6 - Isabel

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Rio de Janeiro - 1868

_ Sim, dona Úrsula. Eu vou ter um filho! – Maria confirmou sem tirar suas mãos do ventre. As lágrimas corriam por seu rosto.

_ Ah, minha filha...

Foi só o que Úrsula conseguiu dizer. Ela sabia o que significava uma mulher ter um filho sozinha naquela sociedade. Ainda mais uma mulher pobre. Aproximou-se de Maria, segurou sua mão e a conduziu para que se sentassem na cama.

_ Maria, você sabe que sua mãe e seu pai nunca se casaram oficialmente, não sabe?

_ Claro que sim, dona Úrsula. Meu pai tinha seu conflito com sua família e, por amor, mamãe não se importou com nada por viver esse amor.

_ E você sabe o que isso significou para você, não sabe?

_ Eu nunca me importei com os maldizeres, dona Úrsula. Ainda mais porque sou testemunha do quanto meus pais se amavam e do quanto eles foram felizes. Tanto que mamãe nunca mais foi a mesma depois que ele morreu... Foi morrendo aos poucos talvez de saudade do amor de sua vida.

_ E você já pensou no que vai ser desse bebê que você espera? – dona Úrsula chegou ao ponto decisivo da conversa.

_ Sim... – Maria respondeu triste – Até porque, ao contrário da minha mãe, o pai dele não estará ao meu lado.

_ O senhor Esteban sabe que vai ser pai?

_ Não e não vai saber! Eu entreguei a ele meu amor, dona Úrsula e ele me abandonou! E a senhora sabe que ele se comprometeu com Ana Rosa por seu dote! Simplesmente pelo dote de 30 contos de réis. Como vou apresentar esse pai para meu filho? É melhor que ele seja filho de uma mãe solteira. Com meu esforço eu vou sustentá-lo e educá-lo.

_ Você sabe que tudo isso vai ser muito difícil. Nós estamos numa situação complicada, com algumas dívidas. Se não fosse a generosidade do senhor Eduardo não teríamos conseguido pagar as despesas do funeral de Sofia.

_ Sim... – Maria baixou os olhos – Mas é por esse bebê que eu não vou desanimar, dona Úrsula. Por ele vou seguir em frente. E ele vai ter e melhor vida do mundo independente de qualquer convenção.

_ E por que você não aceita o amor do senhor Eduardo, Maria? Ele te ama tanto, tanto. Tenho certeza que se casaria com você ainda que grávida de outro.

_ Eu já pensei nisso. Já pensei nisso e não posso fazê-lo. Não seria justo com Eduardo. Se me doeu e me dói tanto o desamor de Esteban, como vou fazer o mesmo com outro homem? Vou tomar as rédeas da minha vida, me concentrar em seguir em frente, superar a morte da minha mãe e encontrar a melhor maneira de sustentar o meu filho.

***

Flashback Off

Rio de Janeiro 1870

Esteban se aproximou lentamente de Maria. O coração dos dois se acelerou. Ela teve medo. Sim, medo é a palavra exata. Ela não queria dar a ele nenhuma oportunidade de se aproximar, confiar de novo nele, seu interesse em casar-se Esteban era simplesmente humilhá-lo e se vingar de sua atitude injusta para com ele. Eram 2 anos! Dois anos inteiros remoendo aquela mágoa, aquele sentimento absorvente e de repente com um toque, uma troca de olhares, ela sentia perder-se em suas defesas.

O que aquele homem tinha? Da mesma maneira que lembrava da dor de seu abandono, do desamparo provocado por sua ausência recordava o romantismo, os beijos, as carícias de como tinha ido ao céu com ele na noite em que estiveram juntos. Havia sido uma vez, uma única vez, mas deixou marcas irremovíveis nos dois. Maria não só ficou grávida como percebeu, naquela única noite, que jamais entregaria seu corpo a outro homem depois de haver estado com aquele que já possuía seu coração. E Esteban estava marcado com a sensação maravilhosa de possuir à mulher que amava e a sensação de querer fazer amor com ela sempre. Mas ela o havia humilhado, tratado-o como um nada há tão só uma noite... E o que isso importava? Seus lábios tão deliciosos diante dele, sua pele sedosa, aqueles olhos verdes, seus cabelos negros, parecia uma obra de arte, tinha que beijá-la, precisava fazê-lo.

Em Busca de Teu PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora