Capítulo 3

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Quando minha consciência retorna, não abro os olhos de primeira. A febre me pegara de jeito e eu não lembrava de muita coisa.

Lucca havia me levado para a enfermaria? Eu fora tratada? Quem está pagando a conta do hospital?

Só o que me falta ter mais isso para pagar.

Abro os olhos e olho em volta confusa ao não ver aparelhos ou soro, ou qualquer coisa que ligue o lugar a um hospital...

-Onde estão suas roupas? - ouço alguém falar e levo um susto ao ver uma garota me encarando com os enorme olhos verdes esbugalhados.

-Eu estou de roupa - digo encarando o short jeans branco e a blusa cinza de mangas longas.

-Não, está parcialmente despida... - ela sussurra como se fosse um segredo.

-Moça, eu estou de short - digo e ela nega engolindo seco.

-Uma indecente - a garota resmunga. - Vista isso quando se sentir bem para levantar.

Ela aponta para um vestido amarelo longo junto de um espartilho, como usavam antigamente, e botas.

-Botas e vestido? Um espartilho? Em que século você vive? - pergunto quase rindo.

-Ora, não contamos o tempo - ela resmunga enquanto dobra roupas masculinas.

-Oi?

-O tempo não é contado, não temos dias ou noites, temos o sol e a lua, assim que a lua se fixa no ponto mais alto do céu, devemos estar na cama. E quando o sol está se mostrando devemos estar de pé prontos para iniciar nossos afazeres - ela diz sem me encarar.

-Então eu não tenho ideia de quanto tempo passei dormindo? - resmungo e ela bufa.

-Não foi muito, mas permito-me dizer que as duas luas foram cansativas enquanto você berrava coisas desarrazoada.

-Desa... o que?

-Desarrazoado, sem sentido, insensato, incoerente - ela finalmente me encara. - Além de alienada ainda é burra?

-Eu não sou alienada e nem burra, garota - xingo ficando pé rapidamente e sentido a pressão baixar, me forço a sentar novamente até que minha visão clareie novamente.

-Não quis ofendê-la, não é normal que Kalil traga pessoas estranhamente despidas para a instalação - ela diz.

-O que é Kalil e que instalação? Eu estou em uma pensão? Eu estava na escola...

-Kalil é meu protegido, quase um irmão, não um objeto ou um animal, sugiro que respeite-o, ele salvou sua vida - ela ergue levemente a voz e eu me calo. - Está na instalação dos guardas do castelo, foi encontrada nos campos alados.

-Alados? Campo alados?

-Onde as gramas e árvores se movimentam com leveza, a antiga rainha dera o nome aos campos - ela explica.

-Desculpe? - pergunto confusa.

-Eu a desculpo - a moça suspira.

-Não, significa que eu não entendi. Nós estamos no novo Brasil, Horton, a república foi proclamada em 1889. O novo governo iniciou-se em 2100, após o caos da vacina e as diversas mortes que transformaram a antiga América em Sotare...

-Acho que você é alienada mesmo - ela resmunga e eu fico de pé.

-Eu vou embora - aviso e caminho pisando duro até uma porta cinza de madeira.

-Você não pode - ela diz assustada. - Está despida e ensandecida, não há de se encontrar no mundo de fora.

-Ah, qual é. Mais palavras difíceis, qual o seu problema? - pergunto mais para mim do que a ela.

-Eu sinto muito. Por favor, torne a sentar-se. Kalil e Marias chegarão logo e o almoço logo será servido.

-Marias, não me diz que têm mais de você... - resmungo sentando sem vontade e ela não parece ofendida.

-Eu criei Kalil desde nanico, e Marias é meu marido. Apesar de nenhum de nós termos parentesco somos uma família - a moça diz sentando na cama.

-Ok - suspiro.

-Eu sou Cassidy, aliás - ela sorri tentando ser gentil ao estender a mão par amim.

-Jenkins - aperto de leve.

-Esse é o seu nome? - ela pergunta.

-É como todos me chamam - digo e Cassidy sorri.

-Quero o seu nome.

-Ele é horrível, pode crer que não está perdendo nada - resmungo e ela insiste com o olhar. Reviro os olhos e respondo: - Tellassyn.

-Não é horrendo - ela comenta sem me olhar.

-Você pode rir - digo e ela me encara, e em poucos segundo deixa um ruído muito semelhante a uma risada invadir o quarto.

-Desculpe, seus pais foram muito criativos - ela diz e eu sorrio levemente.

-Foi meu pai que escolheu esse nome. Tenho certeza que mãe nenhuma daria esse nome a um filho...

-Ah, eu gosto de nomes diferentes. São legais - ela diz e solta mais uma risadinha. - Minha cabra se chama Príncia.

-Você tem uma cabra? - pergunto rindo. Antes que ela respondesse me permito bocejar, o sono nunca me deixa em paz.

-Todo mundo tem uma cabra, como haveríamos de fazer queijo, e o leite? - ela diz e eu rio.

-Tem uma bacia, ou um pote? - pergunto ao sentir a bile.

-Aqui - ela coloca uma bacia de ferro em minhas mãos e eu deixo o vômito rasgar minha garganta. Quando acabo, Cassidy pergunta: - Você tem muito isso?

-De vez em sempre - digo e ela sorri tristonha.

-Há algo que eu possa fazer? - ela pergunta ao pegar a bacia e despejar o líquido pela janela.

-Não, obrigada - digo. - Onde você disse que estamos?

-Eu não disse, mas estamos no país de Ingramar, na província de Elroy, a capital - ela diz e eu quase vomito novamente.

-Eu saí do país? - pergunto a mim mesma, isso parecia ridículo.

Levanto e me permito andar um pouco, suficiente ara esbarrar em alguma coisa e derrubar uma tigela de maçãs vermelhas e bonitas.

-Desculpe - digo me abaixando para juntar as frutas.

-Tudo bem - ela diz me ajudando com a bagunça.

-Minha coordenação motora não é das melhores - digo e ela ri.

-Eles chegaram! - Cassidy diz sorrindo mais que o rosto permitia. Ela corre até a porta e a abre indo correndo para o lado de fora.

A luz me incomodou de início, mas logo me acostumei e saí porta a fora.

E ali estavam parados dois homens e dois cavalos.

O primeiro era preto como carvão, tinha lábios grossos e nariz grande. E seus olhos eram escuros assim como o cabelo ralo, ele tinha porte atlético, parecia que fazer academia.

O outro tinha o cabelo castanho e a pele mais clara, quase como a minha e de Cassidy, talvez um pouco mais escura. Seus olhos eram azuis gelo e só reparei que ele me encarava depois de avaliá-lo.

-Ela ainda não se vestiu? - os olhos azuis pergunta e Cassidy o encara.

-Ela está desnorteada, precisa assimilar as coisas - a moça sorri enquanto entra em casa abraçada ao marido, que julgo ser Marias.

-Não sei como vim parar aqui mas é impossível eu ter saído do país por causa da uma febre - digo e todos me encaram perplexos.

-Você estava praticamente morta quando a encontrei - o homem que eu julgava ser Kalil diz.

-Por que não deixou-me morrer? - resmungo emburrada.

-É antiético deixar uma moça em perigo, no perigo - ele diz e eu bufo entrando no chalé.

Ao entrar tenho uma surpresa, Marias e Cassidy estavam parados atrás de sete homens gigantes que me encaravam feio.

-Santa pizza de calabresa - resmungo assustada.

Pelas Estrelas - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora