O primeiro mandamento

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Em um acampamento de um grupo de demônios, um jovem tecelão e caçador costura o mais novo membro de sua família, aparentemente uma jovem, uma irmã, assim que termina ele deita a boneca ao lado de outros dois bonecos maiores, um pai e uma mãe, o jovem para por um minuto pra admirar o seu trabalho e esboça um sorriso leve no rosto.

Ele sai da sua cabana logo depois de fazer um carinho em seu gato, com sua máscara de coelho e uma faca pra caçar, ao caminhar pelo acampamento ele percebe os olhares de medo e desprezo vindo de alguns dos seus, mas não era algo novo pra ele, sempre foi assim, temido e odiado até mesmo por outros demônios. Porém isso nunca o impediu de cuidar deles, de caçar por eles.

Adentrando na floresta ele se prepara pra rastrear sua próxima presa, usando sua habilidade única, as teias, ele teceu uma armadilha pegando boa parte da floresta ao redor do acampamento, não demorou muito pra ele sentir a presença de alguns seres através dos fios, três lobos enormes quase do tamanho do jovem caçador que ao verem ele se prepararam para o ataque, mas o jovem puxou suas linhas antes que algo se quer pudessem pular pra cima dele.

Logo ele se aproxima da criaturas com sua faca de caça e como um breve lamento diz:
– Pobres criaturas sem paciência. – em seguida alivia a dor desses pobres animais.

Voltando pro acampamento ele vê um grupo de crianças ao redor de um homem que obviamente não é daquele lugar, ele possui uma pele morena, cabelos escuros, um olhar que parecia carregar todas as chamas do mundo e o que deixava mais óbvio a diferença era um sorriso divertido de quem está sempre aprontando, esse homem parecia estar contando histórias. Uma coisa surpreendeu o jovem caçador, o homem parecia ter uma marca das sombras, assim como ele , mas aparentemente não tinham medo dele, apenas de divertiam com as suas histórias.

Porém ao invés de se aproximar do homem ele seguiu com seus afazeres, entregou os lobos para os líderes para poder em fim voltar para sua cabana e para o seu gato, sua única família viva, que assim como ele tinha uma mancha escura na altura da cintura, como se o gato também tivesse sido escolhido pelas sombras.

– Yamato! Cheguei! – o jovem gritou pra chamar o gato, mesmo com a cabana sendo pequena, em seguida o gato de aproximou do dono e se arrastou entre suas pernas como forma de carinho.

O jovem se sentou no chão ali mesmo pegou seu gato, olhou pra ele como se estivesse olhando pra um irmão e então começou a conversar com ele:
– Yamato, você protegeu bem nossa casa e nossa família mais uma vez!

E então fazendo uma voz mais fina e mexendo com o gato se respondeu:
– Obrigado irmão Makoto!

Então foi adormecendo com o gato em seus braços, acordando a noite com um barulho de explosão em cima do acampamento então no desespero saiu de sua cabana pronto pra lutar com qualquer coisa que os tivessem ameaçando, mas quando parou pra prestar atenção viu que ele era o único assustado, os outros demônios estavam maravilhados com as explosões no céu.

O Makoto então foi seguindo as pessoas até ver a causa das explosões e o porque de estarem tão maravilhados com uma chuva de fogo e foi quando ele chegou ao centro desse caos que ele entendeu, o homem moreno marcado pelas sombras lançava fogo pelas mãos e o controlava como se fosse apenas uma extensão dele, não era a magia em si que os encantava, mas sim a forma que o homem usava.

Após mais algumas explosões o homem fez uma breve reverência sendo seguido por aplausos, logo a multidão foi se dispersando e apenas o Makoto ficou observando o homem, que ao sentir a presença do jovem se aproximou dele com um sorriso gentil e disse:

– Olá, meu irmão! Qual o seu nome?

O Makoto ficou estático por um breve momento pela fala do homem e pensou pra si "Irmão? Somos família?". E então sorriu da melhor forma que pode para enfim responder:

– Makoto. E quem é você?

O homem um pouco assustado com o que ele acredita ser a tentativa de um sorriso apontou para o próprio ombro marcado e respondeu:

– Sou Magnus Grace, o mandamento da pureza.

E após essa frase o rosto do Makoto se fechou e se limitou a dizer:

-– Não sou seu irmão.

– Claro que somos! -– respondeu Magnus com animação e colocando uma de suas mãos no ombro do makoto. – Somos irmãos ligados pelos mandamentos! E juntos vamos mudar o mundo!

– Não! Somos apenas seres amaldiçoados com os mandamentos, ligados a um destino de dor e solidão. E isso? Isso está longe de ser família.

Antes que perdesse a paciência Makoto decidiu dar as costas aquele homem, aquele que suas palavras não paravam de ecoar na sua mente e que o fez mais uma vez se lembrar que estava sozinho. Ao chegar em sua cabana viu seu gato dormindo sobre a família dele, os bonecos dele.

– É isso Yamato. Essa é a nossa única família.
E por um momento uma sombra passou por si e nebulou os pensamentos dele, mas também lembrou que não precisava ser assim, que com uma palavra ele poderia mudar tudo e assim o fez, com a voz fraca ele sussurrou:

– Alastor.

Em seguida a cabana foi preenchida com sombras e se ouviu uma risada forte e arrastada que quando parou ouviu uma voz:

– Olá, meu querido. Qual acordo faremos?

O Makoto tentou procurar de onde vinha a voz mas tudo que via era sombra.

– Eu não quero um acordo, quero um favor.

Novamente foi ouvida a risada.
– Eu não trabalho com favores meu bem.

– Vamos lá Alastor! Você pode ter tudo, o que custa fazer um favor! – Makoto insistiu.

– De fato eu tenho tudo, mas qual é a graça? Eu gosto da barganha, do drama, então tudo que eu tenho pra vc é a chance de um acordo. Então me diga. O que você deseja?

– E...eu desejo alguém que me ame. – disse o Makoto com um pouco de receio pois todos sabem que o preço do Alastor muitas vezes é caro, caro demais.

– Oh! É apenas isso jovem makoto? Simples. O meu preço é um boneco, você já tem tantos, me de um e assim lhe darei alguém que te ame.

Makoto ficou pensativo, mas ele realmente tinha vários bonecos, alguns eram para as crianças do grupo, então mesmo com muita relutância ele respondeu:

– Sim.

E então em meio as sombras ele viu um sorriso perturbador e travesso, que disse:

– Então está feito!

As sombras aos poucos foram sugadas em direção a boca. Makoto estava ansioso, seu olhar correu por todas as direções dentro da cabana e quando se colocou sobre o seu doce Yamato, abandonou toda a alegria que estava em si e foi até o gato, uma casca vazia do que um dia foi um gato. Com o corpo do pobre Izu Yamato em seus braços, com um rio de lágrima escorrendo de apenas um dos seus olhos, ele escuta a risada de Alastor e o sorriso perturbador finalmente sumindo deixando apenas algo para trás, uma boneca com um olho só.

Então sem ninguém a controlando a boneca levanta, abre seu único olho e com um sorriso enorme porém carinhoso para então dizer:

– Oi, quanto tempo Rud! Nift sentiu sua falta!

A grande peçaOnde histórias criam vida. Descubra agora