Capítulo Único

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(Yaz)

Senti o clima péssimo na TARDIS assim que a porta se fechou. Acho que isso era parte por minha causa, parte por causa da doutora. E parte por todo resto que tinha acontecido, mas enfim. Era muita coisa para pensar ao mesmo tempo.

Eu nunca imaginei que eu fosse me sentir tão estranha. Por um segundo lá, quando todos nós da ‘fam’ (como a doutora nos chama) nos abraçamos, eu quase me senti aliviada.

Não sei se era um sentimento vergonhoso de se sentir ou não, mas isso não mudava o fato de que eu o havia sentido.

Agora tudo só parecia pior. Estranho.

Eu Yasmin Khan, me sentindo uma garotinha assustada e constrangida. E perdida ainda por cima. Dava para acreditar? Desde quando isso acontecia?

Mas vinha sendo assim. Desde a doutora, vinha sendo assim.

— Acho que somos só nós duas então, não é? Bom, isso parece divertido. Duas garotas, uma TARDIS, um universo inteiro para visitar. Vou te levar para visitar o shopping de Nova Nova York. Você vai adorar. Oh, século 51, século do Jack! Ele não te deu nenhum spoiler não é? Você vai adorar!

A doutora não me deixou dúvidas ao falar rápido e tão animada quanto falou.

Ela era assim, sabe? E eu não sei como conseguia, mas era assim. Principalmente quando estava nervosa, triste, preocupada, escondendo alguma coisa…

Coisas que eu sabia que estava.

Eu sempre fui boa em desvendar o que havia por trás dos olhos da doutora. Foi isso que me fez decidir largar tudo para trás e viajar com ela, Ryan e Graham. Eu quase conseguia ver todas as galáxias que ela já tinha visto, as vidas que ela tinha passado, as pessoas que tinha tocado...

Era como se ela, para mim, tivesse o vortex todo dentro dos olhos, girando, como estrelas cadentes num looping infinito em direção ao fundo, em direção a sua alma.

Acho que era coisa minha apesar. Eu sempre fui boa em interpretar pessoas e em descobrir suas intenções.

Perguntei ao Ryan uma vez, se ele também via. Ele disse que não. Para ele, a doutora tinha um tipo diferente de aura.

Ele descreveu como sendo aquilo que trazia vida e esperança. Ridiculamente falando, como o S da roupa do superman.

Ela pega vidas quebradas. Mundos quebrados. Causas perdidas. E luta e vence por eles quando ninguém mais faz isso.

Acho que foi ai, nessa vez, que percebi que a doutora era realmente diferente para mim. E o mais interessante? É que além de tudo ela era a coisa mais incrível que eu já tinha encontrado!

Sabe, as pessoas, as histórias, muitas delas me encantam. Eu tive uma vida boa, tive sorte de conhecer pessoas incríveis, mas a coisa era essa não é?

A Doutora não é uma pessoa. Ela é como várias pessoas em uma, misturadas, cada uma quase independente uma da outra.

Pareceu mais do que eu podia lidar no começo. Era tanto… encanto…

Depois de um tempo apesar, quando eu fui tirada do magnetismo e fiquei consciente de novo, não foi muito para lidar. Ao contrário.

Eu era como um planeta e a doutora era como um sol. Ou a lua e terra. Ou mais corretamente, a doutora era como um buraco negro e eu um mísero planeta que parecia fraco e inabitado agora, diante da magnitude da força que do buraco negro o sugava para dentro lentamente.

Não tinha como resistir. Eu não conseguiria me libertar da doutora nem se quisesse.

Toda vez eu era mais e mais sugada por ela, pelas viagens, pelos seus olhos, e nada mais parecia suficiente para mim depois disso.

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