Sentia-se extremamente relaxado. Estava deitado de bruços em sua cama, abraçando o travesseiro e envolto em uma bagunça de cobertas e lençóis revirados. Havia acabado de acordar, mas não abriu os olhos, somente curtindo sua preguiça enquanto ainda podia. Foi quando sentiu um peso a mais na cama. Esticou seus braços e pernas devagar e finalmente abriu os olhos, virando de lado. Quem havia deitado ao seu lado era seu melhor amigo, por quem percebeu recentemente que já estava apaixonado a algum tempo. Geto estava com roupas confortáveis e deitado de olhos fechados. Seu cabelo estava solto, esparramado atrás de si. Ele estava perigosamente perto, mas totalmente relaxado. "Estranho".
– Ei, errou de quarto? – Perguntou o primeiro, baixinho e com a voz rouca, reprimindo o impulso de acariciar o rosto do outro rapaz. "Lindo".
– hmmmm... – Suguru somente resmungou e, para desespero do primeiro rapaz, o abraçou, aproximando seus rostos e juntando seus corpos. Sem saber como reagir, Satoru beliscou a bochecha do amigo dizendo um "ei!" um pouco mais alto. Soltando o abraço, mas sem se afastar, o moreno segurou a mão do mais alto em seu rosto e abriu os olhos, o encarando com intensidade. Sem mais se mover. Apenas mantendo um sorrisinho provocativo em sua face. Gojo não conseguia pensar. Estavam tão perto que era possível sentir a respiração do outro sobre a sua boca e sua própria respiração estava pesada. Tampouco conseguia desviar os olhos dos lábios do outro, desejando incontrolavelmente o beijar. Não conseguiu mais se segurar. Rapidamente, desviou a mão que estava no rosto para os cabelos escuros, puxando as mechas soltas entre seus dedos com força e finalmente juntou seus lábios, que imediatamente se abriram, famintos, permitindo que suas línguas se encontrassem.
Logo ambos eram uma bagunça de braços, pernas, mordidas leves, suspiros baixos. Reviraram-se na cama mais de uma vez. Parecia que por mais grudados que estivessem, não era o suficiente. Nunca era o suficiente. A mão que não estava perdida no mar de cabelos longos encontrou a barra da camiseta do outro e agora estava em contato com a pele quente. Subiu pela cintura de modo muito suave, passeando pelas costelas, costas, peito, e depois desceu novamente, passando pela barriga (o sentiu ofegar em sua boca quando passou por ali), e por fim explorando o espaço por dentro da calça do outro. Escutou um gemido gostoso e...
Sentiu uma dor infernal atrás de sua cabeça, despertando completamente. Agora ele estava em seu quarto silencioso. Sozinho, zonzo, suado e no chão ao lado de sua cama, preso em meio aos lençóis que o sufocavam. Seu coração parecia querer fazer um buraco em seu peito. Ele havia caído da cama. E sonhado com seu melhor amigo. As coisas não podiam ficar piores.
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A manhã estava fresca, mas muito clara. O sol parecia fazer um carinho tímido e morno na pele, em contraste com o vento geladinho. Seria uma manhã gostosa para ficar deitado mais um pouco, ou então aproveitar a presença da luz quentinha, lá fora. Porém, dentro de uma sala de aula um pouco escura, estava sentado um rapaz mais pálido do que normalmente era, com uma das mãos cobrindo os olhos. Uma dor de cabeça o atormentava, junto com imagens que não conseguia apagar.
É comum uma pessoa acabar sonhando com a outra por quem está apaixonada, não é motivo para se envergonhar. O problema era quando essas pessoas eram dois amigos que andavam sempre juntos e um deles percebeu estar apaixonado somente depois de ser um completo sem noção, com gestos íntimos demais. O problema, ainda, era que ele também não tinha decidido o que fazer sobre o que sentia. E as imagens daqueles sonhos reais demais não saíam de sua cabeça. Como é que ele olharia para Geto agora?
Mas, "sonhos"? No plural? Sim, para a infelicidade do nosso jovem xamã, aquele não havia sido o único. Foi apenas o primeiro. Alguns dias depois vieram outros, que envolviam os dois em momentos ainda mais íntimos e intensos, sem a ilustre participação de suas roupas.
