Perséfone olhava o resultado do exame de tomografia que estava lacrado em cima da escrivaninha no seu quarto. Desde que voltou com o pequeno envelope do consultório particular a mais de uma semana atrás, se recusava a abri-lo. Pensava no que poderia ver quando abrisse ele. Seu receio era ver algo ruim. Várias vezes se pegou pensando no resultado em que estaria em estágio terminal, e morreria daqui a cinco dias. Mas sempre que se pegava pensando nessas coisas chacoalhava a cabeça para afastar os pensamentos ruins. Ela odiava o câncer. Se pudesse encontrar uma cura para o sofrimento de todas as pessoas da terra.
Desviou o olhar do papel e observou a foto de quando era criança em um porta retrato, um sorriso enorme estampado nos lábios. Crescer num orfanato não foi nada fácil, mas ela aguentou firme, mesmo quando Grace Smith a garota mais malvada do orfanato disse que ela nunca seria adotada por causa de sua cor. A princípio ela não entendeu, mas com o passar dos anos viu que infelizmente Grace talvez tivesse razão. Mesmo sendo uma mulher independente, com casa e empresa própria, algumas pessoas do seu bairro ainda a encaravam com indiferença. Mas o que mais doeu mesmo nesses longos anos foi não ter conhecido sua mãe ou pelo menos saber o nome do pai. Sempre admirou calada alguns pais com seus filhos brincando no upgraded da Praça perto da sua casa, eles teriam um futuro maravilhoso.
Com o passar do tempo se acostumou e se conformou com a vida solitária que tinha, era ela, somente ela, nada mais que ela.
Pegou o pequeno urso de pelúcia marrom da mesa iluminado pelo feixe de luz do abajur. Ted era seu nome, ele foi seu primeiro brinquedinho de infância que ganhou de alguém que ela não mais recordava. Sorriu e abraçou ele sentindo uma sensação incrível, parecia magia como ela se sentia melhor depois daquilo.
Fazia mais de quatro meses que Perséfone vinha se sentindo doente, às vezes ficava tonta, e fraca, e uma única vez jurou ter cuspido sangue."Isso pode ser câncer" foi a primeira coisa que pensou. Talvez fosse seus medos internos, ou apenas lembranças passadas que adoraria esquecer. Ela não sabia nada sobre a mãe, até uma vez ouvir as noviças, mulheres mais velhas que usavam vestidos até o pé e a cabeça adornada com tecido branco comentarem que sua mãe havia morrido de câncer. Depois de ouvir escondida a conversa das irmãs ela começou sua procura implacável por informações a respeito de sua mãe, com isso invadiu locais proibidos para criancinhas da idade dela. Em locais como aquele, ela encontrava muitas papeladas e pilhas de documentos e arquivos empoeirados, quase todos em gavetas cheias de teias de aranhas. Mas um dia ela encontrou o que procurava, sua ficha, lá estava a data de seu nascimento e outras informações como seu nome completo e da sua mãe, uma mulher muito bonita, percebeu quando viu a pequena foto preta e branca manchada no documento. Era uma mulher de pele negra, sorriso largo e cabelos crespos. Chorou até não haver mais lágrimas, e naquele dia foi o primeiro e único dia que pegou algo que não era seu. Guardava com carinho a foto da mãe no peito em um pingente de prata em forma de coração. Não havia informações a respeito de seu pai.
Procurou em outros locais mas nada encontrou, bastava ela saber que ele existia e podia estar vivo em qualquer parte do mundo.
Perséfone pegou o envelope da mesa e guardou na gaveta da escrivaninha, levantou e se jogou na cama. Iria abri-lo um outro dia.
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A Rosa de Hades
FantasíaHades levantou de seu trono de sombras com fúria e ira. Hermes e seus soldados não foram capazes de roubar e guiar a alma de uma fraca semideusa condenada à morte ao submundo. A jovem Perséfone cheia de vida e sonhos recebe a visita de um belo homem...