18. E agora, para não falar aqui da caridade de Deus, quem não encontraria na contemplação da Virgem Imaculada um incitamento a guardar religiosamente aquele preceito que Jesus Cristo fez seu por excelência, a saber: que nos amemos mutuamente como Ele nos amou? — E apareceu no céu um grande sinal — é nestes termos que o apóstolo S. João nos pinta uma visão divina — uma mulher vestida do sol, que tinha a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça (Apoc. 12, 1). Ora, ninguém ignora que essa mulher prefigura a Virgem Maria, que, sem violentar sua integridade, engendrou nossa Cabeça. E o Apóstolo continua: E, estando grávida, clamava com dores de parto e sofria tormentos para dar à luz (Apo. 12, 2). Por conseguinte, S. João vislumbra a Santíssima Mãe de Deus no seio da eterna beatitude e não obstante sofrendo as dores de um misterioso parto. Qual era, porém, este parto? Por certo o nosso, pois que, retidos ainda neste degredo, carecemos de nascer para o perfeito amor de Deus e a felicidade eterna. As dores do parto nos estão a demonstrar o amor ardente com que Maria zela e trabalha, lá do céu, por suas preces incessantes, a fim de levar o número dos eleitos à sua plenitude.
19. É Nosso desejo que todos os fiéis se esforcem por adquirir esta virtude da caridade, valendo-se sobretudo para tal fim das festas que vão celebrar em honra da Conceição Imaculada de Maria. Com que furor, com que assanhamento se ataca, em nossos dias, Jesus Cristo e a religião por Ele fundada! Que perigo, pois, atual e ameaçador, de muitos se deixarem levar pelas correntes invasoras do erro e perderem a fé! Logo, quem pensar estar de pé, veja que não caia! (I Cor 10, 12). Que todos, portanto, com o patrocínio de Maria, dirijam a Deus humildes e ferventes preces, a fim de que Ele reconduza ao caminho da verdade os que tiveram a desdita de se transviarem das suas veredas. Sabemos por experiência jamais ter sido vã a prece que brotasse da caridade e que se apoiasse na intercessão de Maria. Não resta dúvida, os ataques desferidos contra a Igreja jamais se darão tréguas, pois é necessário que haja heresias, para que os aprovados entre vós sejam manifestos (I Cor 11, 19). Mas a Virgem não deixará, por sua vez, de nos dar alento em nossas provações, por mais duras que forem, e de levar avante a luta que começou desde sua conceição, de maneira que diariamente podemos repetir estas palavras: Hoje ela esmagou a cabeça da antiga serpente (Off. Imm. Conc. in II Vesp., ad Magnificat).
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Ad Diem Illum - Papa Pio X (Coleção Documentos da Santa Igreja Católica)
EspiritualAd diem illum laetissimum é uma encíclica do Papa Pio X, sobre a Imaculada Conceição, datada de 2 de fevereiro de 1904, no primeiro ano de seu pontificado. É emitido em comemoração aos cinquenta anos do dogma da Imaculada Conceição.