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Cemitério de Wellspring, domingo - 20h45min/2008


Era em uma noite mórbida, com o céu repleto de nuvens espessas e acinzentadas, quando pessoas reuniram-se em um cemitério. Foram reunidas pela morte, pela morte de um homem que havia se tornado uma lenda: John Drake.

Talvez você se pergunte: "E quem é John Drake? Como ele morreu? Onde é exatamente esse tal Cemitério de Wellspring?". Bom, caro leitor, se porventura essas dúvidas pairaram em sua cabeça, isso significa que não é o único com perguntas nesta história...

- O vi saindo antes do esperado - Disse Arthur de forma calma e firme dirigindo-se a um menino solitário. - Não sei quanto tempo irá demorar até que você esteja pronto para conversar sobre o que houve, mas quando estiver, estarei disposto a lhe ouvir. É natural que esteja abalado. Ontem à noite você sofreu e viu mais do que qualquer criança deveria; sua vida mudará por completo. A dor que sente é enorme, sei disso, Alex; mas também sei que ela não é nada comparada à sua força. Irá se recuperar.

O menino continuou em silêncio por alguns segundos.

- Ele me prometeu. - murmurou Alex em um tom soturno e com a voz trêmula.

- O que John lhe prometeu?

- Me prometeu que ficaria tudo bem. Ele sempre cumpria o que me prometia, mas desta vez ele não cumpriu... - o garoto segurava-se para não chorar. - Por quê, Arthur? Por quê isso foi acontecer?

Arthur suspirou profundamente e respondeu:

- Eu também queria saber, mas infelizmente não sei. Acredito que nada acontece por mero acaso. Tudo tem um porquê, e ele vem até nós quando menos esperamos. Pode vir tão depressa quanto o vento ou demorar uma vida inteira. Sugiro que talvez, apenas talvez, não devêssemos nos importar com isso e...

- Mas eu me importo! - rebateu Alex. - Não há como simplesmente deixar de me importar!

Alex é um garoto de apenas oito anos. Seus grandes olhos azuis irradiavam uma tristeza que ninguém além dele poderia entender. Ele havia se afastado das demais pessoas presentes na cerimônia e vagou entre as inúmeras lápides e esculturas de anjos do cemitério até para diante de uma cova aberta.

Seu cachecol azul sacolejava ao vento e seu moletom de mangas largas, que também era azul, estava coberto de manchas vermelhas de sangue - os borrões vermelhos no moletom assemelhavam-se à nuvens sangrentas sob um céu.

- É... eu sei. Eu sei o quanto é complicado. Sempre que fecho meus olhos, relembro-me do dia que conheci John. Ele tinha mais ou menos a sua idade. - Arthur fechou os olhos - Era em uma manhã muito fria, assim como esta noite. Estava voltando do trabalho e decidi passar pelo Central Park, e foi lá que encontrei John: um menino de cabelos negros e olhos azuis iguais aos seus. Ele estava dormindo em um banco, sentindo frio e fome. Então, me aproximei dele e perguntei onde estavam seus pais e de onde ele vinha, mas não obtive resposta alguma. Levei-o para uma lanchonete; comemos e conversamos bastante, John era uma criança muito alegre e sorridente. Assim que terminamos, liguei para as autoridades e informei sobre ele. John não gostou nada daquilo e entrou em completo desespero.

"Fiquei sem entender o motivo do desaparecimento de toda aquela alegria contagiante. Foi aí que John contou-me que havia fugido de um orfanato. Dizia preferir morrer do que voltar para lá de novo. Perguntei o por quê, mas não fui respondido.

"Depois que ele foi levado de volta ao orfanato, fiquei o resto do dia relembrando dele. Quando acordei no dia seguinte, estava decidido: eu adotaria o garoto."

Enquanto Arthur falava de olhos fechados, Alex pôde ver uma lágrima escapando de sua pálpebra.

Arthur Solomon é um homem de quarenta e cinco anos de idade, sua altura é em torno dos um metro e oitenta, seu cabelo liso com um corte social penteado para trás e sua barba média meio desleixada já tinham alguns fios alvos, suas sobrancelhas são grossas, levemente arqueadas, mas com um tom acolhedor, seus lábios são finos, e seu nariz é de tamanho normal, porém levemente torto devido à fraturas antigas. Vestia uma calça tweed, blusa social e um blazer por cima - assim como quase todos os homens que estavam presentes no cemitério, mas diferente da maioria, Arthur também usava um sobretudo por cima do blazer, provavelmente por conta do frio que fazia; ou por estilo; ou por ambas as coisas. Ele estava com as mãos apoiadas em um objeto que tem uma certa semelhança e tamanho de uma bengala, mas também lembrava um cetro. Este objeto possui algum tipo de pedra preciosa igual a um grande diamante transparente na parte que Arthur apoiava as mãos, e estranhamente, de dentro da pedra bruxuleava uma tênue luz alva; o cabo é de um metal negro com arabescos dourados incrustados nele, acompanhados por uma listra azul-índigo.

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⏰ Última atualização: Jan 15, 2021 ⏰

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