Meus olhos já não enxergam mais, já perderam o brilho e a vontade de ser.
Minha boca já não fala mais. Foi calada, silenciada por vozes perversas que gritam ofensas.
Meu tato já não sente o vazio que suas mãos deixaram. Já não tocam a alma ou o copo d'água.
Eu, já não sou mais eu. Sou carne, sou osso, sou átomo. Mas alma? Não mais... talvez nunca fui.
Hoje sou o espectro do que há muito tempo era.
Ontem ainda havia uma fagulha de esperança, mas hoje...
Meu corpo já não é mais meu. É uma casca que apodrece.
É um emaranhado de peças pegajosas sem uso, mas em constante abuso.
Agora, como última fala me perguntas: mas queres mudar? Queres voltar a ser você?
Eu respondo: não. Quero poder desistir em paz, no sossego que almejo, quero esquecer e em fim ser esquecida.