Capítulo 1- Quebrando as Regras

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Negociar sempre foi uma tarefa fácil para Elisa Valença. Não importava de qual lado dos mundos ela estivesse presente, humano ou da magia, a jovem humana tinha uma maneira peculiar de fechar os acordos. No entanto, o grande empecilho daquela noite para mais uma de suas negociações brilhantes, se chamava Marco Guerra.

– Está atrasado! – Elisa resmungou impaciente.

Todo habitante de Mística conhecia Marco e sua fama de trapaceiro. Ela não gostava nem um pouco dele. Uma vez que, na maior parte do tempo, o sujeito estava tramando coisas sujas e podia facilmente enganar qualquer um, a qualquer momento que quisesse.

Os dois tinham combinado de realizar a barganha no Porto da Discórdia, um local bastante frequentado pelos comerciantes da região para fazer o transporte de mercadorias legais ou não tão legais assim perante a lei. Tudo ali estava muito vazio, bem diferente da lotação e gritaria que Elisa estava acostumada a ver quando visitava o local pela manhã.

Nada entrava ou saía do Porto da Discórdia sem que Marco soubesse, por isso ele era uma peça tão importante no jogo. Sendo os olhos e os ouvidos da Costa Leste, poderia facilmente transportar as mercadorias sem que os vigilantes soubessem.

Distraída, enquanto esperava pela chegada de Marco. A garota contou metodicamente todas as saídas possíveis de fuga. Tinha encontrando sete locais diferentes, isso se considerasse a rede subterrânea de esgoto como uma delas.

O rangido nas tábuas no piso de madeira fez Elisa ficar em alerta.

– Onde você está? – perguntou.

De repente, a figura esguia de Marco surgiu da escuridão e se materializou bem perto de onde ela estava. 

Para sua total surpresa, o trapaceiro havia ido sozinho. Abandonando o desconforto que sentia, ela praticamente deslizou até ele, de tão silenciosas que eram suas pegadas provocadas pelo pó mágico que havia usado mais cedo.

Sempre atenta aos detalhes, não pode deixar de notar as orelhas grandes e pontudas dele. Tudo em Marco indicava que não era um humano, mas sim se tratar de uma fada. Seu traje era constituído por um casaco verde na altura dos joelhos e calças escuras, o cabelo comprido se espalhava pelos ombros largos e as luvas que usava cobriam as palmas das mãos, mas deixava às falanges dos dedos descobertas.

Seus olhos negros foram direcionados para ela e o franzir dos lábios denunciava um desprezo e uma superioridade que definitivamente Marco não tinha. Isso sem falar do cheiro nem um pouco convidativo que ela sentiu.

Será que Marco tinha lidado com alguma coisa morta antes de encontrá-la? – Elisa se perguntou.

– Uma pirralha. Não acredito que Leone esteja se arriscando tanto – resmungou ele.

– Menos papo e mais ação. Dá para calar a boca e agilizar as coisas? – ela comentou em resposta.

Sua aparência humana fazia com que muitos idiotas pensassem que sairiam ganhando nos acordos. Grande erro. Elisa era astuta demais e se Marco pensava que poderia lhe passar a perna, ele estava redondamente enganado. Recrutada e treinada pelo poderoso feiticeiro de Mística, chamado Leone, ela era a escolha perfeita para negociar em um lugar repleto de mercenários como aquele.

– Você tem a língua afiada, "caçadora de feitiços" – comentou Marco.

Caçadora de feitiços. Todos os sujeitos que Elisa conhecia e negociava a chamavam assim. Ela não sabia quem lhe dera o apelido, mas tinha noção de que a grande quantidade de feitiços que havia capturado nas últimas semanas estava atraindo uma atenção indevida. Como se não bastasse, seu cabelo volumoso e de coloração acobreada chamava atenção e a transformava em um alvo fácil de ser reconhecido.

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