O Medo que há na Mudança

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Oi, sagradinhes! Sejam bem vindes.
Brotei com o primeiro capítulo dessa minha ideia mirabolante e espero que gostem.

O gelo do inverno sempre me proporcionou uma sensação de conforto incomum para um estado da água, desde pequeno eu tenho uma familiaridade com o gelo e fui incentivado pelos meus pais a não deixar essa familiaridade anuir, eles foram sempre o meu maior incentivo para nunca desistir de tentar. No meu sexto inverno, fui presenteado pela natureza com a descoberta de um olho d'água próximo à minha casa que, durante dois meses inteiros, congelava, uma espessa camada de gelo flutuava por sobre a água e foi ali onde eu descobri que a minha alma residia. Passava horas e horas dos meus dias frios patinando sobre o gelo e vivendo até o último segundo de felicidade genuína enquanto as lâminas de meus patins atravessavam o gelo e o resto do ano, eu passava esperando ansiosamente para voltar a patinar

Um dia, durante meu décimo quarto inverno, um garoto apareceu ao olho d'água com patins nos pés, num dos últimos dias de inverno e me perguntou se eu patinaria com ele. Patinamos juntos e conversamos durante esses dias de inverno que ainda restavam e acabamos criando um afeto um pelo outro, aos poucos, eu percebi que a paixão pelo gelo também pode ser compartilhada com outros tipos de paixões e eu me apaixonei pela primeira vez. Descobrimos coisas um do outro, sonhos, gostos, qualidades e defeitos e eu me apaixonei por cada uma das pequenas características dele.

Depois de três anos conservando uma bela amizade, vendo um ao outro todos os dias, descobrimos que a cidade estava organizando uma competição regional de patinação no gelo para iniciantes em uma arena de patinação afastada da vila em que vivíamos, pedimos permissão aos nossos pais e, depois de passar por tanta burocracia medíocre, fizemos a inscrição os testes de classificação. Preparamos uma coreografia no mesmo lugar em que, antes, apenas patinávamos soltos e criavámos passos aleatórios. Passamos a ir todos os dias depois da aula para o lago e ensaiar. No dia da apresentação de classificação, os jurados decidiram que participaríamos da competição e esse dia ficou marcado como um dos melhores momentos da minha vida porque, no mesmo dia, descobri o gosto do beijo do meu primeiro amor.

Depois de classificados, nossos pais convidaram alguns amigos para comemorarem conosco a nossa conquista na casa dele, um tempo depois de nossos amigos terem voltado para suas casas, ele me chamou até o seu quarto e me pediu para fechar os olhos, quando ele colocou um objeto em minhas mãos eu simplesmente não consegui mais ficar de olhos fechados e abri a caixa, dentro dela havia um par de patins profissionais de cor branca, eu fiquei tão feliz que me joguei em cima dele e acabei derrubando-o mas, ainda assim, ele não me soltou e no fim caímos deitados no chão, abraçados, comigo gritando milhares de obrigado's em uma fração curtíssima de tempo. Foi quando tudo ao meu redor parou e eu me envergonhei pela situação em que estávamos, tentei me desvencilhar de seu abraço mas ele apenas me puxou para mais perto, entrelaçou nossas pernas, puxou meu queixo em sua direção e me deu um beijo, simples mas caloroso, meu primeiro beijo verdadeiro.

O único calor que me fez sentir mais confortável que o gelo foi o calor de seu abraço.

Mesmo com esse acontecimento, as coisas entre nós não mudaram, pelo contrário, ficaram ainda mais intensas e a gente transferiu isso para as coreografias. Competimos com os participantes classificados até chegarmos nas finais, onde competiriamos contra uma garota da cidade grande. Uma menina talentosa mas que carecia de algo que nós dois tínhamos de sobra... Paixão.

Mas nem tudo é como esperamos que seja, o mundo não está preocupado com os seus desejos ou planos, ele apenas os destrói e você não tem direito à escolha. Acabei descobrindo que a mágoa de um abandono é muito mais forte do que uma paixão.

A Beleza Que Há No CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora