Árvore e Galho

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            A fogueira crepitava em meio à clareira, enquanto as chamas débeis pouco faziam para afastar a escuridão da noite sem lua. A primeira neve do ano caía levemente sobre os galhos dos pinheiros, depositando um cobertor branco sobre a floresta. Zarlom tentava da melhor forma que podia se aquecer junto ao fogo, uma tarefa ingrata, já que haviam pegado chuva por boa parte do dia e da noite, deixando-o encharcado até os ossos.

 - Não se preocupe comandante, um pouco de neve é sempre melhor do que chuva gelada, antes que perceba estaremos secos e confortáveis - disse o velho Jacobos, o mais experiente soldado do punho – Isto é, se não congelarmos antes – completou, com uma risada sem humor.

Zarlom simplesmente olhou para ele e absteve-se de responder. Ele era um comandante jovem, extremamente jovem, e Jacobos havia sido de grande ajuda em aumentar sua popularidade entre os demais soldados, mas ele não estava no clima para as brincadeiras do velho. Tudo que ele queria era se esquentar e enfiar-se em seu saco de dormir, para que para que pudessem chegar às montanhas Bael'Tad o quanto antes.

Esta era sua primeira missão como um membro honorário do Conclave de Ferro, e deveria encabeçar um punho de soldados do Malleus Aemulare em uma viajem até a longínqua montanha dos anões, e mediar a negociação entre estes e uma aldeia de camponeses que havia começado a prospectar minérios em seu território. Zarlom estava muito mais interessado em se dirigir à zona de guerra e matar alguns peles-verdes, mas uma missão diplomática bem-sucedida seria melhor vista por seus superiores e tinha mais chance de alavancar sua carreira.

- Quais são suar ordens, comandante? – Perguntou Polegar, o único recruta do grupo, e também o único que respeitava plenamente a autoridade de Zarlom, talvez por não ter servido no Malleus por tempo suficiente para desenvolver o ressentimento recorrente que os soldados sentiam pelos membros do Conclave.

- Pode se sentar aqui e se aquecer no fogo, logo mais iniciaremos a vigília e você pode ficar com a primeira escala. Depois disso faremos turnos até o nascer do sol.

O garoto então sentou-se em um toco ao lado dos demais soldados, que começavam a preparar o jantar. O cardápio seria um ensopado de grãos com carne seca, comida de campanha, mas saborosa mesmo assim. A maioria dos viajantes estaria receosa de preparar comida sobre um fogo aberto em meio à floresta selvagem de Ardon, mas eles eram guerreiros, e saberiam como lidar com animais selvagens caso se aproximassem demais.

Sem pensar muito, Zarlom sacou sua espada e começou a afiá-la, com movimentos longos e metódicos de sua pedra porosa. "Cuide bem de seu equipamento e ele cuidará de você" era o que dizia Sir Stefan, seu padrinho nos tempos do Priorado, e ele levava essa regra como um mantra, e mantinha sua espada sempre afiada e sua armadura sempre polida.

- Então Jacobos, com que história irá nos entreter hoje? – Inquiriu Halsted, um dos veteranos do grupo e o que mais dera trabalho a Zarlom devido a sua impertinência e desobediência.

- Estava pensando em contar algo sobre a mitologia dos anões, afinal estamos indo para seu território, e seria sábio entender melhor a cultura local para facilitar as negociações - respondeu o velho.

Havia se tornado uma tradição do grupo em suas pouco mais de duas semanas de viagem sentar-se ao redor da fogueira e escutar as histórias do velho à noite. Jacobos nunca daria certo como bardo ou trovador, mas havia viajado por toda parte em nome do Malleus, e certamente conhecia contos e lendas de todas as terras do continente, desde os mitos de criação dos anões até as sagas heroicas dos povos do norte. E o grupo era agradecido por isso, pois assim ficava mais fácil esquecer a dor na sola dos pés e o tédio trazido pela paisagem monótona.

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