Capítulo 1.

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Kara estava atrasada e ela sabia que isso provavelmente lhe custaria alguma coisa, tanto dos seus filhos quanto da sua esposa. E infelizmente ela sabia exatamente o que custaria no seu casamento, sabia que receberia um olhar triste, vazio, talvez até decepcionado da outra mulher e ela não poderia culpá-la, sabia também que a culpa de receber aquele olhar não era do seu atraso, não era porque demorou de entregar uma matéria hoje e deixou a mulher e os filhos esperando para o cinema de fim de férias e sim pelo desgaste do seu casamento. Enquanto caminhava pelas ruas de National City, apressando os passos para chegar em casa o mais rápido possível, ela sentiu que a conversa que marcaria provavelmente o fim do seu casamento estava próxima e não adiantava ela tentar adiar mais ou fingir que seu casamento estava bom porque não estava. Sequer lembrava da última vez que beijou sua mulher com paixão como costumava fazer no início do casamento e até mesmo durante anos depois. Secretamente, Kara Danvers culpou seu ex-cunhado por aquela situação que se encontrava, mesmo que no fundo soubesse que não era culpa dele, mas talvez - e só talvez - se ele estivesse presente, seu casamento continuaria com a mesma vida que sempre teve. E ele teria se certificado disso.

Ela poderia ter ido com o motorista da família para casa, normalmente a secretária da sua esposa fazia os horários dela combinando com o da Danvers para que não houvesse choque entre elas e as duas ficassem presas no trabalho ao mesmo tempo. Mas naquele dia ela dispensou Marcel, ela estava finalizando uma matéria e saber que tinha alguém a esperando com certeza mexeria com seu desempenho e sua concentração na escrita, então pegou o transporte público, um metrô com baldeação até chegar ao subúrbio, onde agora morava e ela teria que caminhar no mínimo três quarteirões, mas não se incomodava. Naquele lugar, onde a maioria das famílias eram ricas ou tinham uma vida financeira melhor do que ela jamais imaginou ter, as pessoas estavam acostumadas a andar de carro, algumas famílias tinham até dois carros na garagem mas Kara nunca se imaginou como uma mulher que viveria no subúrbio, para ser sincera, ela viveu em seu apartamento tempo demais desde que conseguiu seu primeiro emprego como assistente de Cat Grant e ele ficava em uma área humilde, mas perto do centro de National City, facilitando seu ir e vir e carro próprio nunca passou pela cabeça da loira. Mas isso mudou, quando ela se casou e teve um casal de gêmeos. Primeiro, ela havia se mudado para a cobertura da sua esposa e o lugar era grande o suficiente para as duas mas com a chegada iminente de duas crianças, elas decidiram que o melhor a se fazer seria comprar uma casa em um lugar calmo e seguro, afinal, ela casou com uma Luthor. Agora, quase seis anos depois, Kara tinha um motorista e um carro na garagem que quase nunca usava, mas que estava ali para qualquer emergência com os gêmeos.

Quando entrou na rua da sua casa, que ficava no final quase próximo a uma rotatória, sendo uma das maiores casas do lugar, ela respirou fundo. Ela queria abrir a porta e sentir os braços quentes e apertados da sua mulher, queria envolver a mulher em um abraço depois de um dia exaustivo e depois queria sair com ela e seus filhos para o cinema mais próximo e antes de dormir, fazer amor com a mulher que amava como se fosse a primeira vez ou talvez apenas sentar e conversar, contar como foi seu dia e ouvir ela contando como foi o dela enquanto ela passava hidratante que possuía um cheiro doce em seu corpo. Mas isso não aconteceria, pelo contrário, receberia um sorriso frio quando ela lhe desse um beijo na testa, como duas pessoas que ainda sentiam carinho e respeito pela outra, mas a paixão não existia mais. Kara arriscaria dizer até que existia amor entre elas, mas ele estava tão apagado que nenhuma das duas sabia como revivê-lo. Mas quando se aproximou da porta, girando a chave e ouviu os passos apressados do outro lado e duas vozes conhecidas, seu coração se encheu de alegria e ela quase esqueceu do seus problemas, porque naquele momento só o abraço apertado e a felicidade em vê-la das suas duas pessoas favoritas no mundo valeria a pena.

- Mamãe! - Um pequeno ser humano loiro agarrou nela e ele nem chegava em sua cintura, mas apertava suas pernas.

- Oi, filho! - Kara se abaixou, carregando o menino e dando um beijo em sua bochecha. Mais tímida, a garota do mesmo tamanho esperou a mãe se dirigir à ela. - Oi Nell. - Kara cumprimentou, a abraçando com o outro braço e beijando o topo da sua cabeça. - Como foi o dia de vocês?

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⏰ Última atualização: Jan 08, 2021 ⏰

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