Compass

1. Cansaço

Gojo Satoru era um ser desprovido de vergonha na cara. Disso todo mundo já sabia. Arrogante, falava o que pensava sem medo das consequências, preguiçoso, viciado em doces e totalmente ciente de sua beleza exótica e de seu potencial como o xamã mais forte vivo. Mas o que poucos sabiam era que ele possuía uma única fraqueza.

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Era uma noite preguiçosa e fria, perfeita para dois amigos verem filmes escolhidos aleatoriamente apenas porque era divertido. Chovia devagar, cada gota levando um certo tempo até se misturar com as tantas que já haviam caído. Dentro de um quarto apertado, encontravam-se dois adolescentes enroscados confortavelmente em um sofá velho, cobertos por uma manta gasta. O quartinho era iluminado fracamente por um filme já visto tantas vezes que os rapazes poderiam ditar as falas junto com os personagens se quisessem (e às vezes eles realmente faziam isso). Um dos jovens estava sentado confortavelmente, com as pernas dobradas e as mãos repousando sofre elas, no quentinho da coberta. Apesar de estar confortável, suas costas estavam quase retas e seus cabelos, presos em um coque. Já o outro, estava esparramado no sofá pequeno demais para suas pernas longas, que estavam apoiadas na mesinha, na qual repousavam os petiscos e bebidas. Suas costas, totalmente tortas enquanto a cabeça branquela encostava nas costas do sofá e brincava com seus habituais óculos escuros nas mãos, sem tirar os olhos cansados da TV velha. Estavam vendo filmes a horas. Em um súbito movimento, endireitou suas costas e soltou um longo bocejo, enquanto alongava seus braços e encostava sua cabeça no ombro do amigo:

– Suguru, tô com sono...

Conhecendo muito bem seu amigo, o moreno sorriu de lado:

– De onde vem toda essa manha? Quer um carinho, bebezão? – Respondeu irônico.

– Ah, cala a boca. – Disse o mais alto. Ele sorria. – O treinamento tá acabando comigo. Dá um espaço aí...

E dizendo isso, se jogou suavemente de cara nas pernas dobradas do outro, que não esperava essa ação, nem vinda do imprevisível Gojo Satoru. Um pouco sem jeito, Geto se ajeitou melhor e olhou para o amigo, com curiosidade. Era irônico como aquele cara, sempre cheio de si, sempre preparado para ativar sua técnica, sempre atento a tudo com seus "seis olhos", ficava totalmente indefeso nesses momentos em que estavam sozinhos. Era mais irônico ainda, para Suguru, como isso mexia com ele próprio. Se sentia confortável com os habituais comentários sarcásticos do amigo, sua risada alta, sua falta de modos, as discussões que nunca levavam a lugar algum, ou mesmo treinando movimentos corporais e exorcizando maldições. Mas esses momentos em que o silêncio entre eles pesava o deixava tenso e sem saber como agir. Sem saber se poderia realmente deixar seus pensamentos vagarem dessa forma, beirando seus mais escondidos sentimentos....

Satoru se mexeu, aparentemente adormecido. Se aninhando no colo quentinho, como um gato cheio de pelos brancos, parou com o nariz na barriga de seu amigo. Respirava lenta e pesadamente. Seus cabelos estavam bagunçados, os cílios brancos faziam curvinhas sensuais em seus olhos fechados. Geto não resistiu ao impulso de afagar aqueles cabelos rebeldes, soltando sua respiração lentamente (nem tinha percebido que a segurava), enquanto fazia um carinho desajeitado. Céus, era tão difícil analisar sempre o limite do que era permitido entre amigos normais e o que seria estranho! A verdade é que Geto Suguru estava ficando cansado. Cansado de ter que prestar atenção em todas as suas atitudes diante daqueles olhos atentos que pareciam possuir uma gravidade própria. Por mais quanto tempo teria que reprimir tudo o que sentia?

Enquanto o moreno se permitia deixar seus pensamentos fluírem livremente, suas mãos pareciam ter vida própria e, após cansarem de brincar com os cabelos branquinhos, passeavam suavemente pelos contornos delicados daquele rosto tão lindo. Sobrancelhas espessas e tão brancas quanto os outros fios, cílios bem definidos e longos, nariz pontudo, boca macia e convidativa... Em um sobressalto (em especial por um estrondo causado por um trovão), percebeu o que estava fazendo e afastou suas mãos rapidamente daquele rosto adormecido, com o coração martelando em seu peito. Onde estava com a cabeça? Depois de todo cuidado que sempre tivera quase estragou tudo!

Acordado pelo barulho, Satoru abriu devagar os olhos brilhantes, um pouco confuso e virou-se para a TV, que já passava os créditos finais do filme. Sentou-se lentamente, esticando todo seu corpo aos poucos e, encarando o amigo, sorriu sarcástico:

– Vai dizer que agora tem medo de trovão?

– Jamais subestime o que acompanha os trovões – respondeu o outro, se recompondo. – Já está tarde, vamos desligar tudo e ir dormir em nossas camas.

Não teve como o branquelo questionar essa, já que logo em seguida veio um longo bocejo e seus olhos ainda pesavam. Voltando às atitudes habituais de ambos, levantaram-se e lentamente colocaram ordem no pequeno aposento, deixando o sofá solitário e gelado mais uma vez, sem aqueles corpos quentes e muito vivos para lhe fazer companhia.

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De volta em seu quarto escuro, Satoru se jogou em sua cama pesadamente, enfiando a cara em seu travesseiro confortável. "Mas o que foi aquilo que aconteceu? ". Virou-se, ficando de barriga para cima e tocou seus lábios olhando os desenhos abstratos que se formavam no teto de madeira. Pensou ter sentido um leve toque em seu rosto, especialmente em sua boca quando foi acordado por aquele barulho. Estaria imaginando coisas? Ou ainda estava sonhando? Ficou mais uns minutos com os pensamentos vagando até que, soltando outro longo bocejo, se enroscou em sua coberta e dormiu mais uma vez.

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Notas finais:

Olá bolinhos de morango,

Essa é a minha primeira fanfic na vida, então pode não ter ficado perfeita, mas ta feita com muito amor! Vou postar 1 capítulo por semana, então votem e comentem o que acharam ❤️

*obs.: quando eu escrevi essa fic ainda não tinha aparecido o Suguru do vol 0 (ou do flashback) na animação, por isso escrevia os olhos dele como negros (seguindo o anime). Não vou mudar esse detalhe aqui, mas as próximas satosugu sairão com a cor do filme (vol 0) ou do mangá, onde são roxos.