06. if i could fly

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Alguns dias após o incidente com Jeon na praia, as coisas parecem retroceder absurdamente.

Todo o meu pouco progresso, todo o esforço que fiz para ao menos ter uma relação melhor com meu filho e meu irmão, e também a amizade que perdi antes mesmo de ganhar. Eu estraguei tudo, mas Jeon também possuiu uma parcela de culpa.

Ele sabia o quão fragilizado estou, e que tudo vem sendo difícil.

Por que tentar beijar justamente alguém como eu? Um homem perdido, que mal sabe seus ideais, que perdeu tudo no meio do caminho?

No dia seguinte àquele, fui bombardeado de perguntas por Yeonjun, mas não soube responder nenhuma delas. Acho que Jeon também acabou sendo questionado pelo garoto, mas provavelmente permaneceu em silêncio porque meu irmão não tocou mais no assunto. E eu aprecio essa atitude.

No terceiro dia tentei desenhar com Soobin assim que cheguei do trabalho, mas tive vontade de chorar assim que ele perguntou sobre seu novo amigo tagarela. Aparentemente toda e qualquer pessoa que conhece Jeon Jungkook acaba se encantando por ele. E eu destruí isso.

Hoje já é um novo dia, quatro de outubro, e meu aniversário se aproxima.

Isso me causa certo pânico porque na verdade nada mudará, apenas ficará mais difícil. E novamente afirmo: odeio aniversários, principalmente porque esse será diferente de todos os outros.

Longe dela, longe do meu brilho que se apagou.

Ao deixar Soobin na escola e partir para a empresa, paro no meio do caminho porque respirar se torna um pouco difícil, então minha escolha mais sábia e inusitada é estacionar ao lado de um parque antigo.

A paisagem é impecável; verde por toda parte, bancos distribuídos para que grandes grupos de amigos ou famílias se juntem por aqui, grama aparada e pista para andar de bicicleta.

Devo confessar que me sinto meio Tom Hensen em (500) Dias com Ela quando ele se sentava no maldito banco e observava a imensidão, porque é isso que faço no momento. E nem tem o que observar. É cedo, as poucas pessoas presentes caminham ou fazem alguma atividade física, a poluição já começa a se espalhar pelas indústrias e o céu demonstra que logo choverá.

E em meio a todos esses acontecimentos, um rosto indesejado não sai dos meus pensamentos.

É ele. É tudo sobre ele. Jeon Jungkook, ou Tagarela, ou Jeon-Falante-Jungkook, ou o que preferir. Eu poderia criar inúmeros apelidos para o infeliz, e nunca seria suficiente porque em pouco tempo conheci tantos traços da sua personalidade. Eu poderia chamá-lo de intrometido, ou Peter Parker, ou garoto dos olhos estrelados, e nada disso me faria consertar o que já foi feito.

Aprecio o fato do garoto ter respeitado meu espaço após me lotar de mensagens de preocupação naquele dia, porque ele praticamente sumiu. Evaporou.

E é isso que me preocupa, mas me preocupar com algo do tipo me deixa ainda mais preocupado.

Não sei se quero que ele suma, por mais que não estivesse pronto para aquele beijo inusitado. Talvez eu só estivesse assustado, mas ainda me lembro a forma bonita como sua voz soou em meu ouvido naquela ligação em uma noite de insônia.

E se, apesar de tudo, eu tenha gritado à plenos pulmões que ele sumisse da minha vida apenas por medo? Por que diabos estou lembrando de tudo isso logo agora, observando essa imensidão à minha frente?

Além de tudo ele conseguiu conquistar Soobin, e pessoas que conquistam meu filho acabam ganhando meu coração de brinde, mesmo que eu não saiba demonstrar isso em gestos ou palavras.

COLIDIREIS • jjk x pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora