Countdowns - Sookai / Kaibin

Capítulo 2 - Final

3... 2... 1...

Mais um dia para a conta, eu estava cansado de me esconder.
Esconder meus sentimentos, esconder quem eu sou. Dizer e cantar coisas que eu nunca seria capaz de vivenciar de forma boa não era comigo. Eu nunca soube fingir bem, nunca quis ser ator.

Após quatro meses de namoro com o doce HueningKai, nosso descuido fora grave quando nossos lábios se encostaram levemente e nenhum de nós resolvemos nos afastar rapidamente. Minha mente não processou onde estávamos ou com quem, apenas me senti leve com seu toque sutil e não pude me afastar. Os flashes imediatos quase me cegaram, a confusão de gritos de torcida com barulhos de surpresa me deixara confuso. Em um segundo já estávamos saindo do palco em direção ao camarim, meu braço sendo puxado com esforço para meu corpo se mover. Kai parecia assustado, seu peito subia e descia muito rápido, ele queria chorar. Minha mente ainda processava tudo o que acontecia quando no camarim mesmo todos os staffs se reuniram com caras de medo, preocupação e nervosismo como eu deveria estar. Mas meu coração batia calmamente, estava leve e não sentia nada ruim.

Segundos depois, o manager veio, sua expressão não era nada gentil, e atrás dele, nosso chefe. Minha reverencia aos adultos fora confusa, pois me lembro claramente de como minha cabeça parecia rodar em 360º ao me abaixar. Ao fim recebemos sermões duros e quase gritos sobre como aquilo destruiria nossa carreira e sobre como o grupo estava acabado por nossa causa. As lagrimas de Kai eram silenciosas e frenéticas. Meus ombros pesavam demais. Era toda a culpa que eu sentia.

Naquela noite os staffs não deixaram HueningKai ficar no meu quarto.

Yeonjun tentou me acalmar dizendo que tudo ficaria bem e que explicariam a situação para o mundo, mas eu sequer estava nervoso com isso. Eu não dava a mínima para a carreira, apenas queria ver HueningKai, saber se ele ficaria bem e abraça-lo dizendo as mesmas palavras de Yeonjun para ele.

Naquela noite, em minha conta secreta do twitter, vi meu nome nos trending topics mundiais junto ao de Huening e uma hastag de algo como Sookai. Contas de fofocas inventavam coisas mirabolantes, algumas pessoas postavam a foto, outras apenas comentavam que aquilo era nojento e errado de todas as formas. Fãs do ocidente prestavam apoio e diziam que não era errado amar. Bandeiras coloridas eram postas junto à foto. O twitter oficial do Tomorrow By Together ainda não havia se pronunciado e fãs preconceituosos e raivosos cobravam um posicionamento da empresa. Suspirei pesadamente.

Era cansativo.

No dia seguinte os sites de fofoca ferviam com as teorias, com fotos antigas minha com HueningKai apontando os sinais sobre sermos um casal real e termos escondido aquilo por muito tempo. Diziam coisas que nem mesmo eu sabia sobre mim e HueningKai.

No almoço com os membros, dessa vez sem câmeras apontadas para nossos rostos em todo o tempo, todos pareciam abalados e eu sabia que era pela possibilidade do grupo acabar. De certa forma eu me sentia o grande culpado por tudo aquilo, por causar medo e tristeza nos meus amigos e por Kai sequer olhar para mim direito. Minha garganta fechava quando tentava engolir, eu lutava para a comida continuar fazendo sua rota natural e não voltar, mas me sentia ansioso.

Taehyun viu minha inquietação, seu olhar era firme sobre mim, me fazendo procurar raiva ou decepção, mas ele não parecia estar chateado. Ele queria me dizer algo.

Horas depois, sozinho no dormitório, Taehyun veio à mim. Disse que tudo estava bem e que eu não havia feito nada errado, que o amor dos membros não fora influenciado por isso e que mesmo que nos separemos, o grupo continuaria em nossos corações. Eu não consegui segurar as lagrimas. Era tudo um pouco além de demais para mim, me sentia cansado e frustrado.

Foram semanas árduas para a empresa cobrir o escândalo até a poeira abaixar. Os staffs eram rigorosos com nossa aproximação em público. Demos uma pausa nas saídas e eu tornei a ficar mais nos dormitórios, apenas revirando em minha mente os olhos de Kai. Não estavam estrelados, não brilhavam para mim como aquela constelação linda, ao contrário; suas olheiras, quando estava sem maquiagem, deixavam seus olhos mais opacos do que já estavam e quando brilhavam, eu sabia que eram lagrimas que ele não ousava deixar cair.

Eu não estava tão melhor que ele, era visível o quão abatido tudo aquilo havia nos deixado, todo o grupo estava abalado e o pior era saber que era minha culpa. Saber que não fui um líder competente, saber que fui responsável pela nossa caída nos rankings de acessos, deslikes no youtube e unfollow em redes sociais. Eu estraguei nosso nome.

Um mês depois, tudo o que eu queria era o olhar estrelado de Kai para mim novamente, fazendo-me sentir bem comigo mesmo e menos cansado de tudo.

Em dois meses as pessoas ainda não haviam esquecido, mas estavam mais flexíveis ao nos ver sempre separados e sem muita interação. As pessoas pareciam satisfeitas com isso, satisfeitas com a minha infelicidade.
Em quatro meses, era o final de ano. Eu já não tinha esperança alguma sobre nada. Eu vivia no piloto automático, lançando sorrisos falsos e desgastantes para as câmeras, falando sobre o quão feliz eu me sentia em uma nova etapa da minha vida, que foi o novo álbum que nos colocou no topo novamente, e cantando sobre amores e amizades em vão. Minha vida se tornou um constante juramento e promessa de dedinho, onde eu sempre mentia e descumpria.

No novo ano tudo aconteceu tão rápido. Tudo se construíra muito rápido tanto quanto desmoronou. Uma hastag com Sookai vagava e subia pelo twitter, aquela foto estava em todo o lugar novamente, com bandeiras coloridas e diferentes línguas diziam mensagens de apoio espalhadas por todo o twitter. Idolos se manifestavam a favor, outros apenas demonstravam ser contra os comentários maldosos lançados à nós naquela época. Fãs de todos os países e culturas se manifestavam em suporte e anuência.

Fotos minhas flagradas sem o sorriso forçado e de Kai parecendo tão menos alegre, foram comparadas com nossas antigas fotos em que sorríamos com genuinidade para as câmeras. Vídeos antigos de um HueningKai risonho e barulhento eram comparados com entrevistas recentes onde ele estava mais sério e sorrisos esporádicos e falsos surgiam em seu rosto.

Bandeiras coloridas eram postas com orgulhos pelos fãs em nosso apoio. Rolei toda a tela encontrando textos e threads sobre como e porque não era errado amar alguém. Quando desci mais um pouco, um texto em si me chamou atenção. Holland cobrava um posicionamento da empresa sobre nosso bem-estar e nossa felicidade, e um grande texto nos apoiando.

Depois de alguns minutos vendo mais algumas postagens, a da empresa apareceu quando a tela atualizou. Era um pronunciamento oficial demonstrando apoio e “permitindo” nosso relacionamento.

Meus olhos encheram de lagrimas involuntárias quando HueningKai entrou no quarto com um grande sorriso no rosto e seu celular na mão.

Seus olhos eram marcados com tons escuros embaixo e sua aparência era cansada, mas seu sorriso crescia à mesma medida em que se aproximava de mim. Não tive tempo de verificar se seus olhos estavam estrelados para mim novamente, Kai chocou seu corpo contra o meu e me rodeou com seus braços soltando soluços altos e barulhos de choro. Ao sentir suas lagrimas, não pude tentar me conter, meu choro veio livremente enquanto um sorriso verdadeiro se fixava em rosto. Deixamos transparecer toda a saudade, toda a dor e angustia, tudo aquilo que guardamos e nos privamos de demonstrar por um ano inteiro, mas meu coração não conseguia se apertar mais. Este estava leve novamente, batendo forte e aquecido ao sentir o abraço dele de novo.

Do andar debaixo dava para ouvir nossos soluços e choros altos, pondo para fora tudo de ruim que sentíamos.

Eu acariciava seus cabelos em uma tentativa de o acalmar. Staffs chegaram e staffs saíram, eles entenderam que não conseguiria nos soltar um do outro ali.

Vinte e dois de fevereiro de dois mil e vinte e um, nosso comeback foi marcado por bandeiras de orgulho LGBT+ sendo levantadas e sacudidas com euforia e orgulho. Nossos rostos estampavam os sites e nossos nomes estavam em todo o lugar. Estávamos radiantes novamente, nossos sorrisos, principalmente meu, se tornaram verdadeiros. Fãs gritavam loucamente com qualquer pequena interação nossa e os staffs não conseguiam nos separar por nada.

Em dois mil e vinte e três, eu não sabia como e nem porquê, mas a mão de HueningKai foi concedida a mim para todo o sempre ao dizermos “eu aceito” naquele pequeno e simples altar, onde um simples encostar dos nossos lábios, que foi o motivo de um desastre antes, se tornou o motivo de alegria e comemoração das pessoas presentes na pequena capela. Nosso amor foi eternizado e hoje eu sou o homem mais feliz do mundo por ter aqueles olhos de estrelas só para mim e poder sentir todo o amor naquele universo brilhando em seus orbes.

Hoje sou feliz por poder gritar para o mundo, ou poder sussurrar em seu ouvido:

– Eu te amo, Kai.