Olhos de águia

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Tathá nunca foi uma garota de muitas palavras. Talvez seja por isso que ela acabou presenciando tantas cenas ruins em toda sua vida.

Durante a adolescência, levou seus olhos de águia para o lado negro da coisa. As gangues pagavam muito dinheiro a ela para que ficasse de olho na movimentação da polícia no bairro. Tathá foi parar no reformatório após ser pega aos beijos com um bandidinho qualquer. Mas ela não ligava. Sabia que nada daquilo era digno de sua pessoa. Nem o lugar, nem ninguém ali. Então foi transferida para um manicômio. E foi aí o primeiro erro da polícia.

Tathá também era uma ótima atriz, e fingir um surto psicótico foi a coisa mais fácil. Quando estava sendo retirada de lá com uma camisa de força, foi usando em cada centímetro do local sua memória fotográfica, e decorou o caminho caso um dia precisasse voltar.

O problema é que ela não sabia que estavam agindo por ela, que não estava só. Bastou botar o pé fora da prisão e ser guiada para o carro da clínica que um bando de cinco homens e duas mulheres apareceram fortemente armados.

-Se mexer um fio de cabelo vira peneira ! Sem piedade - a voz feminina ao meu lado aponta a arma para a cabeça do primeiro policial.

-Olha vocês estão cercados ...aqui é o nosso território - o policial a minha frente diz rendido por um rapaz.

-Só que os de dentro estão presos lá e vocês não podem entrar - uma menina de longos cabelos lisos tira o capuz e a máscara - foda-se.

Seus olhos dissimulados brilharam junto com o sorriso. Ela não parecia ser tão perigosa. Parecia ser uma garotinha indefesa, a julgar pelo tamanho e a franja delicada.

-Muito bem ! - a outra ao meu lado sorriu vendo os policiais me soltarem.

Fui andando até o carro onde me mandaram ir. Durante meu trajeto, percebi algo que minha equipe de resgate não percebeu. Um rapaz no volante olhou para mim pelo retrovisor, tirou o cigarro que pendia em seus lábios, e fez um sinal com a mão para que eu entrasse logo.

-Você tem mesmo olhos de águia - ele ri enquanto adentro o carro e sento ao lado dele.

-Eles sabem disso ? - pergunto observando melhor o rapaz.

Um loiro alto, magro porém com músculos visíveis. Tatuagens percorriam todo o seu corpo,mas eram indecifráveis no escuro. Seus olhos verdes analisaram cada centímetro do meu corpo me causando arrepios violentos.

As meninas entraram a mandaram o rapaz dar no pé. Deixando os garotos para trás. Acho que elas os levaram como sacrifícios vivos.

-Eu sou a Marrí ela é a Andy - a garota fofinha estendeu a mão para mim.

-Sou a Tathá - elas acenam com a cabeça e o rapaz sorri gentil para mim.

-E eu o Rick - o sorriso de covinhas se iluminava conforme passávamos pelos postes de luz elétrica nas ruas.

-Você mandou vocês ... Quem foi ? - cruzo os braços e eles parecem cada vez mais relaxados entre si.

-Clyde bateu na prisão ... Ele quer que você fique de olho na dama dele - Rick não tirava os olhos da estrada.

-Não faço mais serviço pra ele - viro o rosto para a janela do carro.

-Ele só quer seus olhos e em troca te da casa, salário e duas seguranças - apontou com o polegar as duas meninas lá atrás.

-Quanto ? - ponho a mão no queixo e o cotovelo em cima do outro braço fazendo meu apoio.

-Dez .. - a garota de capuz começou a tirar seu disfarce.

Ela tinha os cabelos verde musgo, lisos e um piercing no lábio inferior.

-Mil ? - pergunto levantando as sobrancelhas.

-Por mês .. pegar ou largar - a tal Marrí agora amarrava os cabelos e tirava a roupa.

-Ta ... Eu topo - reviro os olhos dando uma conferida no motorista bonitão.

Apesar de Marrí e a garota do cabelo verde estarem se trocando lá atrás, eu sentia o olhar dele em mim. Então, fui obrigada a encarar de volta. E ficamos assim durante toda a viagem, até chegarmos em um prédio no mínimo precário.

Fui apresentada a Myla que era quem eu deveria vigiar, e acabei dividindo um apê minúsculo com as duas doidas. Aprendi a conviver melhor do que eu imaginava com minhas " seguranças". E quanto ao Rick ...

_ Dias atuais

-Oi amor, como é que tá aí ? - Marrí ouvia Tathá melosa com o celular no ouvido.

-Ecaaaaa odeio vocês dois - Marrí gritava arrancando risadas de ambos.

-Rick te mandou um beijo - Tathá estava radiante como todas as vezes em que ele ligava.

-Estamos em missão Rick ! - dessa vez Andy gritava se aproximando das duas.

-É amor, ela e a Myla estão se pegando - foi o suficiente para Andy revirar os olhos.

-Tua cara ! Conta pra ele do bebê - Marrí cai na risada.

-Que bebê, amor ? - A voz de Rick estava confusa e um pouco exaltada.

-Nenhum ! Elas tão te zoando - Tathá foi andando para longe dali e se despediu do namorado.

A um tempo atrás ela jamais imaginaria que as garotas formariam um verdadeiro bando de justiceiras. Ela embarcou nessa para se manter e ficar longe da cadeia, mas acabou por encontrar em pessoas totalmente desajustadas um lugar para chamar de lar. O que era minimamente estranho. Tinha um namorado bonitão que era motorista de fuga. Ainda era conhecida por ver coisas que ninguém mais via. A grande diferença era que agora ela confiava nas pessoas, e foi graças a essas meninas que tudo mudou de um jeito tão bom.

Observou a baderna naquele quarto de motel sujo. Loris pulava nas costas de Madá, e a brincadeira era quem cairia primeiro depois de tanto rodar. Myla agora estava deitada com a cabeça no colo de Andy e Marrí sorria para Madá que caiu com tudo na cama.

-Empate ! - Decretou a rodada se jogando sobre Loris causando uma briga de verdade.

Aquelas duas não se toleravam. Entre puxões de cabelo e xingamentos, Tathá viu que existia sentimento ali. E por passar os olhos de menina a menina se sentiu tão satisfeita. Era sua família ... E estavam em missão com tudo sobre controle. Eram perigosas espertas e destemidas. O que poderia dar errado ?

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⏰ Última atualização: Jan 25, 2021 ⏰

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