Prefácio.

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Densas nuvens de fogo substituíram o céu claro de uma manhã agradável de primavera. Raios vermelhos iluminavam a massa sangrenta de nuvens e os trovões retumbavam sobre a terra, explodindo as planícies próximas com um estrondo ensurdecedor ao atingir o solo, transmitindo assim um som de fundo para a batalha violenta travada no que antes costumava ser um belo campo de flores.

A causadora dessa batalha estava caída de joelhos sobre o terreno irregular, suas roupas internas e externas de uma delicada combinação de amarelo e branco. Os tecidos de suas roupas se espalhavam ao seu redor, fazendo-a parecer uma linda flor que floresceu bravamente em um solo infértil, o que a tornava mais bonita e preciosa aos olhos dos outros, principalmente para os dois belos homens que lutavam um contra o outro, apenas para que um possa chegar a ter o amor da bela jovem de olhos estrelados.

Mesmo que um deles quisesse evitar esse conflito a todo custo.

No entanto, os lindos olhos daquela jovem mulher não estavam nos dois homens que batalhavam ferozmente. Ela olhava para uma bela espada de punho e lâmina negra, a frieza que emanava refletia a personalidade de seu dono e poderia fazer qualquer um especular a quantidade de vidas que aquela mesma espada tirou.

Naquele momento, o mais jovem dos homens foi lançado bruscamente contra o chão, a alguns metros a frente da mulher, e apenas um borrão de seus chamativos cabelos loiros podiam ser vistos. Forçando a parte superior do corpo para cima, o rapaz não pôde evitar tossir ásperamente e um filete de sangue escorreu do canto dos seus lábios por conta das feridas internas, fazendo suas roupas externas serem manchadas com o vermelho de seu sangue e se juntar a poeira que foi levantada do solo.

Uma figura esguia pousou calmamente na frente do rapaz e de costas para a jovem atirada sobre o solo. Suas roupas de tons de cinza e branco balançaram suavemente com o vento que cortou em sua direção, e uma cortina de cabelos negros e finos, como a mais bela e cara seda, pendiam até abaixo dos quadris do homem. Olhos que eram cinzas prateados, anteriormente afiados com zombaria e desdém, agora estavam escuros e vazios quando se direcionaram ao rapaz.

Mesmo assim — mesmo com o vazio desapegado daquelas íris cinzas prateadas — o peso naquele olhar era ainda maior do que qualquer outro que já foi dirigido ao loiro por aquele homem.

"Guarde pelo menos o que resta de sua face, Vossa Alteza. Talvez assim possa se levantar com um pouco de dignidade amanhã."

A voz suave do homem de olhos cinzas arrancou um riso histérico do mais jovem, que jogou a cabeça para trás em uma demonstração exagerada de sua zombaria.

"Dignidade? Quem é você para me falar de algo assim?"

Cuspiu venenosamente, a acusação clara em seu tom. O rosto do homem continuou em branco e isso fez o rapaz estalar a língua em descrença fingida.

"Oh sim, claro! Como pude ser tão ignorante? Você é o poderoso Imortal Wang! O Escolhido dos Céus! Aquele que preferiu continuar a proteger este nosso pobre império ao invés de ascender! Um sacrifício tão formidável para alguém destinado a glória."

As palavras eram cuspidas com total deboche.

"Desculpe. Desculpe-me, oh Grande Imortal Wang. Erro meu esquecer que alguém tão grandioso como você não se importa que a mulher que tentou atacar fosse noiva de um de seus discípulos. Ou até mesmo fosse sua própria discípula. Desde que seja do seu gosto; você acha que nenhuma mulher resistiria, não é mesmo?"

O veneno penetrou mais profundamente nos olhos azuis do rapaz, misturando-se intimamente com o rancor e traição que já estavam lá. O nítido desapego nos olhos cinzas piorou ao ver isso, e apenas aquele olhar faria qualquer um sentir que entrava em um lago congelado, fazendo-os pensar que a morte logo os acolheria.

¹Renascimento: O Vilão Gostaria De Desistir.Onde histórias criam vida. Descubra agora