Lonely Lover

Capítulo 6

A mãe de Jack havia acabado de chegar do plantão no hospital, era possível ver o cansaço nos seus olhos, mas mesmo assim ela fez questão de abraçar o filho assim que entrou dentro de casa. Eu não tenho certeza se ela sabia que estava aqui, até que depois do abraço ela me olha e estranha minha presença, mas sorri e se aproxima.

- Olá, Jack não me disse que tínhamos visitas - Ela olha para ele franzindo a testa. -, como é seu nome?

- Me chamo Ethan, senhora. - Tento manter tudo de uma maneira formal para causar uma boa impressão.

- Me chame de Lea, não sou muito chegada a essas formalidades, se é um amigo de Jack... Você também é meu amigo. - Ela coloca a mão no meu ombro e sorri para mim.

- Mãe me desculpe por não ter avisado, ele passou a noite aqui, não queria ficar mais sozinho, mas ele é o carinha que eu te falei. - Disse Jack se aproximando de nós.

- Para sua sorte, eu gostei dele e vou te perdoar por não ter me avisado, ele pelo visto é muito melhor do que as outras pessoas com quem você conversava antes... - Jack a olha levantando as sobrancelhas e arregalando os olhos, ela simplesmente para sua fala e muda de assunto. - Enfim, Ethan você está se divertindo aqui em casa com Jack?

- Sim, ele é muito legal, não tenho o que reclamar do seu filho.

- Que bom, espero que tenham um ótimo dia, mas se me derem licença eu vou tomar um banho e dormir, vocês não tem noção de como estou cansada.

Lea sai em direção ao banheiro, e Jack me guia até a porta de saída. Eu e ele nos sentamos na escada da varanda, ele parece feliz, ou realizado, mas definitivamente está bem (bem até demais para alguém que encheu a cara ontem).

- Por que tão feliz, Jack? - Pergunto virando meu rosto para ele.

- Ah você notou. - Ele sorri. - Não é nada demais, eu fico assim sempre que minha mãe volta do trabalho, poder ver ela, saber que está bem e está dando o seu melhor para ambos de nós, é o que me faz bem.

- Você é um fofo, Jack Peterson tem seu lado familiar e fofo. - Provoco ele. - Por trás dessa fachada rebelde tem um coração cheio de amor.

- Fachada rebelde? Sério? Diz isso só pelo meu estilo de roupas, e eu realmente tenho esse meu lado, faço o que for preciso para estar do lado e apoiar quem eu amo, isso inclui você agora. - Ele coloca os braços ao redor do meu ombro.

- Assim você me deixa sem graça. - Sinto meu rosto ficar vermelho. - Eu estava tentando te provocar, pelo visto não deu certo.

- Não sou do tipo que se irrita fácil.

- Percebi... Mas mudando de assunto, por que você é tão sozinho? Sua mãe deixou uma frase incompleta falando sobre algo que aconteceu e sobre pessoas que você conversava. - Pergunta invasiva, mas não consegui me conter.

- Bem... - Ele hesita, e tira o braço de mim. - São só coisas que tem haver com minha ex namorada, pessoas que eu achava que eram meu amigos e por aí vai, eu não gosto muito de falar sobre, desculpe.

- Eu que desculpo, você não precisa falar sobre isso se não quiser, é só que minha curiosidade falou mais alto, eu não deveria ter feito essa pergunta.

- Relaxa, só não me sinto preparado para falar sobre isso agora. - Ele desviou o olhar e começou a observar o céu, as nuvens, estava um dia lindo e quente.

• ~ •

Jack é uma incógnita para mim, não sei muito sobre seu passado, não sei bem os seus sentimentos, ele é quieto, reservado, ninguém nunca sabe no que ele está pensando, e é isso que me atrai nele. Hoje em dia você descobre a vida de uma pessoa apenas vendo o Instagram ou Facebook dela, você descobre seu círculo social, sua família, seus gostos e desgostos, e a personalidade que ela quer passar para os outros ao seu redor, em geral um grande show de falsidade e ilusão, mas com Jack é diferente, ele é autêntico, ele não liga para redes sociais, seu Instagram é privado e só tem duas selfies publicadas, coisa rara para um adolescente do século vinte e um com a aparência dele.

Eu quero ser mais para ele, não só um amigo, eu sinto um desejo inexplicável por ele, mas não só isso, é algo que eu não sinto a muito tempo por ninguém, algo nele desperta esses sentimentos em mim, ele não é como os outros que eu já me interessei.

• ~ •

O resto do fim de semana foi bem divertido, a mãe de Jack pediu pizza e depois nós jogamos jogos de tabuleiro que eles tinham, infelizmente nada de muito interessante sobre mim e Jack, ele ficou bem mais neutro comigo depois da minha pergunta que o deixou visivelmente desconfortável.

No domingo, ao final da tarde, eu retornei para minha casa, minha mãe me esperava na porta da frente e estava muito feliz, super animada por que segundo ela agora eu tenho um amigo de verdade, pelo visto ela simplesmente esqueceu dos outros que eu tinha antes de nos mudarmos para cá.

A minha relação com meus pais é boa, eles sempre foram bem didáticos comigo e foram muito receptivos quando eu me assumi gay aos 15 anos, realmente não esperava que eles fossem, mas para minha sorte eles foram, e desde então eles sempre mantém um diálogo comigo para incentivar que eu sempre seja aberto e sincero com eles, mas pra falar a verdade as vezes sinto que não os mereço, penso nos outros adolescentes LGBT da minha idade, ou até fora da comunidade, que não tem uma boa relação com os pais, as gerações são diferentes, é normal esse choque, mas acho que é tudo uma questão de adaptação de ambas as partes.

Passo o resto do dia assistindo séries e comendo pipoca, até a hora que eu geralmente durmo, depois já vou direto para a cama e caio no sono, pronto para o dia seguinte.