Capítulo 6

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-Que bom que acordou, eu estava quase tendo um treco.

-O que? - pergunto antes de abrir os olhos e ver Kalil com a mão na minha testa.

Tento me sentar mas ele não permite.

-Preciso me sentar - digo e ele ainda não permite. - Kalil, sei o que devo fazer.

Kalil apenas me encarava de forma diferente, eu nunca havia sido encarada daquela forma... A forma como meu pai olhava para minha mãe no leito de morte, ou a forma que eu provavelmente olhava para o meu pai no leito de morte dele.

-Eu sei o que devo fazer - repito e observo ele soltar meus ombros e me deixar sentar. Pego um graveto com a mão direita e aperto firmemente até ele quebrar no meio, suspiro aliviada e pego outro.

Não consigo quebrar o graveto com a esquerda. Suspiro jogando ele fora e voltando a deitar.

-O que foi isso? - Kalil pergunta.

-Um teste , só ignora - giro com as mãos sobre o rosto ignorando a dor de cabeça persistente.

-Jen... - ele resmunga.

-Ah, incrível. Você inventou um apelido para o meu sobrenome. Será que dá para ser menos meu amigo e mais um cara estranho de um lugar estranho que não é gentil e não cuida de mim para que eu não precise me despedir ? Que droga! Eu não suporto pessoas, não gosto de você e não gosto desse lugar, eu quero ir para casa e minha casa provavelmente é em outra dimensão porque é impossível existir esse tal de Ingramar no meu mundo! Que droga, que droga, que droga!  - berro ainda sem olhar para ele.

Espero que ele rebata e continue a discussão, mas eu não ouvia nada além do barulho da natureza.

Tiro as mãos do rosto e encaro o céu. As estrelas nunca visíveis em Horton. Observo as constelações as quais só conheço na teoria, e a lua... tão bonita quanto nas fotos.

Kalil não fala comigo até o sol dar seus primeiros sinais. O ouvi suspirar e deitar, ele dormiu silenciosamente enquanto eu observava as estrelas e rezava para qualquer Deus reduzisse minha dor de cabeça e estresse. 

-Melhor? - ouço-o resmungar ao ver que estou acordada.

-Uhum - assinto e ele sorri erguendo levemente as mãos para o céus.

-Vamos seguir caminho - Kalil diz.

-Para onde estamos indo, em? - pergunto ficando de pé.

-Há uma casa para moças refugiadas há alguns quilômetros, tenho certeza de que ficará bem e será bem cuidada - ele diz e eu perco o raciocínio por um segundo, mas ele logo retorna.

-Ahm, olha - começo - eu posso seguir caminho sozinha daqui para frente. - Digo tirando a capa vermelha e estendendo-a e sua direção. - Posso encontrar uma forma de voltar para casa, sozinha.

-Não posso deixá-la só, senhorita - ele diz sem pegar a capa.

-Vai fazer isso quando chegarmos, Kalil - respondo e observo-o se mover desconfortável.

-A deixarei em mãos confiáveis - Kalil começa.

-Eu sei o que é uma casa para refugiadas e não vou para uma, vou seguir meu caminho. Cabe a você decidir se vai me acompanhar ou me deixar em paz - digo e ele me encara novamente com aquele olhar.

-Você não pode fazer isso.

-Eu estou fazendo, então se não for pedir demais, não me impeça - digo e jogo a capa por seus ombros e começo a me afastar.

-Jen! - ele tenta e eu finjo não ouvir enquanto caminho.

*

Caminhei muito. Soube que Kalil não me seguia assim que me deparei com um urso comendo um veado. Ele estava distraído demais para me ver então contornei e passei por ele sem problemas.

Pelas Estrelas - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora