kuroo tetsuro

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KUROO TETSURO

2.

Abri os olhos, os fios loiros de Kenma sendo a primeira imagem que vislumbrei naquela manhã. A respiração dele estava lenta, os cílios tocavam sua pele com um carinho sutil, e alguns de seus fios escorregavam por seu rosto adormecido; inconscientemente levantei uma mão para tocá-lo, quis sentir a textura da sua pele gelada mas hesitei no instante seguinte, lembrando-me das regras que nos regiam, embora eu tenha o tocado durante a noite inteira.

Virei o corpo para o outro lado em uma tentativa infantil de conter meus desejos, meus olhos ardendo pela claridade da manhã, sentindo meu coração apertado dentro do peito. Um par de minutos mais tarde senti o corpo de Kozume se mexer, levantando-se, seu calor deixando o meu corpo junto com sua presença; nunca pensei que uma cama vazia pudesse ser tão angustiante.

O acompanhei andar pelo quarto buscando suas roupas espalhadas pelo chão, as lembranças da noite anterior inundando a minha mente enquanto Kozume continuava a me ignorar. Sentei-me na cama, um suspiro me escapando junto do lençol que escorregou pelo meu torso nu, e Kenma finalmente pareceu me notar: vi o momento em que seus olhos contemplaram os desenhos que ele fizera no meu corpo na noite passada.

Perguntava-me se estava arrependido daquela noite, e me doía saber que a resposta muito provavelmente seria sim.



— Já estou indo — Kenma ainda se importou em me avisar depois de prender os fios do cabelo e parar perto da porta do quarto.

— Eu vou te deixar — disse quando saí do banheiro já vestido, meu cabelo molhado, os fios caindo sobre meus olhos. Quando os olhos de Kenma pousaram sobre a minha imagem, notei sua respiração descompassar, percebendo como eu ainda exercia poder sobre ele, e o quanto eu pateticamente me orgulhava daquilo.

— Vou me encontrar com a Hitoka. Não quero que ela nos veja juntos — me confessou.

Meus olhos fugiram dos seus, o gosto do arrependimento preso à minha língua e as palavras de Yachi me voltando à mente.

Me aproximei cautelosamente de Kenma depois dos segundos que ficamos imersos no silêncio. Notei sua respiração ainda desregulada quando o calor do meu corpo o envolveu. Levantei os dedos, tocando sua orelha direita, o aço do seu único piercing em contato com as minhas digitais. Os olhos dele se fecharam, apreciando o contato, silenciosamente me pedindo por mais.

Curvei o corpo sobre o seu, meus braços o trouxeram para mais próximo de mim e levei meus lábios até sua orelha, deixando um selar afável sobre o local onde estava o piercing, sentindo seu corpo inteiro tremer sob minhas mãos. Desci os beijos para o pescoço, sua pele gelada e seu cheiro me entorpecendo os sentidos, sua pele se aquecendo por onde meus lábios passavam, minha mente transbordando apenas ele.

Senti os dedos de Kenma apertarem minha nuca enquanto os outros desenhavam minhas costas, um pedido desesperado para não me afastar, para não o deixar. Ergui o rosto e nossos olhares se encontraram, e logo notei a tristeza brilhando em seus olhos embora não houvesse pedido algum de socorro. A agonia lhe engolindo solitário. Eu podia ver o quanto Kenma me queria, mas a culpa atormentava seu coração. Aqueles olhos me fazendo lembrar o quanto tudo aquilo era frágil.

Suas mãos ainda tremiam quando se afastou de mim, virando-se de costas e saindo do quarto sem dizer uma palavra, deixando apenas a dúvida se voltaria.

Os dias se passaram de forma sistemática e havia noites em que Kenma aparecia no meu apartamento e na manhã seguinte ia embora como se fôssemos estranhos. Ele me amava a noite inteira e se arrependia pela manhã. A noite era a única em quem ele confiava e a manhã era a minha maior inimiga. Ter Kenma por inteiro agora me parecia um suspiro fraco em meio à uma tempestade infinita.

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