Capítulo 7

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THOMAS

São 18h em ponto. Estou em frente à casa de Mel e não sei mais se foi uma boa ideia começar tudo isso.

Durante mais ou menos metade da minha juventude estive procurando por Melanie. A menina da casa ao lado que me apaixonei perdidamente na infância, mas que tive que abandonar. Ela nunca vai entender, nem perdoar.

A casa em que vivíamos não era nossa. Os meses que eu e minha mãe passamos lá foram a época mais difícil de nossas vidas. Apenas a amizade de Melanie, e mais tarde, o amor que sentia por ela, tornava mais fácil.

Moramos por quatro anos nessa casa, dos meus doze aos dezesseis anos. Minha mãe, diretora de uma escola, trabalhava todas as horas que podia, nessa época. Precisávamos comer, viver, mostrar às pessoas que estávamos bem.

Depois que meu pai nos deixou, ela sentiu que precisava manter o estilo de vida, sem deixar as pessoas verem o quanto aquilo tinha abalado nossas vidas.

Philip, entenda: nossa imagem é tudo. O que veem de nós é o que importa. Eles não precisam saber que não é totalmente real - ela dizia.

- Mas eu sinto falta dele. Não gosto de fingir que ele não existe.

Mas iremos. Estamos melhores sem ele.

Anos depois, acabei descobrindo que papai não aguentava mais a ambição de mamãe e foi embora viver o "amor" que ele sonhava com uma ex colega de trabalho. Creio que o amor do filho não estava na equação. Ele nunca tentou me procurar nem para saber como eu estava.

Quando eu tinha dezesseis anos completos, mamãe decidiu que iríamos mudar de cidade. Tentei de toda forma não ir, pois não queria perder Melanie. Ela tinha apenas catorze anos, mas se comportava como se fosse mais velha... e eu apenas sabia: meu futuro seria com ela.

Faltando uma semana para mudarmos, encontrei Melanie para tomarmos um sorvete.

Vamos nos mudar semana que vem - falei, sem rodeios.

- O que? - ela praticamente gritou - Como assim? Porque?

- Mamãe acredita que esta cidade já nos deu o que tinha que dar. Ela recebeu uma proposta de emprego na capital e vai ganhar muito mais dinheiro. Você sabe que isso é a única coisa que importa para ela.

- Você tem que ir?

- Melanie, você e a mamãe são tudo que tenho, mas eu não teria como continuar aqui sem ela. O dinheiro que guardei dos trabalhos de verão e fins de semana durariam três meses no máximo. Preciso continuar com ela até que seja independente, totalmente. E volto para buscar você.

Não, não precisa. Não quero que se prenda por mim. Espero que você seja tão bem sucedido quanto deseja.

Então saiu, a tempo apenas de eu ver uma lágrima caindo solitária em seu rosto. Eu amava Melanie, mesmo que ela ainda não soubesse disso, mas precisava garantir que não teria que viver com o dinheiro de minha mãe. Eu precisava crescer.

Quando volto de minhas memórias, percebo que estou quinze minutos atrasado para nosso encontro. Saio do carro e bato à porta de Melanie. Alguns instantes depois ela a abre, parecendo mais linda do que nunca antes.

Não sei se deveria contar a ela quem sou, porque não voltei ou porque não a procurei.

Acontece que, depois de alguns anos, eu tinha vinte, e Melanie, dezoito. Retornei à nossa cidade apenas para descobrir que a família de Melanie havia mudado alguns meses antes.

Ao vê-la justamente no arquivo da minha empresa foi a maior surpresa da minha vida, e eu apenas soube, que precisava dela.

MELANIE

Quinze minutos atrasado, Thomas bate em minha porta. Fico pensando se ele se arrependeu de ter me chamado para sair. Não consigo entender nada sobre ele, e, pensando bem, mal o conheço, apenas o profissional.

Ficamos nos olhando na porta, até que ele quebra o silêncio.

- Boa noite, srta. Collins.

- Senhorita?

- Não sei bem como proceder, para falar a verdade. Me sinto como um adolescente no primeiro encontro.

Não consegui não achá-lo um fofo nesse momento. Dei um sorriso e ficamos nos encarando. Thomas de repente segurou meu pescoço com firmeza e me beijou. Um beijo lento, de posse, como se estivesse com saudade de mim e precisasse saciar um desejo há muito reprimido. Ficamos nos encarando por alguns instantes, esperando nossas respirações voltarem ao normal.

Entramos em seu carro e nos dirigimos ao cinema conversando sobre nossos gostos em comum - e também divergentes, como gostávamos os dois de sorvete de menta com chocolate, mas eu, fã da Taylor Swift, e ele do Slipknot.

Por diversos momentos na conversa, tive a sensação de que já havíamos nos encontrado antes. Tentei muito, mas não conseguia lembrar.

- Thomas, sinto muito, mas preciso perguntar - disse, quando paramos no estacionamento do cinema. - Já nos conhecemos? Antes?

- Melanie... acredito que não - depois de uma pausa, acrescentou: - Você me chamou a atenção no arquivo, foi tão firme, não teve medo de mim em momento nenhum. Há muito tempo ninguém me enfrentava assim... você me intriga.

- Eu... tenho essa sensação. De que te conheço.

Thomas dá um sorriso que, juro, senti na calcinha. Então fala:

- É a nossa química... preciso ter você, Mel, mas antes, vamos ver nosso filme.

Com meu coração acelerado e o desejo correndo pelo corpo, saímos do carro.

Compramos nossos ingressos e pipoca. Na sala, Thomas levantou o braço que separava as cadeiras e pôs seu braço ao redor dos meus ombros. Com a sua proximidade e o calor de seu corpo perto do meu, consegui prestar atenção em tudo menos no filme.

Todo o tempo, ficava imaginando o que faríamos quando saíssemos daqui, e por incrível que pareça, eu sentia que estava pronta. Essa sensação de que conhecia Thomas me fazia confiar nele, inexplicavelmente.

Eu o queria.

E iria adiante esta noite.

Vou transar com meu chefe.

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⏰ Última atualização: Jan 10, 2021 ⏰

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