— Algum machucado? — Doyoung perguntou assim que Taeyong e Yukhei entraram no abrigo. Os dois negaram.
— Dessa vez foi tranquilo.
— Hyuck? — Jaemin me chamou — Pode me ajudar?
Peguei uma das mochilas e fomos até os armários improvisados que havíamos achado perdidos no meio da rua. A cada ida à procura de alimentos, eles voltavam com menos coisa a cada vez, e isso nos deixava preocupados. Talvez precisaremos nos deslocar para outro abrigo em breve, mais perto de outras fontes de suprimentos.
As vezes sinto falta da grande casa antiga que encontramos, mas agora ela está tão distante que nem ao menos vale a pena pensar na possibilidade de voltar. É impossível não pensar em como as coisas seriam diferentes hoje se não tivéssemos saído de lá naquela jornada que nunca mais foi mencionada. Faz 364 dias. Sim, eu estive contando. Talvez amanhã eu pare de contar.
— Precisamos de um sistema novo para organizar a comida. Cada vez está vindo menos e continuamos comendo a mesma quantidade — Jaemin disse baixo, pegando as latas de legumes e colocando-as no armário.
Era bom ver como Jaemin vinha evoluindo tanto desde o dia. Desde 364 dias atrás. Dá para ver que aquilo o afetou tanto quanto à todos. Talvez mais. E cada dia sinto Jaemin mais e mais parecido com ele. Aquele quem eu não ouso chamar, e me proíbo de pensar, mas que esta sempre aqui, e ali. Em todo lugar.
Ele está nessa mochila, que era a que sempre carregava consigo para todo lugar. Ele está nos dias de jogos que fazemos sempre que podemos. Está em cada esquina que viro e cada supermercado que vejo. E ele está nesse salgadinho que acabo de pegar da mochila. Esse maldito salgadinho.
Terminamos de guardar as coisas e seguimos para onde o resto do grupo se encontrava. Taeil falava alguma coisa sobre como a lua estava estranhamente bonita na noite anterior, mas apenas Taeyong prestava atenção no que ele dizia. Yukhei continuava com sua mania de contar as balas das armas, mas agora fazia isso mesmo quando não estava preocupado com alguma coisa. Renjun estava ao seu lado, anotando coisas em seu caderno.
Renjun mudou tanto desde 364 dias atrás. Se tornou muito mais calado e cuidadoso. Eu sei que ele se culpa por tudo, mesmo que todos insistimos que a culpa não seja dele. Mas os gritos durante o sono, os pesadelos e as olheiras de insônia não mentem, Renjun ainda sentia tudo que sentiu naqueles dias. As únicas pessoas com quem falava mais que simples comprimentos e respostas às perguntas eram Yukhei e, ironicamente, Jaemin. Os dois se tornaram mais próximos nos últimos meses, aprenderam a conviver e gostar da presença um do outro. Ele ficaria orgulhoso.
Doyoung estava sentado em uma almofada, encarando a parede ao invés de prestar atenção na conversa que acontecia ao seu lado. Em Doyoung, a dor havia começado há mais de 364 dias atrás, já que ele havia visto as marcas no dia em que elas aconteceram, e havia ajudado a escondê-las. Lembro dele me dizendo como se sentia perdido todos os dias por não conseguir ajudar o amigo além de cobrir e cuidar daquele machucado para que não inflamasse, mesmo a inflamação sendo o menor dos problemas. Não pôde ajudar nenhum dos dois amigos. Eram casos em que todo o seu esforço e treino simplesmente pareciam inúteis. Doyoung dizia como era fácil se sentir inútil quando sua luta era contra o desconhecido. Sua ajuda tão esperada e confiada só podia funcionar até certo ponto, mas para o que era mais necessário, ele não tinha absolutamente nada que pudesse fazer, nenhum controle, além de dizer palavras de conforto nos últimos momentos. Me lembro de vê-lo conversando com Jaehyun durante suas últimas respirações. E me lembro de ver Jaehyun tentar esboçar um sorriso antes de sua visão se perder no vazio. Gostaria que Doyoung acreditasse em mim quando digo que as vezes, tudo o que eles faz é sim o suficiente.
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one will die before he gets there
Fanfiction"Lutamos tanto para sobreviver nesse mundo para no fim, morrermos de qualquer jeito. Morrermos quando e onde deveríamos estar seguros. Morremos salvando outra pessoa, porque para nós a vida não faz mais sentido e porque para nós, aquela vida vale ma...