Deep In Your Eyes

Atração

Annie

Nancy falava comigo sobre algo, que eu ouvia mas não escutava, as palavras dela pareciam ruídos insignificante de tão desinteressantes. Mas para quem vê de longe, eu parecia super entretida com a conversa, e interagia a cada palavra que ela dissesse com gestos e expressões bem montados. Eu sempre fui boa em adaptar-me e a parecer que tudo me agrada. Que estou feliz, mesmo quando não estou, e que estou confortável, quando na verdade a minha vontade é fugir a quatro pés.

- Acreditas que ele disse a mesma coisa para a Tábata? Sinceramente, acho que já aturei demais essa situação toda. - uma figura bem exótica nesse ambiente atrai o meu olhar para a sua presença. Ela tinha o cabelo cacheado em um tom rosa pastel que o fazia parecer com algodão doce, trazia um vestido preto simples de alça, com uma blusa transparente dourada, mas o personagem principal, tirando o cabelo, óbvio, era o delineado preto e dourado, que dava toda uma estética à sua maquiagem simples. - Annie! Estás a ouvir-me? - Nancy pergunta a cutucar-me o ombro, parece que me distraí, que ela me distraio.

- Ahm! Sim claro, estavas a falar sobre toda aquela cena com o Thierry. Tu já sabes o que acho, tens de deixar ele, tu mereces melhor. - disse para a despachar, mesmo não tendo prestado atenção na conversa eu tenho a certeza que estava a reclamar sobre mais uma atitude dele. - Eu tenho de ir ter com a minha avó, já volto. - me levanto quando vejo que eles estão a ir em direção a ela.

- Mas... - Nancy tenta falar, mas eu dou as costas e me dirijo até lá.

- Avó, viu o Richard? - falei a primeira coisa que me veio na cabeça, que foi perguntar pelo mais novo dos Holmes, para não parecer que eu fui ter com ela atoa.

- Não, Annie. - respondeu neutra e desviou o olhar de mim para a família que se aproximava.

Eu esperei ansiosa, ansiosa para que ela olhasse para mim, para que ela falasse comigo. Mas quando os seus olhos âmbar pousaram sobre mim eu me senti frustrada. Frustrada pela falta de emoção neles, pelo facto de se dirigirem para mim como para todos os outros nesse ambiente, com desinteresse e neutralidade. Posso dizer que ela não gravou a minha cara, que nem deve lembrar do que falei, pior, do que ela mesma falou. Parecia agir no automático, como se estivesse a ser obrigada a estar lá.

Acabei por voltar para perto de Nancy e logo nos dirigimos para o grupo dos filhos dos vários empresários, médicos, políticos, advogados e etc que haviam nessa festa de interesses. Apesar de estar lá, eu não fazia parte daquilo, quer dizer, eu até podia fazer, mas não me sentia parte daquilo. Tanto que mal prestei atenção no que falavam, prestava mais atenção nela. No porquê de ter os olhos vidrados e a expressão congelada, quase como um manequim. Mas divergia no facto que por baixo desse manto que envolvia os seus olhos amarelados existir todo um universo que tive vontade de mergulhar e me deixar consumir pela imensidão que carregava.

Em um certo momento, em que voltei o olhar para ela, ela já não se encontrava lá. Parecia ter fugido, se libertado, deve ter ido respirar. Foi aí que vi a minha deixa, para sanar toda a minha curiosidade sobre aquele espécime raro. Saí pela porta que se encontrava mais perto de onde ela estava sentada. Dei por mim no enorme jardim daquela casa que eu quase considerava a minha segunda. Desci as escadarias e andei um pouco até que vi uma pequena nuvem de fumo vindo de uma canto não tão longe daqui. Foi aí que a avistei, sentada em um banco, relaxada e a fumar um charro que parecia de erva. Achei que ela fosse se assustar, ou pelo menos tentar esconder o charro assim que eu chegasse tão perto, tanto que diminui o passo. Mas ela não pareceu se abalar, nem um bocado, quando olhou para mim como se dominasse o mundos e nada a afetasse. Ela viu-me, pela primeira vez nessa noite, ela viu-me sem o manto que pesava sobre os seus olhos. Eles parecem tão mais expressivos, tão mais consumidores, que tive medo de me ver engolida por eles.