kenma kozume

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KENMA KOZUME

03.

— O que você quer? — Hitoka perguntou, rude, assim que me viu parado à sua frente, seus olhos cortantes sobre mim.

— Conversar — respondi, seguindo-a para dentro de casa.

— Agora você quer conversar? — seu tom era acerbo, fazendo doer em cada célula do meu corpo — se tivesse que me dizer alguma coisa, deveria ter dito antes.

Suspirei, sentando-me no sofá junto dela, seu corpo afastado de mim alguns centímetros mostrando a sua repulsa.

— Podemos conversar como dois adultos? — supliquei, embora soubesse que não tinha direito algum de lhe pedir isso.

Ela, então, ficou quieta, finalmente abrindo mão da sua postura soberba. Yachi suspirou, seus olhos fechando e abrindo lentamente enquanto suas sobrancelhas relaxavam a expressão endurecida, e como imaginei, ainda não conseguia lidar com o peso que era magoar Hitoka. Embora estivesse disposta a ouvir o que eu tinha para falar, seus olhos não podiam esconder o quanto estava ferida.

Olhando para a imagem de Hitoka, não conseguiria dizer em que momento percebi, porém sempre esteve muito óbvio. O tom da sua voz, o seu sorriso, a forma como seus olhos cintilavam quando Kuroo estava por perto: tudo nela denunciava que estava genuinamente apaixonada.

Os sentimentos de Yachi cresceram proporcionalmente aos meus, todos os dias, gradativamente.

Hoje eu conseguia ver claramente os motivos que fizeram ela se apaixonar por Tetsuro, pois eram os mesmo pela qual eu também me apaixonei.

Via todos os dias Hitoka ao lado de Kuroo sorrindo, a felicidade pura refletida em seu rosto, era impossível não ver o que aquele olhar confessava, e eu a invejava mais do que a qualquer outra pessoa. Hitoka sempre estaria um passo à minha frente pois além de bonita, gentil e inteligente, ela era, principalmente, uma mulher.

Eu amei Kuro primeiro. Repetia a mim mesmo para tentar me convencer de alguma coisa, para tentar validar meus sentimentos.

A primeira vez que magoei Yachi foi quando Kuroo havia roubado o meu primeiro beijo, e continuei a magoando até hoje. A todo toque e beijo, cada vez em que eu acordava na cama de Kuroo, a cada confissão que ele me fazia; magoei Yachi por anos sem que ela nem sequer soubesse.

Queria reivindicar Kuroo, queria dizer a ela que era apenas meu, mas como poderia falar isso para minha própria irmã a qual eu sei que sempre foi apaixonada por ele também?

O que eu poderia dizer à ela que não magoasse ainda mais seu coração?

Levantei os olhos para seu rosto, sabia que ela ainda estava esperando que eu lhe contasse uma mentira que justificasse seu coração ferido, mas se escolhesse poupar Hitoka desse sofrimento, estaria colocando Kuroo para sofrer em seu lugar, e eu estava cansando de ser tão covarde.

— Quando você confessou que estava apaixonada pelo Kuroo naquela noite, eu já o amava muito antes — comecei, sem saber exatamente onde minhas palavras estavam indo, fugindo de seu olhar — Desde sempre.

Quando me atrevi a olhar para ela, o rosto de Yachi estava preso em decepção, mas ela não parecia surpresa. Continuou quieta por uns instantes, perdida em seus próprios pensamentos.

— Sempre foi óbvio — disse mais a si mesma do que a mim, sua voz sussurrada — de alguma maneira eu sempre soube, só não queria enxergar.

— Foi por isso que se afastou de mim?

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