Caleb Stuart, garoto franzino de olhos castanho amendoados e feições delicadas, escondia-se atrás de uma árvore durante uma límpida e fria tarde no fim do inverno. Sorrindo de uma orelha à outra, ele acompanhava com o olhar a graciosa, encantadora e inteligente Srta. Shirley se destacando contra a neve, com seus cabelos castanho-avermelhados pendendo sobre os ombros femininos, o porte altivo e os olhos verde-acinzentados que refletiam os sonhos das verdejantes colinas ao redor.
Lembrava muito Evangeline Stuart, a falecida mãe do menino.
“Ah, querida professora”, ele imaginava-se tendo coragem de dizer, “a senhorita tem o mais gracioso sorriso, as sardas mais charmosas sobre a cútis mais alva e as palavras mais eloquentes do que qualquer dama que conheço! Céus, como faz para sempre parecer caminhar sobre as macias nuvens do ocaso? Seus passos parecem estar conduzindo-a para dias melhores! E... você é muito parecida com minha querida mamãezinha”.
E ainda, caso Caleb se sentisse motivado, ele questionaria: “Ah, querida professora, sei que sou apenas um de seus tolos alunos da sexta série mas, se não for pedir muito, a senhorita poderia conceder-me a grandiosa honra de acompanhá-la até em casa?”.
O pobre garoto já tinha fantasiado e floreado frases românticas sobre ela dezenas de vezes, dezenas de formas diferentes, todas as vezes em que ao fim das aulas, escondia-se para observar a professora voltando à Green Gables. Mas jamais havia se aproximado dela.
No auge de seus 11 anos, ele acreditava estar plenamente apaixonado. Assim como também estaria, no mundo da imaginação ao menos, a senhorita Shirley!
Após esta grande pergunta, ele imaginava o olhar inquisitivo dela, sua risada – não uma risada condescendente ou zombeteira, mas de sincera alegria – e seu meneio afirmativo de cabeça. Ele poderia acompanhá-la!
Lado a lado, eles atravessariam campos floridos, caminhos sinuosos ladeados de abetos e prados desertos durante o entardecer de Avonlea.
Ali, rodeados pela beleza em sua forma mais pura, o aluno admitiria a admiração que sentia por sua professora da forma mais galante, romântica e... sim, um pouco tímida também... possível: “Oh, senhorita Shirley! Sei que sou apenas mais um de seus tolos alunos da sexta série, mas tenho uma importante confissão a fazer! Estou perdidamente apaixonado pela senhorita e, se não for pedir muito, gostaria de saber se daqui a alguns anos, quando eu já estiver crescido o suficiente, concordaria em se casar comigo. Prometo que tentarei crescer o mais rápido que puder, para que sua espera não seja muito longa”.
A partir daí, Caleb Stuart não ousou mais imaginar. Ele era sonhador, mas tinha aprendido a também ser sensato e manter o pé no chão. Estas suas virtudes viviam brigando quando ele não tomava o devido cuidado de separá-las antes que fosse tarde demais! Era melhor, afinal, deixar tudo aquilo apenas em sua cabecinha mirabolante... muito embora de tempos em tempos seu desejo de realmente declarar-se para Srta. Shirley se tornasse intenso demais, quase irrefreável.
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Uma nova crônica de Avonlea
RandomAnne Shirley retornou de Queen's e agora é professora em Avonlea - cargo repleto de desafios e aventuras, como está a descobrir. Mas o que ela ainda não sabe, é o que um de seus alunos da sexta série, o pequeno e sonhador Caleb Stuart, sente por ela.