Capítulo 21 - A condenação

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Um tigre pegou Sahira e seguiu o rei para uma pequena depressão na terra, na qual todos se reuniam por algum motivo.

A gata foi largada bruscamente naquela depressão. Ekom anunciou:

-- Pelas leis de Xangô, um condenado por tentativa de regicídio é sentenciado à morte na arena. Precisamos de dois voluntários.

Um leão castanho claro e um tigre musculoso pularam na depressão, debaixo de rugidos de empolgação entre os expectadores. Num momento Sahira ouviu uma voz às suas costas:

-- Eu queria fazer isso. Por que não posso ser eu a executar essa gata?

Ela olhou para Arátor, encarando-a, sentado ao lado de Ekom.

-- Somente cidadãos do meu reino podem se voluntariar. Mas você pode se unir a ela, Arátor.

Com um empurrão, o ligre jogou Arátor para a depressão, e o jaguarundi caiu perto de Sahira. Ele ergueu a cabeça e gritou:

-- O que é isso?!

-- Arátor, não posso confiar em um mercenário, sua lealdade é a quem oferecer mais. Podem começar!

O tigre e o leão flexionaram as garras e exibiram dentes afiados. Sahira engoliu em seco e recuou um passo, sem notar que outro rosto ocupava o lugar de Arátor ao lado do rei.

Sef olhou horrorizado o espetáculo e perguntou a Ekom:

-- O que está acontecendo? Por que minha irmã está aí?

-- Porque a sua querida irmã é uma traidora, pequeno – o ligre respondeu calmamente, sem se desviar do espetáculo – Ela tentou me enganar para que eu me afogasse. Tentativa de regicídio é punida com a morte.

Sef encarou horrorizado o tigre e o leão avançarem em Sahira e Arátor, só para deixarem-nos escapar e depois cerca-los de novo. Brincar com a presa era um hábito comum a todos os felinos. O jovem gato não aguentava olhar.

-- Pare com isso, por favor – implorou a Ekom, que se mantinha calma.

-- É impossível, sua irmã cometeu um crime e terá de pagá-lo – voltou-se para Sef – Mas sinto que você, meu jovem, é mais confiável que ela, afinal você foi honesto e me contou que não conhecia a mágica que procuro. Então você ganhará uma segunda chance.

Ekom encarou Sef com um brilho assustador nos olhos, e ordenou:

-- Você irá para sua casa e terminará seu aprendizado como feiticeiro. Depois voltará para a savana e cumprirá o que eu desejo, me tornando imortal. Se falhar ou se recusar, todo o seu povo terá o mesmo destino de sua irmã.

A essa altura os dois grandes felinos começavam a cansar do jogo de pegar e deixar escapar, e partiam para o verdadeiro ataque.

Sahira conseguia se esquivar do tigre por ser um alvo menor, mas Arátor não tinha a mesma sorte. Num momento o leão o acertou com a pata e o jaguarundi caiu atordoado. O felino de juba pôs as garras para fora e arreganhou os dentes para dar o golpe final.

A gata não suportou ver a cena. Mergulhou e fugiu entre as patas do tigre, seguindo a toda velocidade para o outro lado da arena, onde Arátor estava prestes a receber o golpe.

-- Deixe-o em paz! – gritou pulando o mais alto que conseguia e cravando as pequenas garras no ombro do leão, que só precisou de um simples movimento para se livrar da gata.

Sahira ficou agachada, pronta para dar outro bote, mas Arátor a empurrou para o lado.

-- Não se meta, pirralha, eu me viro sozinho.

Dava para ver que ele estava mentindo, não duraria dois minutos tão machucado, mas ainda assim não se permitiria aceitar a ajuda de Sahira.

A plateia já enjoara das brincadeiras e gritava para os gladiadores porem um fim ao espetáculo.

Sahira e Arátor estavam encurralados pelo tigre e o leão, e cercados pela plateia; as chances de saírem vivos dali era zero.

O tigre foi o primeiro, mostrando seus entes enormes e garras maiores que a pata de Sahira. A gata, como qualquer animal acuado faria, atacou. Mesmo que não resultasse em nada, o orgulho natural dos gatos não deixava que ficassem parados, mesmo que não houvesse chance de escapar. "Morrer lutando" era um dos lemas dos gatos de Bast.

O tigre foi surpreendido pela pequena gata pulando em sua cara e arranhando onde suas diminutas patas alcançassem. É claro que o felino maior se livrou dela com um rápido movimento de cabeça, e mais uma vez Sahira estava no chão, ao lado de Arátor, que a encarava paralisado de incredulidade.

Na queda ela machucou a pata traseira, não conseguiria repetir o ataque. O leão riu da vergonha que o outro passara e tomou a frente, erguendo a pata enorme.

Felizmente, nunca desferiu o golpe.

Um jaguar musculoso apareceu, vindo do nada, e derrubou o leão, enquanto uma onça pulava nas costas do tigre.

A plateia da arena se desfez numa onda de jaguares que avançaram como um só corpo. Do meio das onças saiu um leão que veio na direção de Sahira.

-- Ei, baixinha, que loucura foi essa que você fez?

-- Sirhan! – ela exclamou com alívio.

A Feiticeira de BastOnde histórias criam vida. Descubra agora