Still Into You

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Gerald continuava a negar-se a retirar as algemas dos pulsos doloridos de Jessie, que por sua vez, já não aguentava mais ouvir a ladainha incessante de seu marido em uma crise de meia idade. Ele estava enlouquecendo, e ela também começaria a perder a sanidade nas próximas páginas. Kyungsoo fechou o livro antes que isso pudesse acontecer. Também não estava no clima para ler uma cena grotesca logo no início de "Jogo Perigoso", a mais nova leitura de seu autor favorito, Stephen King. Ele havia comprado o livro há poucos minutos na pequena banca de seu bairro, e fora um verdadeiro achado entre tantos livros nacionais e quadrinhos velhos.

O Do tinha outras prioridades no momento, deixaria o mestre King para mais tarde. Afinal, ele havia pegado emprestado — sem pedir permissão — uma das revistas mensais de sua irmã mais velha. A garota estava ocupada demais encarando, sem nem piscar, o novo pôster do H.O.T que ganhara de aniversário e sequer notou a presença do garoto em seu quarto. Caminhar na ponta dos pés e sem fazer barulho, tinha sido a coisa mais útil que aprendera nos últimos anos.

Kyungsoo estava de olho naquela revista desde o momento que a viu pela primeira vez no sofá da sala. A capa com tons vivos de rosa e laranja, prenderam a atenção dele naquela nova edição. Contudo, o título da matéria no canto inferior o deixou interessado o bastante para invadir o quarto de Jisoo no meio da noite, e a manter sobre sua posse até que a garota começasse a dar falta. Até porque ele não perderia a bela oportunidade de receber algumas boas dicas sobre como fazer alguém se apaixonar por você em menos de uma semana, como constava na matéria.

O Do encarava a revista ainda sem muita coragem para folheá-la. Com os braços ao redor das coxas, Kyungsoo escutava baixinho Lovefool tocando no rádio em seu quarto, pensando se seu esforço valeria a pena no fim das contas. A melodia fazia com que seu medo da rejeição desaparecesse, dando brecha para uma pequena chama de esperança surgir em seu interior. Estava torcendo para que, no futuro, não precisasse fazer o uso das frases melancólicas da música para uma performance dramática enquanto fingia chorar em frente ao espelho do banheiro, com o intuito de aliviar uma parte de seu coração quebrado.

Sentado no chão, com o rosto apoiado nos joelhos, vez ou outra Kyungsoo suspirava pensando nele: Kim Jongin, o garoto da sala ao lado que andava de skate em sua rua por pelo menos três vezes na semana. Ele não era um dos melhores skatistas, caía quase toda hora e ocasionalmente saía com o joelho sujo de sangue. Mas isso não importava. O que importava, era a beleza dele e, em especial, o modo absurdamente adorável que suas sobrancelhas ficavam franzidas quando o menino tentava ler algum livro no meio do corredor a caminho da sala de aula.

Para o Do, não havia coisa mais sexy no mundo do que garotos que leem por pura diversão. Perdendo apenas para homens fardados, mas falar sobre isso levaria ao assunto sobre fetiches, o que por hora não parecia uma boa ideia. Por enquanto ele só queria se concentrar em Jongin e seu cérebro sexy.

A introdução alta de Candy vinda do quarto de Jisoo retirou Kyungsoo do estado imerso de pensamentos para a realidade, fazendo o garoto limpar a gotinha de saliva no canto de sua boca, arrumar os óculos no lugar e, finalmente, pegar a revista em mãos.

Ignorou completamente as matérias sobre moda e maquiagem, tendo que fazer um pouco mais de esforço para pular as páginas que falavam sobre as desventuras da puberdade. Chegando nas páginas que procurava, o Do suspirou fundo antes de começar a ler. Os tópicos chegavam a soar ridículos quanto mais Kyungsoo os lia, mas ele não estava em posição para zombar de nada. De certa forma, ele estava desesperado. 

Acabou franzindo o cenho quando leu o primeiro tópico, onde dizia que o mais importante era sorrir. Para lembrá-lo disso, o quadro em volta estava cheio de pequenos sorrisos.

— Sorrir? Que merda esse negócio tá dizendo?! — xingou como se as pobres folhas pudessem escutar. Kyungsoo detestava sorrir. Ele usava aparelho desde os quatorze anos, e agora ele já tinha dezessete. Não foram poucas as vezes que ele fora avisado sobre ter algo preso entre os elásticos, ou zoado por esse mesmo motivo. E também, ele se achava estranho sorrindo. Será que Jongin também pensava que ele parecia esquisito quando sorria? — Espero que o resto seja melhor do que essa ladainha sem sentido.

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