Sara é uma geminiana patricinha dona do próprio nariz que adora viver de acordo com o horóscopo. Seu espírito aventureiro não resiste ao charme de Jonas, um goiano agroboy, que gosta de usar chapéu e ouvir sertanejo. Eles resolvem unir dois mundos c...
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Goiânia é uma cidade quente que de vez em quando, em meados de junho e julho, esquece disso. No geral, os goianienses podem manter o guarda-roupa de verão durante todo o ano. A maioria dos estabelecimentos não funciona sem ar-condicionado, assim como os carros. Andar a pé à tarde só com sombrinha para sobreviver ao calor. Ao contrário do que as pessoas pensam, não há cavalos e vacas no meio da rua, mesmo que talvez sejam avistados em bairros mais afastados ou cidades próximas à capital. É cultural o gosto por fazenda, chácara, sítio ou qualquer pedaço de terra para juntar a família e fazer pamonha, fugindo assim dos vizinhos com música alta e do trânsito da Avenida 85 no horário de pico.
Sara sempre lembrava do que seu pai, que nasceu na capital do Brasil e veio para Goiás ainda criança, dizia: Goiânia é muito mais cidade que Brasília. A vida noturna é movimentada, os restaurantes são renomados e variados, a cidade é lar de dezenas de celebridades do universo sertanejo e o goianiense não poderia ser mais antenado com a moda e as últimas tendências. A geminiana não poderia ser mais realizada morando ali.
Sexta-feira geralmente é dia de sair, pelo menos para a maioria das pessoas. Sara gostava de ir ao Bolshoi Pub, principalmente quando o tema da casa noturna era pop ou rock. Ou se programava para dançar a noite toda no Diablo, se um DJ tocasse. Morar em uma cidade repleta de duplas sertanejas tinha essa dificuldade, garimpar algum lugar onde não fosse tocar Gusttavo Lima e Marília Mendonça, mas ela já estava acostumada. Considerava que o verdadeiro desafio era viver em um lugar onde havia duas mulheres para cada homem, sendo que provavelmente seriam todas extremamente bonitas. As goianas sabem como se vestir e são vaidosas, mesmo que somente para atravessar a rua e ir à padaria ao lado de casa. Deveria ser por isso que Sara não parava muito tempo com namorado nenhum. A concorrência era grande demais.
Sara saiu do trabalho naquele dia, apressada, procurando a chave do carro na bolsa enquanto tentava encontrar seu Jeep Renegade branco no estacionamento. Seu telefone tocou assim que colocou a chave na ignição.
— Eu sei, primo, mas fazer o quê? Festa da firma é festa da firma, mesmo sendo na sexta e não posso faltar. Para de choramingar e chama logo a Iara pra ir com você. — Esperou. — Ela não me disse nada disso. Isso é coisa da sua cabeça, minha amiga te ama. Sua insegurança ainda vai te matar, deixa de ser molenga. Preciso ir em casa me trocar. Depois a gente se fala. — E desligou o celular.
Mais três pessoas ligaram no caminho até seu apartamento, revoltadas com o fato de Sara não poder comparecer ao evento programado entre seus amigos e primos no Bolshoi. Ela havia esquecido que no final do ano todas as empresas faziam confraternizações e apesar de ser funcionária de quatro lugares diferentes, só teria de ir à festa do departamento de redação do jornal O Popular (segundo mais lido na região metropolitana do estado de Goiás) onde trabalhava no período da tarde.
Entrou em casa correndo e foi direto para o banho, xingando baixinho a si mesma por não ter colocado os compromissos pessoais sincronizados com a agenda do Google no celular. Tirou a touca que protegia seu cabelo e abriu o guarda-roupa, escolhendo um vestido salmão de mangas longas e costas nuas que caía até um pouco acima dos joelhos. Fez uma maquiagem carregada e escolheu alguns acessórios, depois calçou uma sandália de tiras preta com salto alto, pegou a bolsa e saiu.
