Crepúsculo em Nova York pt.1

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A moto chamuscada rasgava as pequenas ruas da Tompkins Square.

O tom alaranjado das árvores estava deslumbrante devido à luz que ainda restava. Era estranho ainda sentir atração pela beleza do dia.

O homem estava coberto da cabeça aos pés contra o que restava do sol. Usava o capacete liso e preto, sua marca registrada. Uma bandana do nariz à garganta como faziam os bandidos do Velho Oeste. Usava os óculos apertados contra o rosto para proteger a vista dos raios e do vento. A jaqueta de couro de seu pai, com espinhos que saltavam dos ombros e alguns adesivos próximo a cintura, era escura como a noite como as botas e calças que vestia. A camiseta roxa, ele dizia, era estilo.

Já era quase noite e, em breve, seria incapaz de encontrá-lo. Por isso, parou o veículo ao lado de um dos banquinhos e procurou por todos os cantos. Avistara apenas um espécie de coreto de pedra. E então, teve uma ideia.

Deu alguns passos para trás e pousou sobre a estrutura. Pôs um braço em volta da estátua e flertou os dedos sobre o seu queixo. Abaixou o pano do rosto e os óculos e cerrou os olhos para aguçar o sentido. Como um farol, vasculhou de uma ponta a outra da cidade. Mas apenas quando olhou além do parque, por entre os prédios, avistou o contato de sobretudo e chapéu cinza a cinco quilômetros de distância.

"Aquele sacana... I will make him pay!", disse ao arremessar o capacete contra o chão.

Quando o objeto bateu oco contra o parque, um penteado levantou como um mastro pontiagudo e porco-espinhento que reluziu e ardeu contra a luz do poente.

* * *

Eles eram atiradores de elite de impaciência tão incontestável quanto sua precisão.

"Não tem como superar isso", ele disse com um sorriso debochado. "Tem pelo menos 3 metros entre cada andar".

Ambos contemplavam o guarda de óculos enormes e assustados no prédio à frente. Ele tentava encontrar o pequeno buraco no vidro do andar abaixo dele, esfregando a barba rala e tomando goles da caneca.

Estava a oito andares dos turistas da Times Square, e a dupla risonha apenas a dois. O homem que acertou a janela tinha cabelos pretos lisos, dentes tortos e escuros, mas uma aparência pálida sob o couro que usava da cabeça aos pés. A cabeça da mulher era lisa e seu rosto continha um único piercing na sobrancelha, vestia calças rasgadas nos joelhos e casacos de camuflagem verde musgo.

O homem fez uma mesura cheia de floreios com um taco de golfe na mão, indicando os outros que estavam enfileirados na parede.

Sem dizer nada, ela suspirou e apanhou duas bolas coloridas na caixa com as palavras DYKER BEACH GOLF COURSE. "Você escolhe", disse sem tirar os olhos dele. "Janela de cima ou debaixo?", e tomou o objeto de sua mão.

Ele fez um muxoxo de cara virada, espiando de canto de olho, a cara como se tivessem desrespeitado sua mãe.

A garota se aproximou da janela, onde um prego estava fincado ao piso. Posicionou uma das bolas sobre a cabeça chapada e depositou a outra bola sobre o chão atrás. A garota ficou inerte como uma estátua, e então seu corpo se moveu como um pêndulo. Primeiro para trás. Em seguida, para trás. E repetidas vezes até que, de repente, via-se apenas um ponto em direção ao céu e o taco rodopiando até a calçada.

"Rá!", o homem debochou com um sorriso. Mas quanto mais a bola subia, mais seu riso se desfazia.

Após um instante, o alarme de um carro disparou.

Alguns andares acima no outro prédio, a caneca espatifou entre os dedos do guarda, que quase atravessou caiu da janela em desespero. Olhava todos os lados do prédio, até que enfim avistou os arruaceiros rindo da sua cara.

Então, ele levou a mão ao coldre, hesitou, e sumiu de vista.

A dupla se entreolhou. A mulher tirou uma moeda do bolso da jaqueta, jogou contra as costas da mão e ambos aguardaram.

O tráfego de Nova York pode ser algo complicado. Não tão complicado quanto uma cirurgia, mas tão irritante quanto uma enxaqueca. Por isso, o segurança do outro prédio deveria ter levado pelo menos quinze minutos para atravessar as faixas de pedestre e, com alguma sorte, subir pelo elevador.

Foi uma surpresa para ambos quando bateram contra a porta. Eles se entreolharam novamente. A mulher permaneceu onde estava. Com a ponta dos dedos, desembalou a moeda de chocolate e a tocou para sentir a superfície. Então, a pôs sobre a língua como uma hóstia e fechou os olhos.

O homem de couro pegou um dos tacos e disparou em direção à porta, gritando "C'mon kids".

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⏰ Última atualização: Jan 24, 2021 ⏰

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