Capítulo 1

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3... 2... 1...

Após contagens regressivas, sorrisos e mais mentiras, era tudo o que eu conseguia entregar às câmeras. Mesmo sabendo que meus fãs mereciam mais, mesmo tendo consciência de que eu entrei nessa vida porque eu quis, mesmo dizendo a mim mesmo todos os dias que eu tinha que me esforçar para fazer isso dar certo, eu não conseguia. Diziam que um dia eu me acostumaria com a correria do dia a dia e a rotina pesada do trabalho, e por dois anos eu esperei ter o costume de trabalhar pesado com meu corpo, minha voz e minha mente, mas tudo ainda me cansava demais.

Minhas lamentações não podiam ser ouvidas por ninguém além das paredes grossas do dormitório quando eu me certificava se estava sozinho mesmo, sem câmeras, sem staffs e sem manager, para conseguir desabafar tudo o que sentia com as quatro paredes que pareciam me entender mais do que qualquer outra pessoa.

Não podia exteriorizar minhas dúvidas e fadigas por ter sido avisado anteriormente. Me disseram que seria difícil, disseram que o mundo da fama era cansativo e assustador às vezes, mas eu não liguei. Minha mente jovem apenas pensava no quão bom poderia ser ter reconhecimento por seus talentos, viajar pelo mundo em shows e ouvir uma multidão proclamar seu nome. E então, minha mente jovem e ingênua apenas dizia; “Vamos lá, você consegue! Todo o cansaço vai compensar no final”, e realmente é uma sensação indescritível receber todo o apoio, carinho e dedicação dos fãs, por eles eu faria tudo de novo e de novo, se possível, mas era mais indescritível ainda a sensação de peso em meus ombros, a sensação de não poder errar, não poder passar um dedinho da linha.

Não poder ser um humano.

Meus sorrisos desonestos eram expostos naturalmente com o flash das câmeras. Se eu fosse verdadeiro as pessoas gostariam do meu eu quebrado? O meu eu fragilizado e cansado, temendo não ter mais forças para ficar de pé após horas de coreografias e entrevistas? Meus fãs gostariam que eu não tentasse desesperadamente esconder as olheiras em meus olhos? Se o esgotamento físico ficasse visível em minha pele, eles amariam os tons de roxo em meu corpo? Não.

Precisando de algo que me mantenha firme, eu ainda me penduro ao último fio de esperança de tudo melhorar para conseguir aguentar mais dias. Olho para o lado e vejo um motivo para continuar seguindo meu caminho até a estrada acabar.

Ao fim do dia, apenas ouvindo meu corpo implorar por um descanso e meus olhos quase fechando por eles mesmos, eu ainda escuto aquela voz suave e vejo aqueles olhos perfeitamente desenhados tão cansados quanto os meus, mas com um brilho extra de felicidade e um sorriso em seus lábios. No fim do dia, eu apenas quero me jogar na cama, no sofá, no chão ou do prédio mais alto da cidade, mas quando em encaro profundamente aqueles olhos, minhas energias são renovadas.

HueningKai amava o que fazia. Dava para ver seu rosto iluminado quando estava no palco cantando e dançando, seus olhos brilhavam mais que o céu estrelado dos campos. Ele era radiante quando olhava para os fãs, quando sentia todo o carinho e amor dos fãs, quando era recebido pelos aplausos e torcidas da plateia. Seus olhos brilhavam pelas coisas que ele mais amava, e eu apenas podia sentir-me tão amado e sortudo por ver as estrelas perto de mim quando ele me olha.

– Soobin hyung, – Kai acariciou meu rosto levemente, tendo como meu reflexo inclinar a cabeça para receber mais do toque. – você foi muito bem hoje. – Kai sorriu gentilmente e com suavidade, me passando um pouco de seu conforto. Ele, de algum jeito, me conhecia tão bem ao ponto de perceber o quão mal tenho estado. Sempre sendo gentil comigo e respeitando meu espaço.

Era absurdamente difícil acreditar que alguém como Kai existia, ele não me julgava, tampouco me questionava sobre o que eu preferia não falar. Pelo contrário. Kai sabia ouvir meu silencio.

– Kai... – Segurei em sua mão repousada em minha bochecha e a abaixei, deixando-a entre as minhas. Encarei seus olhos. Cansado, porém feliz.

– Você é incrível, hyung. – Seus olhos brilharam formando a constelação inteira à minha frente. Seu sorriso era pequeno e reconfortante, respeitando o grau de seriedade no ambiente. Eu nunca sabia o que falar, sequer lembrava como se fala, na presença do ser angelical. Kai emanava gentileza e calmaria naturalmente, até em seus gritos de golfinho. – Precisa descansar agora. – Ele me puxou até o dormitório, me deixando em frente à uma das camas. Deu a volta e se deitou nesta, deixando espaço o suficiente para eu me acomodar ali. Sabia que seria uma boa noite por tê-lo ao meu lado.

Quando me acomodei, deixando um espaço considerável entre nossos corpos, Kai me deu aqueles olhos de céu estrelado novamente, tão perto dos meus sem brilho algum... Mas Kai sabia como me consertar, Kai sempre arranja uma solução para tudo, por maior que seja o problema.

Kai aproximou seu rosto do meu, levantando um pouco, sem poder desviar os olhares por qualquer segundo. Ergui meu rosto e colei meus lábios aos seus, sentindo meu corpo e minha mente afundar em algum lugar aconchegante e confortável de se estar.

Sentir os lábios de Kai contra os meus era sempre uma transmissão de paz e calmaria, uma suavidade intensa que me fazia querer mais a cada minuto. Ele era como meu lugar especial onde posso descansar tranquilamente, sabendo que serei protegido e que um dia, quando eu me consertar, também poderei protege-lo.

Abri meus olhos devagar depois de uns segundos do afastamento de Kai, me perdendo novamente em seu brilho único.

– Obrigado por existir. – Grudei nossas testas soltando um sorriso verdadeiro. – Eu te amo, Kai.

– Eu também te amo, hyung.

Countdowns - Sookai / KaibinOnde histórias criam vida. Descubra agora