, Jongin murmurava frases soltas como "eu senti sua falta".

A essa altura, o moreno não temia mais a tempestade lá fora, e como um relâmpago, um flash de coragem percorreu seu corpo, e então...

Jongin selou os lábios de Kyungsoo.

Um simples encostar de lábios, mas significou muito para ambos. Enquanto Kai murmurava pedidos de desculpas, Do se permitiu selar os lábios do mais novo mais uma vez, aproveitando para aprofundar o ósculo. O mais baixo pediu passagem com a língua que logo foi cedida. Os músculos se roçavam dentro da cavidade bucal alheia, buscando conhecer cada canto dela. As mãos se perdiam nos fios de ambos e os corpos se contorciam em agonia, buscando mais e mais contato.

A falta de ar se fez presente e eles se separaram. Deitados lado a lado, sorrindo bobo, Jongin tomou coragem e revelou: "Hyung... eu te amo". "Eu sempre te amei, meu moreno. Feliz dia de Kaisoo." E então o Kim foi puxado para outro beijo. E outro. E outro. E vários beijos até pegarem no sono.

Rainy Days - KaiSooOnde histórias criam vida. Descubra agora